31 de outubro de 2018

Giro com sete chegadas em alto e três contra-relógios

(Fotografia: Giro d'Italia)
Uma Volta a Itália que seduz trepadores e aqueles que têm no contra-relógio um ponto forte. É impossível não pensar em Tom Dumoulin, ele que não ficou muito agradado com o percurso do Tour, querendo esperar para ver o do Giro antes de tomar uma decisão definitiva sobre o seu calendário de grandes voltas em 2019. Chris Froome fez um discurso que poderá ser mais de politicamente correcto de quem venceu o Giro este ano, mantendo alegadamente aberta a porta de defender o título. Haverá quem se interesse certamente por um percurso muito equilibrado, com etapas de montanha que prometem dificuldades e espectáculo e três (sim, três) contra-relógios individuais.

Este é um ponto que se destaca de imediato. Comparativamente com o Tour estamos a falar de mais 4,5 quilómetros de esforço individual. A grande diferença está em serem três etapas deste género no Giro, com uma com 34,7 quilómetros (no Tour são duas, 27 quilómetros cada). Cerca dos últimos 15 serão a subir em San Marino. Será a nona tirada (imagem em baixo), a única que saíra do país


Etapa 9 (contra-relógio individual)
Depois de uma 101ª edição marcada pela primeira vez que uma grande volta começou fora da Europa, em Israel, a RCS Sport preferiu ficar por casa. Bolonha receberá a partida, 25 anos depois da sua estreia nesta condição. Será um contra-relógio de 8,2 quilómetros, os derradeiros dois com uma rampa para a animação começar logo no dia 11 de Maio. No dia 2 de Junho será conhecido o vencedor, com mais um contra-relógio, que em 2019 encerrará a corrida em Verona.


A organização queria tentar fazer de Roma uma cidade símbolo, como Paris é para o Tour. No entanto, este ano o final foi um fracasso, com os ciclistas a protestarem pela falta de segurança devido aos buracos que estavam na estrada. O contrato para quatro anos foi quebrado e Verona ganhou com isso. Serão 15,6 quilómetros, com uma subida a meio do percurso.

Giro em números: 3518,5 quilómetros, além dos três contra-relógios serão sete etapas de média montanha, cinco de alta montanha e sete chegadas em alto, duas das quais, nos contra-relógios já referidos. Os sprinters terão a sua oportunidade em seis dias. Em dois (etapa 10 e 11) será aqueles percursos completamente planos, um de 147 quilómetros e outro de 206.

Mas vamos até à montanha. A primeira semana tem logo pontos de interesse - depois do difícil contra-relógio inaugural, no segundo dia haverá umas subidas que vão exigir atenção - na qual se tem de destacar a sétima etapa. Não só os 180 quilómetros entre Vasto a Áquila são com muito sobe e desce, como a visita a esta zona de Itália tem uma razão extra-desportiva. A organização quis recordar os dez anos que marcam o sismo que destruiu grande parte da cidade, provocando a morte a mais de 300 pessoas.

A primeira semana, de nove dias, fechará então com o contra-relógio de San Marino. Depois do dia de descanso, na segunda-feira, a acção estará guardada para decorrer entre quinta-feira a domingo, com ênfase para sexta e sábado. A 13ª etapa (Pinerolo-Ceresole Reale, 188 quilómetros) terá a subida ao Colle del Lys de Val Susa e a Pian del Lupo, com a ascensão final no Lago Serrù a ter uns seis quilómetros finais a uma média de 8,9% de pendente, mas há que contar que a subida começa a cerca de 20 quilómetros da meta.

Etapa 14

Não será uma surpresa que se guardem forças para o dia seguinte. Serão "apenas" 131 quilómetros entre Saint-Vincent e Courmayeur (imagem de cima), com três subidas: Verrayes, Verrogne, Truc d’Arbe (Combes) e Colle San Carlo, que terá 10,5 quilómetros a 9,8% de inclinação média. Não terminará aí a etapa, com uma longa descida antes de mais uma rampa até ao final. Neste dia talvez se tenha de olhar para Vincenzo Nibali, um dos melhores descedores do pelotão. Antes de mais um dia de descanso, o pelotão enfrentará a etapa mais longa, 237 quilómetros, que terá uma fase final "copiada" do monumento da Lombardia, com final em Como.


