3 de julho de 2019

Sprints sem figuras de peso

(Fotografia: © ASO/Pauline Ballet)
Por um lado, há um reforço da sensação que terminou uma era com a ausência de Mark Cavendish e Marcel Kittel da Volta a França. Por outro, também não vai Fernando Gaviria e Nacer Bouhanni, o primeiro uma das grandes figuras actual e para os próximos anos no sprint, o segundo alguém que ameaça ser um desperdício de talento. A estes nomes junta-se John Degenkolb. Não é só o fim de uma era, é mesmo um Tour sem um lote importante de sprinters.

Para Mark Cavendish é um enorme desgosto. O próprio não o esconde, considerando que estava em forma para fazer mais um Tour, o 13º. Porém, tem tido épocas demasiado inconstantes devido ao vírus Epstein-Barr. Este ano seria mais um a tentar regressar ao mais alto nível, mas o britânico não convence. Preparou a temporada para tentar aparecer no Tour, como no ano passado. Mas na Dimension Data optou-se por Giacomo Nizzolo, um estreante, e Edvald Boasson Hagen. Não terá sido uma decisão consensual, pois segundo a Press Association, citada pela Cycling Weekly, o director de performance, Rolf Aldag, queria Cavendish na grande volta, mas Doug Ryder, o director da equipa, decidiu excluir o britânico.

Desde 2007, quando se estreou no Tour, que Cavendish nunca tinha falhado um Tour. Aos 34 anos, está a quatro vitórias de igualar o recorde de vitórias de etapas de Eddy Merckx, mas agora sim, começa a parecer que o objectivo de carreira que lhe resta não irá ser alcançado.

O homem que fez Cavendish perceber que não era imbatível, como próprio britânico já afirmou, está num período sabático. Marcel Kittel rescindiu contrato em Maio com a Katusha-Alpecin para tentar recuperar a vontade de estar novamente a competir ao mais alto nível. Estreou-se em 2012 e só falhou em 2015 quando estava a recuperar de um problema de saúde. Soma 14 vitórias de etapa. O que vai ser da carreira de Kittel ainda se está por perceber, apesar de não faltarem interessados, a começar pela Jumbo-Visma. Porém, por agora, é altura de se dedicar à sua recuperação psicológica e também à paternidade. O ciclista anunciou há umas semanas que a sua mulher está grávida.

Quanto a Fernando Gaviria, é uma lesão no joelho que o afasta do Tour. Aos 24 anos tem tudo para ser um dos grandes nomes do sprint mundial e marcar ele uma era. Seria a sua segunda Volta a França. Na estreia, em 2018, somou logo duas vitórias de etapa e vestiu a camisola amarela por um dia. Abandonou o Giro devido ao problema no joelho e agora falha o Tour, para desilusão da UAE Team Emirates. Já Alexander Kristoff não se deverá importar muito. Será o líder nos sprints, não esquecendo que há um ano conquistou a desejada etapa dos Campos Elísios.

De Nacer Bouhanni só se pode esperar que ainda não seja um caso perdido. Aos 28 anos está a passar ao lado de uma grande carreira. Pelo segundo ano consecutivo fica de fora do Tour por opção dos responsáveis da Cofidis, tendo já falhado outro por uma lesão na mão, por ter dado um murro a um homem num hotel, que estaria a fazer barulho. Está mais do que visto que só há um caminho a seguir para Bouhanni: sair da Cofidis. Christophe Laporte será novamente a aposta da equipa francesa.

John Degenkolb (30 anos) também fica de fora por opção, com a Trek-Segafredo a preferir rodear Richie Porte de ciclistas para o apoiar na luta pela geral. Há um ano Degenkolb venceu na etapa de Roubaix. Foi um triunfo emotivo. Não só porque já tinha ganho o Paris-Roubaix, mas porque há muito que não sabia o que era uma grande vitória. Porém, não se concretizou a esperança que aquele triunfo seria o tónico para Degenkolb recuperar a sua melhor versão. O alemão nunca mais foi o mesmo depois do atropelamento durante o estágio, ainda como ciclista da Giant-Alpecin (actual Sunweb), em 2016. Fala-se que poderá estar a caminho da Lotto Soudal, para uma nova tentativa de reavivar a carreira.

Há outro francês ausente por opção da equipa, com a Groupama-FDJ a apostar tudo em Thibaut Pinot para a geral, deixando de fora Arnaud Démare (27 anos).

São ausências de vulto, mas não significa que não haverá espectáculo nos sprints, até porque há novos nomes a ganhar força. Além dos referidos Kristoff e Laporte, Dylan Groenewegen (26 anos, Jumbo-Visma) está, como Gaviria, a afirmar-se como um dos grandes sprinters. Soma três vitórias no Tour, incluindo nos Campos Elísios. Elia Viviani (30 anos, Deceuninck-QuickStep) não está a ter temporada ao nível de 2018, mas já confirmou que é mesmo sprinter para ganhar aos melhores e está com uma fome enorme de vitórias! Será apenas a sua segunda participação no Tour e se ganhar, fará o pleno em grandes voltas.

Sem Tom Dumoulin, Michael Matthews tem responsabilidade acrescida na Sunweb, mas há que ter em conta um outro nome: Cees Bol. Jovem talento holandês de 23 anos, que este ano começou a ganhar (já são duas) e é um ciclista a manter debaixo de olho. Matthews e Bol foram recompensados esta quarta-feira com uma extensão de contrato até 2021. Outro jovem a ter em conta é Jasper Philipsen, mas estará "tapado" por Alexander Kristoff na UAE Team Emirates. Será um Tour de aprendizagem para o belga de 21 anos.

Caleb Ewan encontrou na Lotto Soudal a equipa que o serve na perfeição, venceu duas etapas no Giro e quer agora mostrar-se no grande palco do Tour na sua estreia. Sonny Colbrelli (Bahrain-Merida) é sempre um ciclista a ter em conta, tal como Matteo Trentin, ainda que o corredor da Mitchelton-Scott não é o chamado sprinter puro, como os restantes ciclistas aqui referidos. Mas vai querer estar na luta.

Um nome da velha guarda é André Greipel. Está completamente em quebra e a mudança para a Arkéa Samsic não foi nada positiva. Aos 36 anos, o melhor do alemão já passou, mas fica a curiosidade de ver se haverá um último fôlego deste excelente sprinter que tem 11 vitórias de etapa na Volta a França.

Do lado oposto está Rick Zabel. Ciclista com qualidade, jovem (25 anos), mas até agora algo na sombra de líderes para quem tinha de trabalhar. Chegou o momento de se mostrar e comprovar que não tem só apelido famoso, mas também tem o que é necessário para singrar ao mais alto nível no sprint.

E depois há um Peter Sagan, aquele que quer tirar o recorde do pai de Rick. Tal como Eric Zabel tem seis camisolas verdes (dos pontos). O eslovaco está irreconhecível em 2019. Desiludiu nas clássicas e só a espaços se vai vendo um pouco do poderoso ciclista que se sabe que é. A ver vamos se é no Tour que dá a volta a uma fase menos boa na carreira. Michael Matthews é um dos seus rivais à camisola verde, tendo-a conquistado há dois anos, quando Sagan foi expulso do Tour.

A Volta a França começa em Bruxelas no sábado e com uma primeira camisola amarela à espera de um sprinter ficar com ela.


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