23 de julho de 2019

Chegou o nervosismo, o calor e as quedas

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
"Foi como estar dentro de um forno!" Descrição mais gráfica é difícil. Tony Martin (Jumbo-Visma) foi dos homens que mais trabalhou no regresso à estrada depois da folga na Volta a França e foi assim que descreveu o que sentiu durante os 177 quilómetros que começaram e acabaram em Nîmes. Foi um dia muito complicado, com o calor a fazer-se sentir e de que maneira! As temperaturas chegaram aos 39 graus, mas a sensação térmica ultrapassou essa referência. Com os candidatos separados por diferenças tão curtas, já seria de esperar que o nervosismo começasse a ganhar maior expressão. Porém, o calor só ajuda a agravar o receio de algo correr mal. Os ciclistas estão constantemente a ter de se hidratar, há muitas movimentações para ir buscar bidões, mas ao mesmo tempo têm de estar atentos a qualquer problema que possa acontecer e, coincidência ou não, foi um dia com algumas quedas e uma até atirou um corredor do top dez para fora da corrida.

O tempo muito quente está novamente a fazer-se sentir em França, que no mês passado sofreu com uma insuportável onda de calor. Os alertas (por enquanto laranja) estão em vigor e apesar dos ciclistas terem pela frente os Alpes, não significa que vão encontrar temperaturas mais amenas. Serão um pouco mais baixas do que esta terça-feira, mas as previsões apontam para que estejam acima dos 30 graus. Esta é uma preocupação extra que não está a deixar ninguém indiferente. Mikel Landa (Movistar) não tem dúvidas que este calor vai custar caro a alguém.

"Eu bebi um bidão e outro e outro e outro... Foi de doidos", desabafou Peter Sagan, que criticou ainda a falta de acção da Associação de Ciclistas Profissionais, dizendo mesmo: "Penso que deveriam fazer alguma coisa. Não sei para quê que lhes pagamos se não nos protegem."

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
A etapa realizou-se como previsto, com a única diferença a ser a mudança de regras quanto à distribuição de líquidos, que foi permita durante mais tempo. Em média terão sido distribuídos por cada ciclistas 20 a 30 bidões, com muitos a servirem para despejar a água por cima do corpo. O gelo foi um recurso, com vários corredores a colocarem por baixo das camisolas e até nos capacetes. Foi o tudo por tudo para tentar manterem-se frescos, numa etapa que ainda assim teve uma média de quase 45 quilómetros/hora.

Para agravar o nervosismo havia ainda a possibilidade do vento pregar nova partida nos 60 quilómetros finais. Apesar de uma ligeira aceleração, nenhuma equipa tentou provocar cortes, como aconteceu na 10ª etapa. Contudo, houve quedas para aumentar o nervosismo. O Tour tem sido muito marcado nesse aspecto em edições anteriores, principalmente nos primeiros dias. Esta edição tem sido mais calma, ainda que vários ciclistas já tenham caído, incluindo nomes como Nairo Quintana (Movistar), Geraint Thomas (Ineos) e Jakob Fuglsang (Astana). E os três voltaram a ser afectados. Fuglsang foi quem ficou pior. Estava a cerca de 25 quilómetros da meta quando não conseguiu evitar um corredor que tinha caído à sua frente e foi atirado por cima do guiador da bicicleta.

Ainda com as marcas da queda no início do Tour bem presentes, Fuglsang ficou de imediato agarrado à mão e admitiu que estava com tantas dores que tinha dificuldades em estar de pé. "Percebi que o meu Tour tinha acabado ali", desabafou, desiludido por não conseguir ir aos Alpes tentar um lugar mais perto do pódio. Explicou que a mão inchou de imediato, mas, mais tarde, a Astana informou que não havia qualquer fractura. Ainda assim, a relação entre Fuglsang e a Volta a França continua complicada, mesmo naquela que está a ser a melhor época da carreira do dinamarquês.

Antes tinha sido Thomas a cair, num incidente que considerou de insólito. Ficou com as mudanças presas e não evitou a queda. Ainda foi assistido pelo médico da corrida, mas está tudo bem com o galês, um pouco de pele a menos, mas preparado para continuar na luta pelo Tour. Já Quintana não caiu desta feita, mas tudo acontece ao colombiano. Agora ficou preso por uma queda que cortou a estrada. Perdeu mais um minuto na classificação e o descalabro na geral continua, estando agora a 9:30 minutos de Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep).

(Fotografia: © ASO)
A Volta a França entrou na semana decisiva com uma etapa que acabou por desgastar muito mais do que os ciclistas desejariam. No final venceu um corredor mais habituado a estas temperaturas. O australiano Caleb Ewan (Lotto Soudal) é o primeiro sprinter a bisar no Tour, ainda que o trepador Simon Yates (Mitchelton-Scott) já o tenha feito. Foi um sprint sem discussão de um Ewan que nem se deixou perturbar pelo habitual desvio de Max Richeze (Deceuninck-QuickStep) - colega de Elia Viviani -, que costuma prejudicar sempre alguém que vem de trás para o sprint. Ewan limitou-se a fazer um pequeno desvio e ultrapassou tudo e todos.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

17ª etapa: Point du Gard - Gap, 200 quilómetros



A não ser que um Michael Matthews (Sunweb) ou Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) tenham grande vontade de ganhar a etapa e passar uma terceira categoria perto do final da etapa este será dia para uma fuga. Os sprinters, mesmo os que ultrapassam melhor algumas dificuldades, deverão agora entrar novamente no modo de sobrevivência para conseguirem chegar à última a tirada, a mais desejada para eles, com a mítica chegada aos Campos Elísios.

É mesmo um bom dia para a fuga triunfar... e para um português ganhar! Gap é de boa memória para os ciclistas lusos. Em 2010, Sérgio Paulinho alcançou ali uma das duas vitórias de etapa numa grande volta. Foi em 2010, então ao serviço da RadioShack, tendo batido numa luta a dois um tal de Vasil Kiryienka, ciclista agora da Ineos (não está neste Tour) e que foi campeão do mundo de contra-relógio.

Sérgio Paulinho (Efapel) está actualmente mais preocupado com a Volta a Portugal, mas há Rui Costa. Recuando a 2013, naquela edição a equipa da Movistar tinha já sofrido um golpe na geral devido a um "abanico". O ciclista português foi obrigado a ficar para trás para ajudar, perdendo tempo, o que acabou por se traduzir no seu melhor Tour. Já tinha ganho uma etapa em 2011 e em Gap conquistou a primeira de duas naquela edição inesquecível para o poveiro, que viria a sagrar-se campeão do mundo dois meses depois. Rui Costa venceu isolado, com 42 segundos de vantagem sobre o francês Christophe Riblon (AG2R).

Aquele Rui Costa não mais se viu no Tour. Na UAE Team Emirates está com total liberdade para lutar por etapas e esta pede que volte a tentar fazer de Gap um local ainda mais marcante para o ciclismo nacional. Nelson Oliveira (Movistar) está mais preso ao papel de gregário, mas José Gonçalves (Katusha-Alpecin) ainda não apareceu neste Tour e esta é uma etapa que também não lhe assenta nada mal.




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