11 de julho de 2019

Pequenos testes, alguns sinais, mas todos tentaram principalmente sobreviver à La Planche des Belles Filles

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Cuidadosos. A primeira etapa de alta montanha meteu respeito a todos os candidatos. Quiseram primeiro testar-se a eles próprios e estiveram pouco interessados em testar os rivais. Ainda há muito Tour pela frente e aquela subida de La Planche des Belles Filles tinha mais potencial para fazer alguém perder o comboio da geral, do que propriamente lançar alguém para a vitória (que o diga Romain Bardet). Pelo menos pareceu que foi assim que praticamente todos encararam a sexta etapa. Mikel Landa foi quem mais arriscou, mas não colheu frutos. Já Geraint Thomas foi quem decidiu deixar uma mensagem: podem estar a olhar para o companheiro Egan Bernal, mas contem com ele para disputar uma segunda vitória consecutiva na Volta a França.

Sem surpresa, as principais movimentações ficaram guardadas para o final. Duas terceiras categorias, duas segundas, três primeiras, incluindo o final em alto em apenas 160,5 quilómetros entre Mulhouse e La Planche des Belles Filles. Mais de quatro mil metros de acumulado. Percebe-se que se tenha jogado pelo seguro. Foi a Movistar a equipa que até preparou o caminho para os sete quilómetros finais, que chegaram a ter pendentes acima dos 20%! Sinal positivo da equipa espanhola e de Alejandro Valverde, que trabalhou para os companheiros.

A Deceuninck-QuickStep agradeceu quando a Movistar assumiu as despesas, pois grande parte da etapa teve de perseguir a fuga, para defender a camisola amarela de Julian Alaphilippe, quando gosta mais de o fazer noutro tipo de terreno. A Ineos chegou a aproximar-se da frente e foi inevitável pensar-se "aí vão eles". Mas não o comboio da montanha da antiga Sky ficou guardado para outras ocasiões. Aliás, até se desfez rapidamente com Michal Kwiatkowski a ser o único a ficar com Thomas e Bernal, antes dos líderes ficarem entregues a eles próprios.

Mesmo com Mikel Landa a tentar ganhar tempo, a Ineos não se preocupou. Ficou à espera que outra equipa assumi-se destaque. Apareceu a Groupama-FDJ, o que foi agradável de ver como a formação francesa não se intimidou e como Thibaut Pinot está a deixar indicações muito animadoras. O jovem David Gaudu vai ser um aliado importante. 22 anos de muito talento.

Movistar, Groupama-FDJ, duas equipas que não tiveram receio em chegar à frente. Estarão mesmo as rivais da Ineos mais motivadas e mais crentes que é possível derrotar a equipa britânica sem Chris Froome presente? Com a Ineos a ficar apenas com três ciclistas à entrada da subida final, essa crença poderá ser reforçada, mas também será de desconfiar, pois o melhor da Ineos poderá estar a ser guardado para mais tarde.

Foram pequenos testes, pequenos sinais, ainda pouco para se perceber o que se poderá esperar quando os Alpes e Pirenéus chegarem. Landa acabou por ser um dos derrotados do dia, por assim dizer. Tentou e foi o único a fazê-lo e há que dar mérito ao risco que tomou, mas até terminou a etapa a perder dois segundos para Nairo Quintana. O companheiro do espanhol ficou quietinho no grupo de favoritos e Quintana admitiu que aquele metros finais a mais de 20% e antes com uma passagem por terra batida foram muito difíceis. Desta feita, ser conservador foi a melhor decisão.

Thomas mostrou-se e bateu todos os rivais, Bernal "sufocou" um pouco naquele terrível final, mas está na luta. Se Pinot esteve bem, a outra esperança francesa, Romain Bardet (AG2R) falhou por completo e ficou a mais de dois minutos de Thomas. Pode faltar muito Tour, mas com seis etapas feitas, já começa a ser muito terreno para Bardet recuperar, tendo em conta que há um contra-relógio em que está destinado a perder mais tempo. Muito a pensar na AG2R...

