14 de janeiro de 2019

Suspensão por doping está longe de ser o pior momento da carreira deste ciclista

(Fotografia: Adria Mobil)
Mesmo ao ter conseguido demonstrar que a substância proibida deveu-se à contaminação de um suplemento alimentar, Jani Brajkovic não se livrou de uma suspensão que poderá ditar o final da sua carreira. Foi de "apenas" dez meses, pois a UCI aceitou a explicação, mas não deixa de ser uma suspensão e uma mancha no currículo deste esloveno. No entanto, Brajkovic não hesita em considerar que já viveu momentos bem piores no ciclismo, entre eles o ter sido sufocado por um companheiro de equipa durante uma Volta a França.

Ao receber a notícia do teste positivo em Agosto do ano passado, Brajkovic auto-suspendeu-se imediatamente, enquanto tentou perceber porque tinha acusado methylhexaneamine. O esloveno, de 35 anos, nem sequer pediu a contra-análise. Num texto publicado no seu blog, Brajkovic explica que, ao investigar, descobriu que o problema estava num suplemento alimentar que tinha começado a tomar em 2018. O ciclista diz que ao ver as substâncias indicadas no produto e ao procurar noutros sites mais informação, pareceu-lhe que estava tudo bem.

"Visto que tinha sido a única mudança que tinha feito, procurei mais e descobri que a mesma empresa costumava fazer um [produto] pré-treino, que continha MH [methylhexaneamine[", lê-se no texto. Brajkovic refere que o problema seria provar, pois já não tinha a embalagem. No entanto, a UCI aceitou a explicação do ciclista. "Sabia que a suspensão seria inevitável, mas o meu principal objectivo era fazer com que a UCI aceitasse que tinha sido sem intenção devido a contaminação do produto", escreveu. "E sim, aceitaram as minhas explicações. Porém, apesar de ter sido sem intenção, não deve ser tomado com leviandade e, por isso, eles propuseram-me dez meses de suspensão. O ciclismo é, infelizmente, um desporto em que eles te dão a sanção mais alta em vez da mais baixa", acrescentou.

O ciclista afirma que poderia ter recorrido da decisão, mas falta-lhe energia e dinheiro para continuar a lutar. Optou por aceitar a suspensão, que termina a 1 de Junho. Brajkovic até diz que há mais pormenores que poderiam ter reduzido ainda mais a sua sanção, mas irá então cumpri-la.

Ainda assim, este não é o pior momento da carreira de Brajkovic. No texto publicado, o ciclista deixa revelações que diz que talvez as desenvolva mais tarde, mas só este parágrafo aguça e muito a curiosidade: "Na minha carreira fui intimidado, não me ambientei porque não saía com pessoas que me deixariam perto da morte, fui sufocado por um companheiro de equipa durante uma Volta a França, disseram-me que era um zero à esquerda, um zé ninguém, um inútil, logo após assinar um contrato. Disseram-me que ia ser despedido e que iriam garantir que nunca mais pedalava."

Brajkovic realça que não quer que sintam pena dele e salienta como "a ironia é que estas consequências nunca foram por estar a lutar por mim, mas sempre a tentar ajudar os outros". Reitera como assume as responsabilidades pelo que aconteceu com o positivo que lhe valeu a sanção, afirmando que sempre esteve atento à lista de produtos proibidos e recorda mais uma história, sem, contudo, referir nomes ou a equipa em que aconteceu.

"Quando disse ao médico (há alguns anos) que o suplemento que nos estava a ser dado continua a substância proibida 'octopamine', ele disse 'ah, é apenas uma quantidade pequena'. Demorei uma semana a convencê-los a dizer aos ciclistas para não utilizarem o suplemento... Há bons e maus médicos, disse a UCI... Entretanto, os ciclistas pagam o preço." O texto termina com a promessa de mais revelações (pode ler aqui na versão original, em inglês).

Brajkovic venceu etapas no Critérium du Dauphiné, foi top dez no Tour em 2012 e foi segundo na Lombardia em 2008, ao serviço da Astana. Esteve na equipa cazaque em duas ocasiões na carreira, com dois anos na RadioShack pelo meio. Chegou ao World Tour pela mão da Discovey Channel.

Em 2015 e 2016 tentou reavivar a sua carreira na UnitedHealthcare, equipa americana do segundo escalão, tendo regressado ao World Tour para a Bahrain-Merida. No ano passado voltou à formação pela qual se estreou como profissional, a Adria Mobil. A Eslovénia tem sido em anos recentes um país que tem lançado bons ciclistas, como Primoz Roglic, por exemplo, e Brajkovic foi visto como um ciclista promissor, mas que não conseguiu confirmar todas as expectativas.


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