(Fotografia: © ASO/Alex Broadway) |
This is what the yellow jersey means .... watch as @TeamINEOS's @Eganbernal breaks down in tears during his TV interview after taking the overall lead of the Tour de France 🎥#TDF2019 #CiclismoColombiano pic.twitter.com/2WMoh5cszk— Velon CC (@VelonCC) July 26, 2019
Um Bernal que sempre demonstrou tanta tranquilidade, sabendo gerir bem as emoções em fases tensas de corrida, seja como gregário ou como líder, vai ter um sábado de nervos. "Só quero passar amanhã e chegar a Paris", disse entre muitas lágrimas. Será pedir muito?
Aos 22 anos, Egan Bernal está tão perto de cumprir o destino. Ganhar a Volta a França parecia ser uma questão de tempo. Desde que chegou à Ineos em 2018 que se falava quando ganhará e não se ganhará. Não era o plano para 2019. Afinal era o Giro o seu objectivo, mas uma queda afastou-o da prova dias antes do seu arranque. Uma queda que poderá ter precipitado um momento histórico. No Tour iria para ajudar Chris Froome. No entanto, mais uma queda tirou um líder da Ineos de uma grande volta. Geraint Thomas tem o número um, mas não conseguiu reunir nem a crença, nem a atenção de uma maioria que olhava para Bernal como o ciclista principal da equipa britânica. Olhava para ele como o vencedor.
Quando se fala de talento, Bernal é um dos melhores exemplos. Junta-se a isso a dedicação e trabalho para desenvolver esse talento e ter o apoio de uma das melhores equipas do mundo (ainda a melhor no que diz respeito a grandes voltas) e não nunca demoraria muito a Bernal começar a ganhar nos maiores palcos. E no maior palco: o Tour.
Ainda não ganhou. Não se festeje antes de tempo. Um último momento de nervosismo no Tour aguarda Bernal e toda uma Colômbia. Basta ver o que aconteceu a Thibaut Pinot. Num instante, o melhor Tour da sua carreira terminou em lágrimas, estas de uma desilusão profunda. Uma ruptura muscular na coxa acabou com um sonho que poderia ter-se tornado realidade, mas nunca o saberemos: finalmente um francês ganhar o Tour e acabar com o jejum de mais de 30 anos. A espera continua...
Esperava-se uma etapa intensa, com muito espectáculo, pois era bem ao estilo do que já se assistiu de melhor na Vuelta. Poucos quilómetros, 126,5 quilómetros, com constante sobe e desce, uma categoria especial como o Col de l'Iseran, antes de uma última dificuldade mais curta, mas que tinha pouco ou nada de fácil. Foi tudo o que se esperava e um pouco mais, que era desnecessário.
A meteorologia adversa confirmou-se e a intensa chuva, que foi acompanhada com queda de granizo, contribuiu para um deslizamento de terra que deixou a subida para a meta impossível de se fazer (as impressionantes imagens podem ser vistas no vídeo do resumo da etapa no final do texto). Os ciclistas já desciam rumo ao local à subida para Tignes, quando a organização mando parar. Ninguém ficou contente até perceberem a gravidade da situação. Não havia outra opção. Os tempos para a classificação geral foram contabilizados no Col de l'Iseran, onde Bernal passou em primeiro. Mas não foi o vencedor da etapa. A decisão passou por não ser atribuída classificação na tirada, o que significa que ninguém beneficiou de segundos de bonificação.
Bernal parecia ir a caminho de uma etapa para não mais esquecer. Certamente que ficará na sua memória na mesma, mas merecia ter tido a oportunidade de cortar a meta e saborear o momento, mesmo que Simon Yates (Mitchelton-Scott) eventualmente aguentasse o ritmo do colombiano e ganhasse a etapa.
Mas a amarela é de Bernal. Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) desta feita cedeu. Será uma das figuras do Tour, mas agora passa o foco para o colombiano. A neutralização da etapa até o ajudou, pois a diferença para Bernal ficou-se nos 45 segundos e manteve-se no pódio. Porém, Alaphilippe admitiu que não se vê a ainda discutir a vitória e percebe-se porquê ao se olhar para a etapa de montanha que falta. Não tem nada a perder e até poderá tentar, mas também poderá apostar antes em garantir um merecido lugar no pódio de Paris. A missão não será fácil, contudo, depois de tudo o que fez, nada parece impossível para o francês neste Tour.
