5 de julho de 2019

Os candidatos, os ciclistas a ter em conta e aqueles a não perder de vista

Irá Thomas ter de olhar para Bernal como rival? (Fotografia: © ASO/Bruno Bade)
Nem Chris Froome, nem Tom Dumoulin, isto para referir apenas as ausências de candidatos à camisola amarela. Será um Tour um pouco diferente, principalmente devido ao britânico não estar. A grande questão é se a Volta a França será encarada de forma diferente por parte dos rivais, pois da Ineos se espera mais do mesmo do tempo da Sky, mesmo sem o seu capitão. A equipa continua forte, mas Thomas não impõe o mesmo respeito que um Froome entre os adversários. Porém, existe um Egan Bernal que é praticamente visto como tão favorito como Thomas. Se calhar, até um pouco mais. Mesmo sem Froome, a Ineos será o centro das atenções. A ver vamos se é desta que se perde não o respeito, mas o receio de perder, a favor do risco de poder ganhar. Foi muito isso que faltou aos rivais de Froome nas últimas edições. 

A Volta a França arranca este sábado com 194,5 quilómetros, com partida e chegada a Bruxelas.



Geraint Thomas (Ineos, 33 anos)
Décima presença no Tour. Foi 1º  classificado em 2018. Tem três vitórias de etapa.
Equipa: Egan Bernal, Jonathan Castroviejo, Michal Kwiatkowski, Gianni Moscon, Wout Poels, Luke Rowe, Dylan van Baarle.
Tal como no ano passado, Thomas é candidato, mas... Em 2018 a presença de Froome levantava dúvidas que o galês esclareceu com uma maior regularidade e com exibições fortíssismas na montanha, enquanto Froome foi pagando o preço do esforço no Giro. Em 2019, ninguém duvida que Thomas tem o que é preciso para ganhar o Tour, contudo, a temporada está a ser muito apagada para se conseguir perceber a forma do ciclista. Tem 26 dias de competição, mas só em nove pedalou para um bom resultado. Foi terceiro na Volta à Romandia, mas, para agravar as desconfianças, caiu na Volta à Suíça, que queria ganhar, ou pelo menos o pódio. Abandonou, mas tanto o ciclista como a equipa garantem que está tudo bem. Sem Froome - afastado depois da aparatosa queda no Critérium do Dauphiné (saiu esta sexta-feira no hospital) - Thomas tinha tudo para ser um líder indiscutível, mas...

Egan Bernal (Ineos, 22 anos)
➤ Segunda presença no Tour. Foi 15º  classificado em 2018.
➤ Equipa: Geraint Thomas, Jonathan Castroviejo, Michal Kwiatkowski, Gianni Moscon, Wout Poels, Luke Rowe, Dylan van Baarle.
... Há um Egan Bernal. Venceu na Suíça e está pronto para lutar pelo Tour se Thomas der sinal de fraqueza, ou talvez nem precise de dar. E há que não esquecer que também conquistou o Paris-Nice. É um ciclista que respeita a hierarquia, mas tem a ambição de subir muito, muito alto. Mesmo já sendo um dos principais homens da Ineos, Froome e Thomas têm o estatuto de líderes, ainda que o do galês seja frágil. Não é segredo que a equipa quer ver Bernal tornar-se na grande figura das grandes voltas e mesmo sendo tão novo, já revelou maturidade e qualidade para disputar uma Volta a França. Falhou o Giro também devido a queda - não está a ser um ano fácil para os líderes da Ineos (ex-Sky) - e ficou o aviso a Thomas com as exibições recentes. Thomas poderá levar o dorsal um, mas ou se mostra a grande nível, ou o Tour de 2019 poderá ser aquele no qual Bernal se consagrará definitivamente. Com este colombiano, é uma questão de tempo e não vai demorar muito.

