15 de janeiro de 2019

Como a Sky e a Movistar vão ajudar Enric Mas no Tour

(Fotografia: © Sigfrid Eggers/Deceuninck-Quick Step)
Enric Mas tem sido muito falado neste início de 2019 e ainda nem começou a sua época. O seu discurso desde o final do ano passado tem contribuído para toda esta atenção, afinal não se coíbe de dizer que vai à Volta a França para a ganhar. Tem todo o apoio do seu director Patrick Lefevere. Já não vai ter tanto apoio da restante equipa, que será novamente formada mais a pensar para conquistar etapas. Contudo, Lefevere considera que o espanhol não precisa de apoio, apenas da Sky e da Movistar e de boas pernas. Caso renove contrato, ficou a garantia que então serão contratados ciclistas para o ajudar.

Depois de duas Vueltas, a última com um brilhante segundo lugar e uma etapa, Enric Mas não quis pensar em ir ao Giro, mas sim dar já o salto para o Tour. Bob Jungels irá regressar a Itália abrindo a vaga de líder para a geral em França, com Mas a ter então estreia marcada. Chamam-lhe o novo Contador, pelo seu estilo idêntico, a sua inteligência táctica e também ajuda ter passado pela equipa do antigo ciclista durante a sua formação. No início não lhe agradou a comparação. Agora já a ouve como forma de motivação e não de pressão. Até Lefevere referiu-se recentemente a Mas como o novo Contador!

E claro que em Espanha não passa despercebido o facto de Mas ter 24 anos, os mesmos que tinha Contador quando venceu o primeiro dos seus dois Tours. A diferença é que El Pistolero fez a estreia na prova no ano antes. "Vou lá para conhecer a corrida. Vamos ver o que acontece", disse recentemente na apresentação da Deceuninck-Quick Step, o novo nome da Quick-Step Floors. Mas também afirmou: "Pessoalmente, quero ganhá-la."

Enric Mas era um dos nomes que surgia como esperança espanhola, numa altura em que no país havia um temor que com a saída de cena da geração de Contador, Joaquim Rodríguez e Alejandro Valverde (este último ainda de pedra e cal no pelotão aos 38 anos), não haveriam substitutos à altura. Afinal há e prometem.

O jovem ciclista não tem dúvidas que a equipa belga foi a melhor opção para entrar no pelotão, em vez de estruturas como uma Sky ou Movistar, mais propensas a ciclistas com as características de Mas. A Deceuninck-Quick Step é uma equipa de clássicas e sprints, mas Enric Mas acredita que se tivesse assinado pela Sky ou Movistar, não teria recebido as oportunidades que teve. "Se calhar nem teria feito uma grande volta", afirmou. No entanto, são precisamente estas duas equipas que Lefevere acredita que podem ajudar Enric Mas no Tour. Talvez até a mesmo até o colocar numa situação de luta pela camisola amarela.

"Não o temos de ajudar este ano. A Sky e a Movistar vão ajudar. Elas controlam a corrida e nós ficamos na roda. Se as pernas estiverem lá para as bater, vamos batê-las." Até parece simples! Mas há mais: "Vocês vêem o que acontece no Tour. Há sempre um ciclista que controla a corrida até a poucos quilómetros da meta. Então o [Chris] Froome tenta atacar e se não consegue, então ataca o [Geraint] Thomas. É a mesma história com a Movistar, tentam sempre bloquear a corrida. Bem, quanto mais bloquearem a corrida, melhor para o Enric Mas."

Está definida a táctica. Naturalmente que se podem colocar logo questões como, se Mas vestir a amarela, como a defenderá sozinho? Ou a equipa então tentará ajudar mais? Julian Alaphilippe sacrificaria as suas ambições para estar ao lado de Mas se fosse necessário? Falta mais de meio ano para o Tour e certo é que Mas não está nada intimidado por ser a sua estreia, por saber que a sua equipa irá apoiar mais Elia Viviani nos sprints e por saber que Alaphilippe irá tentar repetir a fantástica exibição de 2018 (duas etapas e a camisola da montanha). Enric Mas quer fazer frente à Sky, à Movistar ou a quem se apresente para lutar pelo Tour e a táctica de Lefevere é mais do que lógica para quem não tem gregários para rodear Mas.

Tal como Contador, este espanhol também dispara ambição de vencer. E o ciclista que marcou uma era no ciclismo tem no seu historial exibições em que praticamente sozinho alcançou grandes feitos e venceu grandes voltas. Na sua última, o Giro de 2015, deixou uma Astana muito frustrada. A equipa atacou de todas as formas com Fabio Aru e Mikel Landa e talvez só um ciclista como Contador pudesse aguentar o que aguentou e triunfar como triunfou. Porém, mesmo apesar de todas as comparações e reais parecenças, deixemos Mas escrever a sua própria história.

No seu último ano de contrato, Enric Mas - que começará a época na Volta ao Algarve - será um dos ciclistas mais pretendido. Em duas temporadas no World Tour confirmou que tem talento para alcançar muito sucesso, que até já tem uma marca portuguesa. Em 2016, como corredor da Klein Constantia, Mas venceu a Volta ao Alentejo.

O espanhol não fecha a porta em continuar na Deceuninck-Quick Step, depois de ter recusado quebrar contrato. Apesar de Lefevere ter autorizado os seus ciclistas a ouvirem propostas, perante a demora em encontrar um novo patrocinador principal, Mas manteve-se leal. "Recebi propostas, mas se tens contrato...", disse. Uma escolha diferente de Fernando Gaviria, que acabou por sair para a UAE Team Emirates. Enric Mas admitiu mesmo quer como que agradecer a oportunidade que a equipa belga lhe deu na carreira e quer mesmo fazê-lo com uma Volta a França para recordar.

Para não se ter dúvidas do tipo de atleta que Enric Mas é, há que recordar uma frase que disse após o surpreendente segundo lugar na Vuelta, a 1:46 minutos de Simon Yates (Mitchelton-Scott): "Motiva-me a responsabilidade que aí vem."


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