Etapa 16

A Cima Coppi (ponto mais alto do Giro) será no Passo Gavia, a 2618 metros de altitude, num dia que contará com uma das subidas míticas do ciclismo: o Mortirolo. A etapa abrirá a última semana de competição e será longa: 228 quilómetros entre Lovere e Ponte di Legno. Tem tudo para ser uma das tiradas mais importantes da Volta a Itália

Se algum trepador quiser resolver a questão na montanha, tentando estar mais confortável no contra-relógio final, então as etapas de sexta-feira (31 de Maio) e sábado (1 de Junho) estão feitas para este tipo de ciclista. Primeiro serão os 151 quilómetros entre Treviso e San Martino di Castrozza. Os últimos 30 serão sempre a subir, sendo os derradeiros 10 os mais complicados.


Etapa 20

Quanto a montanha, tudo ficará fechado num daqueles dias que podem ser inesquecíveis nas Dolomitas (imagem de cima). Nos 193 quilómetros entre Feltre e Croce D'Aune/Monte Avena haverá quatro subidas que significarão cinco mil metros de acumulado: Cima Campo, Passo Manghen, Passo Rolle e Croce d’Aune-Monte Avena.

Quem poderá apostar no Giro?

Estão assim apresentadas as duas primeiras grandes voltas de 2019 e os líderes das equipas partem agora para a decisão de qual será a principal aposta. Chris Froome esteve em Milão para conhecer in loco o percurso, reiterando ser possível ganhar Giro e Tour no mesmo ano, mas poucos acreditarão que o britânico irá arriscar chegar a França cansado do Giro, quando o que mais quer é mesmo entrar no restrito grupo dos ciclistas que têm cinco vitórias no Tour, tendo ainda na mira um eventual recorde de seis triunfos (os sete de Lance Armstrong não contam oficialmente).


(Imagem: Giro d'Italia)
Tom Dumoulin não gostou do percurso da Volta a França e poderá ficar mais tentado em repetir a presença no Giro. Foi segundo em ambas as corridas este ano, depois de ganhar em Itália em 2017. Vencer o Tour é o sonho, mas, aos 28 anos (que fará a 11 de Novembro), o holandês talvez possa esperar mais uma temporada e tentar ganhar outro Giro, que lhe assenta bem melhor que o Tour. Porém, o "chamamento" da Volta a França poderá ser demasiado forte para resistir.

Geraint Thomas talvez possa liderar a Sky, mas Egan Bernal estará a ser equacionado para ter a sua primeira grande oportunidade, ainda que Gianni Moscon queira também essa responsabilidade. Moscon tem qualidade, Bernal é um talento que se espera conquistar rapidamente o estatuto de favorito em qualquer grande volta que entre. Excelente trepador e bom contra-relogista, o Giro será interessante para o colombiano. Mas Thomas tem contas a ajudar com o Giro e se Froome apostar no Tour, mesmo tendo ganho em França este ano, será sempre uma segunda escolha.

Simon Yates (Mitchelton-Scott) será mais um que estará a estudar o que será melhor para ele: Giro ou Tour? Tendo em conta as melhorias que demonstrou no contra-relógio e o tipo de montanha em Itália, que permitem a ciclistas com maior explosão tirar partido das inclinações, o britânico seria muito bem-vindo a uma corrida que certamente pensará que lhe escapou este ano.

Na Movistar, Alejandro Valverde não está interessado no Tour, mas, apesar de estar a ganhar tanto e bem aos 38 anos, para vencer esta grande volta Mikel Landa seria a melhor opção, ainda que os contra-relógios seriam prejudiciais para o espanhol. Richard Carapaz é uma hipótese, mas porque não lançar de vez Marc Soler?

Já aqui se falou de Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) que poderá regressar à "sua" corrida, ainda que em 2019 o Giro não passará na Sicília, mantendo-se até afastado da zona mais a sul do país. Queria ganhar outro Tour esta época, mas o italiano talvez opte por apostar novamente forte no Giro. Já Fabio Aru é uma incógnita. Foi um péssimo 2018 para o líder da UAE Team Emirates. A equipa quer brilhar no Tour, faltando saber se no próximo ano fará o que já pensava fazer nesta temporada que terminou: levar todas as suas estrelas a França (Aru, Daniel Martin e Alexander Kristoff, que agora ficará em segundo plano para Fernando Gaviria).

As etapas e o grau de dificuldade
(Gráfico: Giro d'Italia)

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