20 de julho de 2019

Chapeau Alaphilippe!

Sofreu, mas não quebrou. E até ganhou tempo a quase todos.
Este é um fenomenal Julian Alaphilippe (à esquerda)
(Fotografia: © ASO/Thomas Maheux)
O sonho continua e está cada vez mais vivo! A euforia francesa começa a contagiar além fronteiras, tudo porque Julian Alaphilippe surpreende a cada dia que passa e não só mantém a camisola amarela, como consegue ir ampliando a vantagem. No Tourmalet, só Thibaut Pinot foi melhor do que o compatriota, mas o ciclista da Groupama-FDJ tem ainda tempo para recuperar devido a uma etapa que espera não vá mesmo amaldiçoar um Tour em que não só aparece em boa forma, mas também está mentalmente forte. Porém, esta Volta a França está a pertencer a Julian Alaphilippe. Perguntava-se se poderia no futuro próximo ser um voltista. Agora, depois de passar exemplarmente o teste do Tourmalet, já se pergunta se pode mesmo ganhar o Tour de 2019.

O mais impressionante em Alaphilippe não é só por não ser visto como um homem para lutar pela geral de uma corrida de três semanas. O mais impressionante é mesmo ver como este fantástico ciclista tem estado a fundo desde Janeiro. Ganhou duas etapas e foi segundo na geral na Volta a San Juan no final de Janeiro e início de Fevereiro, pouco depois venceu mais uma tirada na Colômbia e a classificação dos pontos. Duas etapas no Tirreno-Adriatico, em Março, uma na Volta ao País Basco em Abril e mais uma no Critérium du Dauphiné e a camisola da montanha, em Junho.

Foi intercalando estes resultados com uma exibição avassaladora nas clássicas: venceu a Strade Bianche, o seu primeiro monumento na Milano-Sanremo e ainda conquistou a sua segunda Flèche Wallonne. Só não ganhou em Maio... porque não competiu! Aqui sim, já estava a pensar no Tour. Mas para ganhar?!

Na Volta a França queria vestir a camisola amarela para ir um além do brilharete de há um ano, quando venceu duas etapas e foi o rei da montanha. Então, tanto aparecia forte numa etapa, como descansava noutras. O normal e esperado. Agora está no máximo, ou quase, todos os dias. Foi a fundo no contra-relógio, ganhou-o e não pagou o preço no Tourmalet, ao contrário de corredores como Geraint Thomas e Rigoberto Uran. A capacidade de sofrimento e de se superar e superar quaisquer expectativas está a começar a deixar todos os rivais preocupados.

Além dos segundos que ganhou na estrada, 30 para Thomas por exemplo, somou ainda seis de bonificação pelo segundo lugar na etapa. Já se começa a comparar como Richard Carapaz (Movistar) também não foi levado inicialmente a sério na Giro quando vestiu a camisola rosa e acabou por ganhar. Alaphilippe é um ciclista diferente do equatoriano. Não é visto como um trepador puro, muito menos como voltista, mas claramente é melhor não menosprezar. Depois do Tourmalet (19 quilómetros, com pendente média de 7,4%), se não claudicar na última etapa nos Pirenéus este domingo, os 2:02 minutos que tem de vantagem para Thomas, os 2:14 para Steven Kruijswijk (boa etapa do holandês e da Jumbo-Visma), com todos os outros a estarem a mais de três minutos, vão obrigar a fazer contas com Alaphilippe na equação.

Nesta Volta a França de uma vida que o francês está a realizar, resta dizer, independentemente do que venha a acontecer, chapeau Alaphilippe!

Pinot à conquista das grandes montanhas


(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Já tinha sido rei do Alpe d'Huez em 2015 e agora junta o Tourmalet, outra das subidas mais míticas da Volta a França, aumentando para três as vitórias na corrida (a primeira foi em 2012, em Porrentruy). Fica bem no qualquer currículo de um ciclista do nível de Pinot, ainda mais sendo francês, contudo, o que mais importa neste momento é que foi outra exibição convincente de um Pinot rejuvenescido. Este é o corredor que se queria ver há muito no Tour, depois de ter sido terceiro em 2014. Que bem fizeram os dois anos que esteve mais dedicado ao Giro e Vuelta. Também a Groupama-FDJ esteve à altura dos acontecimentos, principalmente um David Gaudu que a exibir-se a este nível, não será gregário toda a sua carreira.