Na Ineos acabaram-se as tácticas estranhas e as disputas internas. Geraint Thomas está a 1:11 minutos de Bernal, no terceiro lugar, e garantiu que fará tudo para que o companheiro faça história. Um ano depois, o galês poderá estar na posição de Froome: a ser o último vencer, mas a ver um companheiro ganhar, enquanto sobe ao último lugar do pódio.
Egan Bernal é o terceiro colombiano a vestir a camisola amarela no Tour, depois de Víctor Hugo Peña em 2003 (durante três dias) e Fernando Gaviria em 2018 (um dia). Mas mais importante, está a 130 quilómetros* pelos Alpes de, no domingo, ter o seu momento de consagração e um encontro com a história a caminho de Paris, para finalmente colocar um colombiano como o grande vencedor da Volta a França.
20ª etapa: Albertville - Val Thorens, 130 quilómetros (a etapa foi posteriormente encurtada após a publicação deste texto, ver mais baixo)*
Há muito que não se tinha um Tour tão incerto no vencedor até tão perto do final. Apesar de parecer muito difícil Egan Bernal deixar escapar a camisola amarela, a verdade é que as diferenças são boas, mas não permitem descansar. A luta de pelo menos alcançar um lugar no pódio pode provocar alguns sustos a uma Ineos que não dá garantias colectivamente (alguma vez se pensou dizer isto?), pelo que Thomas poderá ainda ter um papel importante na defesa de Bernal, caso o colombiano não consiga ele próprio eliminar qualquer tentativa de ataque.
Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma) está a 1:23 minutos de Bernal, a 12 segundos de Thomas, com um discreto mas extremamente competente Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe) a 1:50 da frente, a 39 segundos de Thomas. Segue-se Mikel Landa (Movistar) a já 4:30, ainda que a luta por um melhor lugar no top dez possa ajudar a animar a etapa.
A derradeira subida, uma categoria especial, tem 33,4 quilómetros de extensão. A fase mais difícil é logo nos primeiros, quando se ultrapassa os 9% de pendente, mas a restante é muito constante entre os 6% e 8%, com algumas zonas de descanso. Mas depois de tantos quilómetros, de um Tour que apostou na altitude (vão terminar a 2365 metros), as dificuldades até Val Thorens vão parecer intermináveis.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
* Após a publicação deste texto, foi anunciado que, devido ao mau tempo, a penúltima etapa seria encurtada para cerca de 60 quilómetros, com passagem apenas na última subida. Aqui fica o gráfico.
Veja toda a acção do dia no vídeo em baixo.
»»Lutas internas, tácticas estranhas... E Alaphilippe continua de amarelo««
»»Ciclistas expulsos do Tour consideram decisão exagerada««
Aos 22 anos, Egan Bernal está tão perto de cumprir o destino. Ganhar a Volta a França parecia ser uma questão de tempo. Desde que chegou à Ineos em 2018 que se falava quando ganhará e não se ganhará. Não era o plano para 2019. Afinal era o Giro o seu objectivo, mas uma queda afastou-o da prova dias antes do seu arranque. Uma queda que poderá ter precipitado um momento histórico. No Tour iria para ajudar Chris Froome. No entanto, mais uma queda tirou um líder da Ineos de uma grande volta. Geraint Thomas tem o número um, mas não conseguiu reunir nem a crença, nem a atenção de uma maioria que olhava para Bernal como o ciclista principal da equipa britânica. Olhava para ele como o vencedor.
Quando se fala de talento, Bernal é um dos melhores exemplos. Junta-se a isso a dedicação e trabalho para desenvolver esse talento e ter o apoio de uma das melhores equipas do mundo (ainda a melhor no que diz respeito a grandes voltas) e não nunca demoraria muito a Bernal começar a ganhar nos maiores palcos. E no maior palco: o Tour.
Ainda não ganhou. Não se festeje antes de tempo. Um último momento de nervosismo no Tour aguarda Bernal e toda uma Colômbia. Basta ver o que aconteceu a Thibaut Pinot. Num instante, o melhor Tour da sua carreira terminou em lágrimas, estas de uma desilusão profunda. Uma ruptura muscular na coxa acabou com um sonho que poderia ter-se tornado realidade, mas nunca o saberemos: finalmente um francês ganhar o Tour e acabar com o jejum de mais de 30 anos. A espera continua...