Romain Bardet (AG2R, 28 anos)
➤ Sétima presença no Tour. Foi segundo classificado em 2016. Tem três vitórias de etapa.
➤ Equipa: Romain Bardet, Mickäel Cherel, Benoît Cosnefroy, Mathias Frank, Tony Gallopin, Alexis Gougeard, Oliver Naesen, Alexis Vuillermoz.
Será desta? A pergunta perdura desde 1985, a última vez que um francês venceu o Tour (Bernard Hinault). Bardet varia entre entusiasmar muito os franceses e o criar desconfiança. Já se sabe como é alérgico ao contra-relógio, ainda que tenha nos últimos dois anos trabalhado um pouco melhor a especialidade, mas ainda não convence. Não tem sido um 2019 fantástico para Bardet. As exibições também variam entre as que revelam alguma forma, como umas em que até dá para esquecer que está em prova. Ainda assim, fica claro que Bardet apostou muito forte no Tour deste ano, gerindo bem o esforço até este mês. Estando bem, Bardet tem tudo para somar mais um pódio e para ser um animador da corrida, mas não é só isso que quer. Para o líder da AG2R é a vitória que interessa.

Thibaut Pinot (Groupama-FDJ, 29 anos)
➤ Sétima presença no Tour. Foi terceiro classificado em 2014. Tem duas vitórias de etapa.
➤ Equipa: William Bonnet, David Gaudu, Stefan Küng, Matthieu Ladagnous, Rudy Molard, Sébastien Reichenbach, Anthony Roux.
Vai alternando com Bardet o favoritismo entre os franceses. Este ano é dele. Tem estado mais activo, mostrou-se mais, somou algumas vitórias, ainda que em corridas secundárias no seu país. O quinto lugar no Critérium du Dauphiné foi positivo, apesar de ter admitido que queria ganhar a corrida. Depois de um ano de ausência regressa ao Tour, que voltou a ser o seu principal objectivo, após duas edições a apostar no Giro. A Groupama-FDJ acredita de tal forma no seu líder que nem leva Arnaud Démare para os sprints, para concentrar o apoio todo em Pinot. Agora falta perceber se o ciclista irá conseguir lidar com a pressão que o tem acompanhado dos meios de comunicação social e do público francês e que não o tem ajudado. Apesar de alguns bons resultados, a verdade é que o Pinot do Tour, não é o mesmo de um Pinot do Giro, livre da pressão caseira. A esperança é que os últimos dois anos tenham servido para amadurecer neste aspecto e atacar de vez a desejada vitória. Será desta?

Nairo Quintana (Movistar, 29 anos)
➤ Sexta presença no Tour. Foi segundo classificado em 2013 e 2015. Tem duas vitórias de etapa.
➤ Equipa: Mikel Landa, Alejandro Valverde, Marc Soler, Andrey Amador, Carlos Verona, Imanol Erviti, Nelson Oliveira.
Momento de decisão na carreira de Quintana. Parecia que seria inevitável conquistar o Tour, mas os anos passam e o colombiano foi perdendo protagonismo no pelotão e na equipa. Bem tenta passar a mensagem que é o líder único na Movistar, mas a equipa decidiu levar novamente Landa e Valverde, um tridente que resultou tão mal no ano passado. Valverde não era suposto estar presente - deveria ter ido ao Giro - e nem é um candidato, mas terá a sua agenda para ganhar etapas e não estará 100% dedicado a Quintana. Landa ajudou Carapaz no Giro quando se tornou óbvio que o equatoriano tinha tudo para ganhar, mas o espanhol vai agora à procura do sucesso próprio. Esta época, de vez em quando, viu-se um pouco do bom velho Quintana, mas rapidamente cai naquela toada defensiva e de marcação excessiva aos rivais. A porta de saída da Movistar ficará escancarada se Quintana não estiver pelo menos a disputar a vitória. No entanto, a expectativa é baixa.

