8 de julho de 2019

Alaphilippe cada vez mais o herói francês ao estilo D'Artagnan

(Fotografia: © ASO/Alex Broadway)
Três etapas e o Tour não está a ter nada de chato. Mas não vamos agoirar! Julian Alaphilippe era talvez o mais forte candidato a ofuscar uma Jumbo-Visma fenomenal nos primeiros dois dias. Quando até parecia que tinha tudo controlado para manter a camisola amarela mais uns dias, fosse com Mark Teunissen ou com outro dos ciclistas que, devido ao contra-relógio colectivo, estavam atrás do companheiro, eis que um ataque ao estilo Alaphilippe deu a ribalta a uma equipa mais habituada a estas lides: a Deceuninck-QuickStep. Para a equipa belga é o regresso à normalidade, depois de um Giro para esquecer e para o ciclista francês é a conquista definitiva dos adeptos do seu país.

Além de vencer categoricamente a etapa após um ataque solitário a 15 quilómetros da meta, Alaphilippe foi buscar uma muito desejada camisola amarela. Isto para os franceses vale ouro. É que além de nenhum corredor do país ganhar o Tour desde Bernard Hinault em 1985, também não tem sido muito habitual ver um de amarelo durante a corrida. É preciso recuar a 2014, com Tony Gallopin a envergá-la durante apenas um dia. Depois há que recuar mais um pouco, a 2011, ano das exibições heróicas de Thomas Voeckler. Esteve dez dias de amarelo e na maior parte esteve-se sempre a prevêr que a ia perder, mas Voeckler aguentou, aguentou e só a três dias do final cedeu, inicialmente para Andy Schleck, com Cadel Evans a vencer essa edição do Tour.

Nem Thibaut Pinot, nem Romain Bardet - as actuais esperanças francesas para ganhar a Volta a França -, nem Arnaud Démare através de uma etapa ao sprint, nem outro ciclista, além de Gallopin, que através de uma fuga conseguisse a liderança, mesmo que apenas por um dia. Nenhum francês vestia a amarela há cinco anos. Alaphilippe reforça assim ainda mais o seu estatuto de um dos favoritos entre o público caseiro (e não só) e é impossível não gostar dele.

Desde 2016 que a ascensão de Alaphilippe tem sido fantástica, depois de dois anos a mostrar que era um grande talento. As últimas duas temporadas são desde já marcantes na carreira do ciclista de 27 anos, com a actual a andar perto da perfeição. Talvez se possa dizer que falhou os objectivos na Amstel Gold Race e na Liège-Bastogne-Liège, pois todos os outros foram cumpridos. Milano-Sanremo, Strade Bianche, Flèche Wallonne (pela segunda vez), etapas na Volta a San Juan, Colômbia, Tirreno-Adriatico, Volta ao País Basco, Critérium do Dauphiné, Alaphilippe tem andado em alta rotação de triunfos. Grandes triunfos.

Objectivos para o Tour? Depois de em 2018 ter ganho duas etapas e a classificação da montanha, repetir o feito era (e é) o desejado, mas não chega. Estava mais do que assumido que Alaphilippe queria vestir a camisola amarela. Não se está a falar de um ciclista que vai virar voltista. Para já, o francês continua a ser homem de caçar etapas e classificações e com os resultados que tem alcançado, talvez não precise de se transformar em voltista.

Alaphilippe goza de uma popularidade idêntica à de Richard Virenque nos anos 90 e início do século XXI. Virenque chegou a lutar pela geral, finalizando mesmo por duas vezes no pódio. Porém, foi a forma como atacava as etapas e como batalhava pela camisola da montanha que acabou por marcar a sua carreira e conquistar um carinho dos adeptos. Dava espectáculo, tal como Alaphilippe dá e muito. Somou sete vitórias de etapas e outras tantas camisolas da montanha, um recorde.