Esperava-se uma etapa intensa, com muito espectáculo, pois era bem ao estilo do que já se assistiu de melhor na Vuelta. Poucos quilómetros, 126,5 quilómetros, com constante sobe e desce, uma categoria especial como o Col de l'Iseran, antes de uma última dificuldade mais curta, mas que tinha pouco ou nada de fácil. Foi tudo o que se esperava e um pouco mais, que era desnecessário.
A meteorologia adversa confirmou-se e a intensa chuva, que foi acompanhada com queda de granizo, contribuiu para um deslizamento de terra que deixou a subida para a meta impossível de se fazer (as impressionantes imagens podem ser vistas no vídeo do resumo da etapa no final do texto). Os ciclistas já desciam rumo ao local à subida para Tignes, quando a organização mando parar. Ninguém ficou contente até perceberem a gravidade da situação. Não havia outra opção. Os tempos para a classificação geral foram contabilizados no Col de l'Iseran, onde Bernal passou em primeiro. Mas não foi o vencedor da etapa. A decisão passou por não ser atribuída classificação na tirada, o que significa que ninguém beneficiou de segundos de bonificação.
(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet) |
Mas a amarela é de Bernal. Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) desta feita cedeu. Será uma das figuras do Tour, mas agora passa o foco para o colombiano. A neutralização da etapa até o ajudou, pois a diferença para Bernal ficou-se nos 45 segundos e manteve-se no pódio. Porém, Alaphilippe admitiu que não se vê a ainda discutir a vitória e percebe-se porquê ao se olhar para a etapa de montanha que falta. Não tem nada a perder e até poderá tentar, mas também poderá apostar antes em garantir um merecido lugar no pódio de Paris. A missão não será fácil, contudo, depois de tudo o que fez, nada parece impossível para o francês neste Tour.
Na Ineos acabaram-se as tácticas estranhas e as disputas internas. Geraint Thomas está a 1:11 minutos de Bernal, no terceiro lugar, e garantiu que fará tudo para que o companheiro faça história. Um ano depois, o galês poderá estar na posição de Froome: a ser o último vencer, mas a ver um companheiro ganhar, enquanto sobe ao último lugar do pódio.
Egan Bernal é o terceiro colombiano a vestir a camisola amarela no Tour, depois de Víctor Hugo Peña em 2003 (durante três dias) e Fernando Gaviria em 2018 (um dia). Mas mais importante, está a 130 quilómetros* pelos Alpes de, no domingo, ter o seu momento de consagração e um encontro com a história a caminho de Paris, para finalmente colocar um colombiano como o grande vencedor da Volta a França.
20ª etapa: Albertville - Val Thorens, 130 quilómetros (a etapa foi posteriormente encurtada após a publicação deste texto, ver mais baixo)*
Há muito que não se tinha um Tour tão incerto no vencedor até tão perto do final. Apesar de parecer muito difícil Egan Bernal deixar escapar a camisola amarela, a verdade é que as diferenças são boas, mas não permitem descansar. A luta de pelo menos alcançar um lugar no pódio pode provocar alguns sustos a uma Ineos que não dá garantias colectivamente (alguma vez se pensou dizer isto?), pelo que Thomas poderá ainda ter um papel importante na defesa de Bernal, caso o colombiano não consiga ele próprio eliminar qualquer tentativa de ataque.
Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma) está a 1:23 minutos de Bernal, a 12 segundos de Thomas, com um discreto mas extremamente competente Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe) a 1:50 da frente, a 39 segundos de Thomas. Segue-se Mikel Landa (Movistar) a já 4:30, ainda que a luta por um melhor lugar no top dez possa ajudar a animar a etapa.
A derradeira subida, uma categoria especial, tem 33,4 quilómetros de extensão. A fase mais difícil é logo nos primeiros, quando se ultrapassa os 9% de pendente, mas a restante é muito constante entre os 6% e 8%, com algumas zonas de descanso. Mas depois de tantos quilómetros, de um Tour que apostou na altitude (vão terminar a 2365 metros), as dificuldades até Val Thorens vão parecer intermináveis.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
* Após a publicação deste texto, foi anunciado que, devido ao mau tempo, a penúltima etapa seria encurtada para cerca de 60 quilómetros, com passagem apenas na última subida. Aqui fica o gráfico.
Veja toda a acção do dia no vídeo em baixo.
»»Lutas internas, tácticas estranhas... E Alaphilippe continua de amarelo««
»»Ciclistas expulsos do Tour consideram decisão exagerada««
Sem comentários:
Enviar um comentário