Mikel Landa (Movistar, 29 anos)
➤ Quarta presença no Tour. Foi quarto classificado em 2017.
➤ Equipa: Nairo Quintana, Alejandro Valverde, Marc Soler, Andrey Amador, Carlos Verona, Imanol Erviti, Nelson Oliveira.
Já disse que se vê no pódio de Paris. O director da Movistar quis tanto contar com Landa na equipa, mas dois anos volvidos e o espanhol continua a ser um ciclista candidato, mas sem se afirmar no topo e na disputa por uma grande vitória. Ainda assim, Eusebio Unzué vai apostar na liderança repartida, quando no Giro ficou mais do que comprovado que quando esta equipa funciona como tal, é muito forte. Mas quando há mais do que um interesse, a tendência é correr francamente mal. Ultrapassado por Carapaz no Giro, Landa quer agora ser ele a figura e não vai ser Quintana que o vai impedir. Seria uma surpresa se houvesse a aliança que houve em Itália entre Carapaz e Landa. No Tour, espanhol e colombiano vão estar cada um por si, com Valverde à mistura.

Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma, 32 anos)
➤ Quinta presença no Tour. Foi quinto classificado em 2018.
➤ Equipa: Dylan Groenewegen, Wout van Aert, Tony Martin, George Bennett, Amund Grondahl Jansen, Laurens de Plus, Mike Teunissen..
Depois de Primoz Roglic ter sido o alvo a abater no Giro, haverá um Kruijswijk longe do mediatismo e favoritismo que o colega teve em Itália. É difícil vê-lo como vencedor, mas depois do que fez no ano passado, tem de se ter em conta pelo menos para a luta por um pódio. Calculista, discreto, não tem a pressão de outros rivais, mas numa altura em que a Jumbo-Visma tenta afirmar-se como equipa forte para as grandes voltas, o holandês não pode falhar um top dez e menos que um top cinco saberá a pouco. E falta-lhe uma vitória de etapa numa corrida de três semanas.

Enric Mas (Deceuninck-QuickStep, 24 anos)
➤ Estreia no Tour.
➤ Equipa: Julian Alaphilippe, Kasper Asgreen, Dries Devenyns, Yves Lampaert, Michael Morkov, Max Richeze, Elia Viviani.
Não terá muito apoio quando a montanha chegar, mas também já demonstrou que não precisa. Quando está em boa forma consegue estar entre os melhores. O Tour é bem diferente da Vuelta, onde, sem equipa, ganhou uma etapa e foi segundo na geral. É um ciclista que sabe bem aproveitar o trabalho de terceiros e, atacando nos momentos certos, poderá mesmo estar na luta pelo menos pelo pódio. Em Espanha ninguém se cansa de realçar como tem a mesma idade de Alberto Contador quando este venceu pela primeira vez o Tour e tendo em conta as parecenças, há que esperar que seja um ciclista que mexa um pouco com a apatia em que muitas vez o Tour cai. Acredita que pode ganhar e, em final de contrato, poderá em França tornar-se num ciclista ainda mais apetecível, o que significará um maior poder de negociação.

Adam Yates (Mitchelton-Scott, 26 anos)
➤ Quarta presença no Tour. Quarto classificado em 2016.
➤ Equipa: Luke Durbridge, Jack Haig, Michael Hepburn, Christopher Juul-Jensen, Daryl Impey, Matteo Trentin, Simon Yates.
A equipa apresenta-se como a melhor Mitchelton-Scott a alguma vez ir a uma grande volta. Adam apresenta-se como ciclista em boa forma e com ambição alta. Começou por ser dos gémeos aquele que se esperava ver chegar ao topo mais rapidamente, mas Simon acabou por fazer uma "ultrapassagem". Adam está a recuperar terreno e tem estado muito bem em 2019. O pódio é o mínimo que pretende. E depois há aquela curiosidade: os gémeos Yates raramente estão juntos numa grande volta, mas na última Vuelta a união foi perfeita. Adam foi um gregário de luxo para Simon. O Tour começa com papéis invertidos. São os Yates à conquista da ribalta esperada. 

Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida, 34 anos)
➤ Oitava presença no Tour. Venceu o Tour em 2014 e soma ainda cinco vitórias de etapa.
➤ Equipa: Damiano Caruso, Matej Mohoric, Ivan Garcia Cortina, Sonny Colbrelli, Dylan Teuns, Rohan Dennis, Jan Tratnik.
Deixar Nibali de fora dos favoritos simplesmente parece mal! Com a presença no Giro, há dúvidas sobre a sua condição física para França e é o próprio quem admite que só perceberá quando as primeiras dificuldades se começarem a sentir. Os anos começam a pesar no italiano, mas depois da desilusão de aparecer tão bem no Tour de 2018 e ser mandado para casa por causa de um adepto que lhe provocou uma queda grave, Nibali tem contas a ajustar com a corrida. Mesmo com Rohan Dennis a mostrar melhor forma na aproximação à prova, é de Nibali de quem se espera mais.

Outros ciclistas a ter em conta

Richie Porte merece todo o respeito, mas tem estado tão apagado que é difícil colocá-lo entre os principais favoritos. Porém, não se pode queixar da equipa, pois a Trek-Segafredo até excluiu John Degenkolb para ter todos os ciclistas a apoiar o australiano, incluindo Bauke Mollema. A ver vamos se é desta que além de uma boa condição física, também não é perseguido por azares. Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert) já é um dos ciclistas mais pretendidos do pelotão e mesmo sem uma equipa forte para a montanha, atenção a este francês, que pode fazer uma gracinha.

De Ilnur Zakarin não se sabe bem o que esperar, tanto por ser irregular, como por chegar a França com um Giro nas pernas. Será ofuscado por José Gonçalves? Rigoberto Uran tanto passa de outsider ou nem isso, para candidato, depois de um segundo lugar, como volta a cair entre as preferências. Não tem convencido esta temporada, mas a EF Education First passa a palavra que o colombiano está novamente em forma para chegar longe.

Jakob Fulgsang está num novo fôlego da carreira. Foi uma época espectacular de clássicas, com a vitória na Liège-Bastogne-Liège como grande momento. Foi depois vencer o Critérium du Dauphiné. Talvez até possa estar incluindo entre os candidatos, mas o problema do dinamarquês é que já esteve nesta posição mais forte anteriormente, mas não concretizou no Tour. Mas a Astana acredita nele.

Estará Warren Barguil de volta? A vitória nos campeonatos franceses foram um tónico importante para um ciclista que chegou a pensar terminar precocemente a carreira, perante os fracos resultados desde que se mudou para a Arkéa-Samsic. Se estiver bem, é ciclista para o espectáculo. Provavelmente mais para lutar por etapas do que para um top dez.

Ciclistas a não perder de vista
Wilco Kelderman (Sunweb), Emanuel Buchmann e Max Schachmann (Bora-Hansgrohe), David Gaudu (Groupama-FDJ), George Bennett (Jumbo-Visma) e Michael Woods (EF Education First) podem ser ciclistas que numa segunda linha, ou por falta de estatuto no próprio pelotão, ou por estarem "tapados" por líderes. Mas é melhor não perder nenhum de vista, tal como Fabio Aru (UAE Team Emirates). O italiano regressa após a operação à artéria ilíaca (na perna) e deu alguns sinais positivos, ainda que inconclusivos na Volta à Suíça e Nacionais. De Daniel Martin sabe-se que se pode esperar uma ou outra etapa e um top dez, mas a equipa quer Aru a lutar pelo pódio.

E claro, não será difícil perder de vista Julian Alaphilippe. Não irá pela geral, mas espera-se muito do francês da Deceuninck-QuickStep depois de duas vitórias de etapa e a camisola da montanha. Não referir Alaphilippe será um falha. Não é candidato à geral, mas é candidato a dar espectáculo e bem que o Tour precisa de mais ciclistas assim.

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