Pinot recuperou algum tempo e certamente que a sua motivação subiu novamente uns degraus depois daquela frustrante 10ª etapa, marcada pelo corte provocado pelo vento. Ainda assim tem 3:12 minutos para recuperar para Alaphilippe. Porém, tendo em conta como Thomas vacilou, Pinot vai continuar ao ataque, num Tour que está a ser de sonho para os franceses, pois, após o Tourmalet, são dois ciclistas daquele país que demonstram estar mais fortes, juntamente com o holandês Kruijswijk. E com a Ineos a não ter sido de todo dominadora, cresce o sentimento que é possível derrotar a equipa britânica.

Já o outro francês que tem vindo a ser um candidato a quebrar o longo jejum de vitórias na geral no Tour - Bernard Hinault foi o último em 1985 -, Romain Bardet, resta dizer que vai querer riscar esta corrida da sua memória. Perdeu contacto com o grupo de candidatos a 60 quilómetros da meta, na subida antes do Tourmalet. 20:19 minutos acumulados só hoje, ou seja, são 26:05 no total para Alaphilippe. Agora é tentar perceber se Bardet vai tentar salvar a honra ganhando uma etapa, ou se abandona e vai pensar na Vuelta. Talvez lhe fizesse bem uma fase idêntica à de Pinot, com as outras grandes voltas a serem os principais objectivos.

Descalabro Movistar

Andrey Amador foi brilhante no serviço de partir o pelotão. Foram muitos quilómetros a impor um ritmo infernal que um a um foi deixando ciclistas para trás e deixando aflitos outros tantos. O único senão é que nem Nairo Quintana aguentou... Mais uma exibição estranha da equipa espanhola, que deixou o seu líder ficar para trás. Amador saiu da frente, entrou Marc Soler ao trabalho e ainda trabalhou uns minutos até que finalmente ficou para trás para ajudar o colombiano.

O espanhol nem conseguiu ficar ao lado do companheiro, com Quintana a acabar por ter de se salvar sozinho. Mas com 3:24 minutos perdidos no Tourmalet, são 7:19 de desvantagem. Resta pensar no top dez para um ciclista cujo o sueño amarillo fica ano após ano adiado. Já Mikel Landa só perdeu contacto nos metros finais, perdeu 14 segundos para Pinot e os 6:14 não desanimam o espanhol que saiu do Tourmalet satisfeito com a sua exibição. Até é Alejandro Valverde o melhor classificado da equipa.


Multidão sempre impressionante no Tourmalet
(Fotografia: © ASO/Alex Broadway
Adam Yates (Mitchelton-Scott) foi outro dos principais derrotados do dia. Perdeu 6:42 minutos, sendo mais de dez para recuperar em relação a Alaphilippe.

Aqui ficam as diferenças entre candidatos, num dia em que Bernal recuperou a liderança da juventude, depois de Enric Mas ter fraquejado e nem ter conseguido acompanhar o companheiro Alaphilippe. O colombiano da Ineos não esperou por Thomas e explicou que essas foram as ordens da equipa. A Ineos está a apostar em dois ciclistas e não deixa que a quebra de um, prejudique o outro. Perante as exibições de Alaphilippe, as diferenças têm agora de ser feitas para este ciclista e não para Thomas.

1º Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep)
2º Geraint Thomas (Ineos) a 2:02 minutos
3º Steven Kruikswijk (Jumbo-Visma) a 2:14
4º Egan Bernal (Ineos) a 3:00
5º Emanuel Buchamann (Bora-Hansgrohe) a 3:12
6º Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) a 3:12
7º Rigoberto Uran (EF Education First) a 4:24
8º Jakob Fuglsang (Astana) a 5:22
9º Alejandro Valverde (Movistar) a 5:27
10º Enric Mas (Deceuninck-QuickStep) a 5:38
11º Mikel Landa (Movistar) a 6:14
12º Richie Porte (Trek-Segafredo) a 6:49
14º Nairo Quintana (Movistar) a 7:19
16º Daniel Martin (UAE Team Emirates) a 9:50
18º Adam Yates (Mitchelton-Scott) a 10:37

15ª etapa (21 de Julho): Limoux - Foix, 185 quilómetros



Este está a ser o Tour mais emocionante dos últimos anos e na última etapa dos Pirenéus, com um dia de folga à espera, poderá ser mais uma etapa movimentada. A contar com a tirada deste domingo, ficam a faltar quatro de alta montanha. Ainda há tempo para recuperar, mas pode não haver tempo para adiar movimentações.

segundos bónus à espera no Mur de Péguère, com os últimos três quilómetros dos nove a serem feitos sempre acima dos 10% de pendente, chegando aos 18%. Os quase 12 quilómetros finais também não será fáceis, com alguns momentos acima dos 10%, com a maior parte a ser entre os 6% e os 9%.




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