3 de janeiro de 2019

Vamos falar do Giro. Sim, já

(Fotografia: Giro d'Italia)
Ainda só é dia 3 de Janeiro, as equipas começaram a fazer as malas para a primeira corrida World Tour do ano na Austrália, mas a verdade é que muito se fala da Volta a Itália, com boas razões para tal, mesmo que seja apenas em Maio. A 102ª edição está a atrair vários dos líderes das equipas, em detrimento do Tour. Alguns até vão também a França, mas estão colocar o Giro como prioridade. Nem é difícil perceber as razões pelas quais o encanto da Volta a França está um pouco esbatido. Bob Jungels (Deceuninck-Quick Step) até explica de forma muito simples a razão pelo qual o Giro está a ser tão atractivo.

"É uma das coisas boas do Giro, não é uma corrida tão controlada como, digamos, o Tour." Há mais razões, claro, contudo, perante o domínio da Sky, que não se espera que seja menor este ano, mesmo com a incerteza quanto ao futuro da equipa (que até já poderá estar decidido nessa altura), os ciclistas demonstram que querem estar onde acreditam que podem lutar por uma vitória. O top dez é uma coisa bonita de se fazer, ainda mais no Tour, mas ganhar o Giro é um triunfo numa grande volta.

"As minhas hipóteses de ganhar o Giro são simplesmente muito melhores do que ganhar o Tour", afirmou Tom Dumoulin (Sunweb), que admitiu que o plano inicial era apostar tudo na Volta a França. O percurso deixou-o desiludido e, depois de falar com a equipa, resolveu regressar a Itália e tentar um segundo triunfo. Para Dumoulin há outra razão que o influenciou mais do que uma Sky dominadora: os contra-relógios. O Giro terá três, num total de 58,5 quilómetros (só um terá 34,7), enquanto no Tour está a diminuir-se cada vez mais esta vertente: dois contra-relógios de 27 quilómetros cada.

Por esta mesma razão Primoz Roglic (Jumbo-Visma) também se deixou seduzir por Itália, depois de em 2018 ter percebido que tem mesmo o que é preciso para lutar por uma grande volta. Fez um Tour brilhante, ficando à porta do pódio. Agora quer chegar mais alto e é no Giro que vai tentar fazer um pouco mais de história para a Eslovénia. O mais curioso da equipa holandesa é que ainda em Dezembro anunciou o oito para o Giro. A ajudar Roglic estará uma das revelações de 2018, Antwan Tolhoek, mais Laurens de Plus, Floris de Tier, Jos van Emden, Koen Bouwman, Paul Martens e Robert Gesink. Equipa bem interessante.

Já a pensar mais nas sete chegadas em alto e em completar o que falhou em 2018, Simon Yates (Mitchelton-Scott) escolheu regressar a Itália, para desta vez tentar levar a camisola rosa até final. O Tour pode esperar um pouco mais para o britânico, vencedor da Vuelta.

Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) e Rafal Majka (Bora-Hansgrohe) - atenção a Davide Formolo -, juntamente com os homens da casa Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida) e Fabio Aru (UAE Team Emirates), vão colocar o Giro no topo das prioridades, em detrimento da Volta a França. Mas há mais. A Movistar vai levar Mikel Landa e Alejandro Valverde, com o primeiro a querer acabar com as dúvidas se pode mesmo ganhar uma grande volta. Vai ainda Richard Carapaz, um voltista em evolução.

Por parte da CCC, a aposta poderá passar por Amaro Antunes. A equipa arranca nesta nova fase (a formação polaca comprou a estrutura da BMC) a pensar mais nas clássicas com Greg van Avermaet, o que poderá dar ao ciclista algarvio uma excelente oportunidade para se mostrar nas grandes voltas. O veterano Laurens ten Dam e o senhor da barba Simon Geschke são outros dois nomes apontados à corrida italiana.

Para o fim ficam dois colombianos de quem muito se espera. Um quer em 2019 abrir quer definitivamente a contagem de grandes voltas no seu currículo. Ou outro quer continuar a conquistar o World Tour de rompante.

Miguel Ángel López não quer ainda nada com o Tour. O seu discurso não podia ser mais directo: vai ao Giro para ganhar. É um ciclista com tanta qualidade que parece inevitável que ganhe uma grande volta, mas de expectativas não se vive. Vive-se de confirmações e resultados. O colombiano quer que 2019 seja o seu ano. E a Astana até vai enviar Ion Izagirre para apoiar López, mesmo que o espanhol deseje ser ele próprio um líder. Porém, a sua missão será de gregário.

Depois haverá Egan Bernal. Com Geraint Thomas a querer ir novamente ao Tour depois de o ter vencido em 2018 e com Chris Froome a apontar tudo à quinta conquista em França, a Sky vai lançar o jovem colombiano. Ao segundo ano no World Tour, Bernal terá já a sua oportunidade, mais do que merecida. Pode não ser o líder principal da Sky, nas Bernal não deixa de ser uma primeira escolha, já que os mais velhos, esses sim, mantêm o encanto por um Tour que é cada vez menos aquela corrida que todos querem estar sempre presentes. Quando se fala em vencer grandes voltas, o Giro e a Vuelta têm cada vez mais encanto! E espectáculo!

Temos ainda ciclistas que estando numa segunda linha, não deixam de ter valor. Com a chegada de Richie Porte, Bauke Mollema é novamente uma segunda escolha, tal como aconteceu em 2017, com Alberto Contador na Trek-Segafredo. E verdade seja dita, que até poderá fazer bem ao holandês. Mollema vai ao Giro, tal como Michael Woods da EF Education First e Thomas de Gendt (Lotto Soudal). O belga é mais um caça etapas, mas no Giro fez terceiro na geral em 2012. Este ano decidiu competir nas três grandes, em mais uma grande aventura de um ciclista que adora um bom desafio.

A AG2R vai deixar Tony Gallopin mostrar que tem dotes de voltista, após uma transformação que deu os primeiros sinais positivos na Vuelta. Já a Groupama-FDJ centra novamente as atenções de Thibaut Pinot no Tour e, para já, é para o sprint que escolheu levar Arnaud Démare, para medir forças com Elia Viviani (Deceuninck-Quick Step).

O Giro e também a Vuelta vão tendo cada vez mais ciclistas que as colocam como objectivos. O futuro da Sky poderá mudar este panorama, caso a equipa acabe, mas, para já, quem sai a ganhar é a Volta a Itália (de 11 de Maio a 2 de Junho). Os candidatos à maglia rosa são muitos e muito bons!

»»Giro com sete chegadas em alto e três contra-relógios««

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