Também Steven Kruikswijk (Jumbo-Visma) não saiu bem desta etapa, com George Bennett a assumir algum protagonismo, sendo agora o melhor da equipa e até está à frente dos grupo de candidatos. Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) também saiu derrotado, mas tem a desculpa de ter feito a Volta a Itália, ainda que Landa também a fez e foi o que se viu do espanhol.

Entre os sinais positivos, de realçar Richie Porte (Trek-Segafredo), Jakob Fuglsang (Astana) - parece que o problema no joelho após a queda no início do Tour estará ultrapassado - e Emanuel Buchmann. O alemão da Bora-Hansgrohe cedeu apenas sete segundos para Thomas. O objectivo do top dez está bem vivo.

Os restantes candidatos foram como Quintana, conservadores e a tentar sobreviver o melhor possível a uma implacável Planche des Belles Filles que consagrou Dylan Teuns. Estreia do belga de 27 anos no Tour, vitória numa das subidas que vai ganhando o seu lugar entre as mais importantes da corrida (foi apenas a sua quarta presença no percurso) e também foi o primeiro triunfo da Bahrain-Merida na Volta a França.

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Para terminar, outros dois destaques: Julian Alaphilippe e Giulio Ciccone. O primeiro não cedeu facilmente a sua camisola amarela e num arranque que já não se esperava naqueles difíceis metros finais, o francês ficou muito perto de segurar a liderança. Mas essa ficou mesmo para Ciccone, por seis segundos, os que conquistou nas bonificações, além do tempo na estrada, claro. Diga-se que a amarela passou para outro ciclista que entusiasma e muito, com Ciccone a ser um dos corredores da nova geração que mais está a prometer para as grandes voltas.

Aos 24 anos está a realizar uma época de estreia muito positiva no World Tour pela Trek-Segafredo, depois de se afirmar na Bardiani-CSF. Venceu uma etapa e a camisola da montanha no Giro e agora lidera o Tour, ainda que tenha ficado alguma frustração por não ter ganho a tirada. Fica agora a questão se Ciccone irá manter o plano inicial de ajudar Porte e tentar lutar por etapas e a camisola da montanha, ou se a Trek-Segafredo tentará jogar com os dois ciclistas quando a alta montanha regressar.


Diferenças entre os candidatos

Ficou assim arrumada a classificação dos que lutam pela geral, assumindo desta feita Giulio Ciccone mesmo como líder, já que poderá entrar nestas contas - do top dez, pelo menos - ainda que tenha dito que vai continuar a ajudar Richie Porte. A prestação de George Bennett também o coloca como candidato aos dez mais, ainda mais após a quebra de Kruijswijk.

1º Giulio Ciccone (Trek-Segafredo)
4º George Bennett (Jumbo-Visma), a 47 segundos
5º Geraint Thomas (Ineos), a 49
6º Egan Bernal (Ineos), a 53
7º Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), a 58
8º Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma), a 1:04 minutos
10º Rigoberto Uran (EF Education First), a 1:15
11º Jakob Fuglsang (Astana), a 1:19
12º Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe), a 1:22
13º Enric Mas (Deceuninck-QuickStep), 1:23
14º Adam Yates (Mitchelton-Scott), a 1:24
16º Nairo Quintana (Movistar), a 1:41
17º Mikel Landa (Movistar), a 1:43
18º Daniel Martin (UAE Team Emirates), a 1:46
20º Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 1:56
21º Richie Porte (Trek-Segafredo), m.t.
26º Romain Bardet (AG2R), a 2:57
29º Fabio Aru (UAE Team Emirates), a 3:25

Classificações completas, via ProCyclingStats.

7ª etapa: Belfort - Chalon-sur-Saône, 230 quilómetros


Apesar de no sábado ser dia com muita montanha, só daqui a uma semana é que se voltará a ter testes maiores aos homens da geral, incluindo o contra-relógio individual. Para já, prepara-se o regresso dos sprinters, ainda que haverá certamente quem vá tentar concretizar uma fuga, numa daquelas etapas muito longas do Tour.




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