A terceira tirada estava marcada na agenda do ciclista francês, que recentemente renovou com a Deceuninck-QuickStep até 2021, apesar de uma Total Direct Energie o tentar seduzir com muito dinheiro. A fase final de sobe e desce, com pendentes a ultrapassar os 10%, mesmo que fosse por poucos metros, arruinou as intenções de praticamente todos os sprinters. Não esquecendo que foi um dia longo, com 215,3 quilómetros entre Binche (Bélgica) e Épernay, na entrada do pelotão em território francês. Foi mesmo ao jeito de Alaphilippe.

O ciclista é o primeiro a dizer que o mais provável é que perca a amarela já na quinta-feira, na etapa que chega a La Planche des Belles Filles, o primeiro grande dia de montanha no Tour. Mas ficam já cumpridos dois objectivos, etapa e liderança da geral, com os próximos a serem mais etapas e camisola da montanha, enquanto se aguardará para ver o que Enric Mas poderá fazer na geral e se Elia Viviani reencontra o caminho das vitórias nos sprints, a começar já esta terça-feira.

Chamam-lhe D'Artagnan e tal como o mosqueteiro popularizado nos livros de Alexandre Dumas, Alaphilippe veste a pele de um herói francês intrépido, sempre pronto a puxar dos galões para alcançar os seus objectivos. E o público adora. O ciclista tem 20 segundos de vantagem sobre Wout van Aert (Jumbo-Visma), depois de ter partido a 31 de Teunissen. As bonificações ajudaram, com 10 segundos por ter ganho a etapa e outros cinco no novo sistema que atribui segundos em algumas subidas durante o Tour.

Pequenas diferenças entre os favoritos

Enquanto Peter Sagan se tornou dono da camisola verde, depois de a vestir por empréstimo de Mike Teunissen, Tim Wellens (Lotto Soudal) tirou a da montanha a Greg van Avermaet (CCC), com Wout van Aert a manter a branca da juventude, garantindo que a Jumbo-Visma não deixasse escapar tudo num dia menos bom, depois de dois na ribalta. Na luta pela amarela - numa perspectiva de a ter vestida nos Campos Elísios a 28 de Julho -, houve quem não se desse tão bem com as inclinações finais, principalmente com a única, ainda que Ilnur Zakarin tenha quebrado bastante antes. Fizeram-se pequenas diferenças para dois dos candidatos.

Mantendo Steven Kruijswijk como o líder entre favoritos - a Jumbo-Visma concentrar-se-á novamente nos objectivos iniciais de Dylan Groenewegen para os sprints e Kruijswijk para a geral -, Egan Bernal (Ineos) e Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) aproveitaram a rampa final para ganhar cinco segundos à concorrência. Com tudo muito em aberto nesta fase da corrida e com uma crença que sem Chris Froome esta Ineos poderá não ser a mesma, não é de estranhar que se lute por qualquer pequena vantagem.

As diferenças entre candidatos ficam agora assim, com Kruijswijk a ser a referência.

3º Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma), 9:32.44
6º Egan Bernal (Ineos), a 15 segundos
8º Geraint Thomas (Ineos), a 20
8º Enric Mas (Deceuninck-QuickStep), a 21
10º Wilco Kelderman (Sunweb), a 26
12º Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), a 27
13º Rigoberto Uran (EF Education-First), a 28
21º Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), a 36
22º Adam Yates (Mitchelton-Scott), a 41
25º Jakob Fuglsang (Astana), a 41
32º Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe), a 46
38º Daniel Martin (UAE Team Emirates), a 1:03
41º Nairo Quintana (Movistar), a 1:05 minutos
43º Mikel Landa (Movistar), a 1:05
48º Richie Porte (Trek-Segafredo), a 1:18
51º Romain Bardet (AG2R), a 1:19
58º Fabio Aru (UAE Team Emirates), a 1:54 minutos
59º Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert), a 1:58
69º Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), a 3:46

Classificações completas, via ProCyclingStats.

4ª etapa: Reims - Nancy, 213,5 quilómetros



Mais um dia longo em perspectiva, mas mais simpático para os sprinters. Ainda terão de enfrentar duas quartas categorias, mas prevê-se que não desperdicem a oportunidade para discutir a vitória.

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