(Fotografia: Facebook Mitchelton-Scott) |
Mathew Hayman anunciou ainda no ano passado que iria retirar-se após o Tour Down Under de 2019. Aos 40 anos, o mais velho em actividade, considerou que tinha chegado a altura de dar o passo seguinte na vida. Em números, na sua carreira tem as dez épocas na Rabobank, quatro na Sky e as últimas seis (mais o mês de Janeiro de 2019) numa equipa que nunca se coibiu de dizer o quanto era especial: a Mitchelton-Scott, durante vários anos a Orica.
Na sua derradeira etapa, em Willunga Hill, Hayman admitiu como viveu um turbilhão de emoções. Era o seu último dia de competição, mas havia muito em jogo, com o colega de equipa, Daryl Impey a estar na disputa pela vitória do Tour Down Under. Pelo meio, durante os quilómetros que antecederam aquela subida final, alguns ciclistas de outras formações foram despedindo-se do australiano, o que o emocionou. O trabalho foi concluído com sucesso, com Impey a conquistar pela segunda vez a corrida, o que para Hayman foi o final perfeito. Afinal, destacou-se como um gregário de confiança e uma voz de liderança, que sempre quis ajudar os seus líderes a ganharem.
Desse trabalho, tanta vez menos visível, ficarão certamente muitas histórias para se contar, contudo, há uma que foi possível ver em directo com toda a cobertura mediática que um Paris-Roubaix recebe. De repente o nome de Hayman entrou definitivamente no conhecimento de todos quando, no famoso velódromo de Roubaix bateu um senhor do pavé: Tom Boonen. Foi a surpresa australiana que tirou ao belga a quinta vitória na corrida, o que teria sido um recorde. A expressão de Hayman depois de cortar a meta foi um misto de felicidade, de alguma surpresa e de uma enorme emoção, que tornaram aquelas imagens ainda mais marcantes.
Pode ter ficado muitas vezes preso ao papel de gregário, mas Hayman também foi um especialista em clássicas do pavé, corridas em que foi tendo liberdade. Fez 17 Paris-Roubaix e 14 Voltas a Flandres, só para falar dos monumentos do pavé. Entre as outras provas em que mais participou estão, por exemplo, a Omloop Het Nieuwsblad, Gent-Wevelgem (14 presenças) e a Através da Flandres (13).
Era neste tipo de corridas que se via o seu melhor, não sendo um ciclista de grandes voltas. Ainda assim soma 11, tendo feito as três. A sua última foi o Tour do ano passado. Fez quatro Voltas a França, três Vueltas e quatro Giros. A nível de vitórias, antes de conquistar o pedregulho de Roubaix, havia ganho um Paris-Bourges (2011) e na Alemanha a Sachsen-Tour International (2005). Venceu ainda a prova de estrada dos Jogos da Commonwealth, em 2006.
No vídeo de homenagem ao australiano, Hayman é considerado não um pai, mas um "sábio irmão mais velho". Deixou a sua marca em tantos ciclistas, tornando-se num exemplo de profissionalismo e companheirismo.
Hayman vai deixar o pelotão, mas não o ciclismo. A Mitchelton-Scott já tinha garantido a continuidade do australiano, agora num papel nos bastidores. Vai começar a aprender o outro lado da dinâmica de uma equipa.
Na hora da despedida, Hayman publicou uma fotografia com os três filhos e escreveu nas redes sociais: "Não vou virar as costas a este desporto, mas estou ansioso por fazer destas três pequenas pessoas uma maior prioridade na minha vida."
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