7 de julho de 2019

A confirmação que faltava à Jumbo-Visma

(Fotografia: © Team Jumbo-Visma)
Já se faziam as contas para quanto tempo estavam todos a perder para a Ineos quando surge uma Jumbo-Visma simplesmente a voar. Foi um contra-relógio colectivo avassalador da equipa holandesa, que comprovou o que lhe faltava neste seu renascimento como uma das principais formações mundiais. Há sete anos, a estrutura correu o risco de fechar e até competiu sem patrocinador durante uns meses. Agora tem um projecto sólido (patrocínios garantidos até 2023), cada vez mais completo e já ninguém a menospreza.

Que não restem dúvidas. A Jumbo-Visma partiu para o contra-relógio colectivo de 27,6 quilómetros de Bruxelas com todas as intenções de o vencer. Já se tinha afirmado como vencedora nos sprints com Dylan Groenewegen, está a crescer nas clássicas com Wout van Aert como estrela, já mostrou que tem homens para lutar pela geral de uma grande volta e um conjunto forte de ciclistas para apoiar os líderes. Agora deu o passo que faltava para se tornar numa equipa que não só se defende em todos os terrenos, como ataca os resultados que procura.

Foi uma exibição irrepreensível. A Ineos foi a primeira equipa a partir e só a Deceuninck-QuickStep assustou, ao ficar a menos de um segundo de diferença. Porém, mesmo sendo forte neste tipo de etapas, a Ineos tem tendência a ser batida por alguém. Desta feita foi pela Jumbo-Visma, a última a sair para a estrada, que deixou a formação britânica a 20 segundos!

O director de performance da equipa, Mathieu Heijboer, não tem dúvidas ao afirmar que este foi o triunfo que faltava para comprovar a qualidade do investimento feito nos últimos anos, principalmente desde que a equipa se tornou Lotto-Jumbo. "Desde 2015 que o contra-relógio colectivo tornou-se numa parte importante do nosso processo. Temos tido um desenvolvimento sólido, com altos e baixos. Ultimamente temos estado bem com vitórias na Volta à Grã-Bretanha e na Volta aos Emirados Árabes Unidos e o segundo lugar no Tirreno-Adriatico. Hoje, tudo correu bem. Trabalhámos neste contra-relógio durante semanas e meses", salientou Heijboer.

A contratação de Tony Martin foi precisamente a pensar em consolidar a equipa neste aspecto, mesmo que o alemão já não tenha o fulgor de outrora. Ainda assim, como foi possível ver, tem grande importância, com a Jumbo-Visma a cumprir a distância em 28:37 minutos, a uma velocidade média de 57,202 quilómetros/hora. A Ineos "ficou-se" pelos 56,551.

O trabalho feito nesta Jumbo-Visma - herdeira da Rabobank - faz com que esteja constantemente a ser falada e não apenas por ganhar etapas com Dylan Groenewegen. Se atacou o Giro para o vencer com Primoz Roglic, pode no Tour não assumir-se tanto com Steven Kruijswijk, mas lá que o holandês colocou-se numa boa posição para pelo menos lutar pelo pódio, isso colocou-se. Há que não esquecer que se está a falar de um ciclista que deixou escapar uma Volta a Itália que parecia garantida devido a uma queda, que passou uma fase menos boa depois, mas no ano passado regressou ao seu melhor - quinto no Tour e quarto na Vuelta - e é visto como candidato em França.

E na primeira etapa que fez as primeiras diferenças entre os favoritos, logo ao segundo dia, é Kruijswijk quem sai na frente, sem esquecer que tem um companheiro seu com a camisola amarela. O sonho de Mike Teunissen continua e é bem provável que se prolongue por mais três ou quatro etapas, já que tem agora 30 segundos ou mais sobre a concorrência. Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), por exemplo, ficou a 50. O holandês lidera também nos pontos e Wout van Aert estreou-se a vestir camisolas no Tour, ao envergar a branca, como líder da juventude. A Jumbo-Visma lidera ainda por equipas, falhando apenas o pleno porque Greg van Avermaet (CCC) fez-se dono e senhor da classificação da montanha na primeira tirada.

Esta é a equipa que celebrou duas etapas consecutivas a abrir o Tour, algo pouco visto: 81-Steven Kruijswijk, 82-George Bennett, 83-Laurens de Plus, 84-Dylan Groenewegen, 85-Amund Grondahl Jansen, 86-Tony Martin, 87-Mike Teunissen, 88-Wout van Aert.

As diferenças entre candidatos

A Ineos não estará demasiado preocupada com os 20 segundos perdidos por Thomas e Bernal para Kruijswijk. Os maiores derrotados do dia foram os esperados: Nairo Quintana, Mikel Landa e Romain Bardet. Os homens da Movistar perderam 1:05 para a Jumbo-Visma, 45 para os líderes da equipa britânica. Já há trabalho a fazer para Quintana e Landa, que mesmo com um especialista como Nelson Oliveira a trabalhar, não evitou uma perda de tempo que já obriga a pensar tácticas para recuperar. Bardet (AG2R) já se sabe que é alérgico ao contra-relógio e nem com a equipa a puxá-lo evitou estar ao segundo dia a 1:19 de Kruikswijk, com Richie Porte (Trek-Segafredo) também a não ter razões para sorrir: perdeu 1:18.

Por outro lado, Enric Mas (Deceuninck-QuickStep) estará bem satisfeito e Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) não terá ficado nada desiludido. Falta muito Tour, mas aqui ficam as diferenças que já têm de ser ponderadas entre os candidatos à geral ou pelo menos ao top dez, assumindo Kruijswijk como o número um, ele que está a dez segundos do companheiro, o camisola amarela, Mike Teunissen, devido à bonificação da vitória na primeira etapa.

3º Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma), 4:51.44
7º Egan Bernal (Ineos), a 20 segundos
8º Geraint Thomas (Ineos), a 20
13º Enric Mas (Deceuninck-QuickStep), a 21
18º Wilco Kelderman (Sunweb), a 26
21º Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), a 26
26º Rigoberto Uran (EF Education-First), a 28
37º Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), a 32
42º Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 36
51º Adam Yates (Mitchelton-Scott), a 41
54º Jakob Fuglsang (Astana), a 41
63º Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe), a 46
89º Fabio Aru (UAE Team Emirates), a 1:03 minutos
92º Daniel Martin (UAE Team Emirates), a 1:03
95º Nairo Quintana (Movistar), a 1:05
99º Mikel Landa (Movistar), a 1:05
104º Richie Porte (Trek-Segafredo), a 1:18
108º Romain Bardet (AG2R), a 1:19
132º Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert), a 1:58

Classificações completas, via ProCyclingStats.

3ª etapa: Binche - Épernay, 215 quilómetros



Será a despedida da Bélgica, com a pelotão a entrar no país de origem da grande volta. Os últimos 50 quilómetros são com muito sobe e desce, que podem favorecer alguém que arrisque um ataque. Não será dia fácil para os sprinters, principalmente para aqueles menos dotados para as subidas.




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