16 de junho de 2018

"Vestir a camisola de Portugal é o melhor que me pode acontecer depois de tudo o que a vida me proporcionou"

(Fotografia: Direitos Reservados)
A estreia numa competição internacional foi logo num Mundial. Em grande, portanto, como o próprio António Rodrigues diz. Um ano depois irá participar nos Jogos Europeus de Transplantados, em Cagliari, Itália. O ciclismo é uma paixão e a máxima é sempre divertir-se e tentar terminar as corridas. Gosta de abraçar diferentes desafios, como recentemente fez no Granfondo de Lisboa, no qual aproveitou para festejar o aniversário. Porém, com as cores de Portugal a responsabilidade é outra. Sem deixar para trás a sua máxima, a preparação foi mais intensa, para assim tentar alcançar o melhor resultado possível.

António Rodrigues, 40 anos, recebeu dois transplantes de fígado. O primeiro em 2007 e depois em 2014. Foi após o segundo que cresceu a vontade de se dedicar mais ao ciclismo, uma paixão antiga, mas que se resumia a alguns passeios. "Comecei a dedicar-me mais aos treinos e a ter uma alimentação mais ajustada à prática desportiva e ao transplante", contou ao Volta ao Ciclismo. Sendo da região de Seia, significa que tem a Serra da Estrela como cenário: "É das zonas mais propícias para a prática do ciclismo." A recuperação física e a influência a nível psicológico tornaram a modalidade ainda mais importante na sua vida. E António Rodrigues salientou também o apoio que recebe: "Tenho uma grande equipa, da transplantação do Hospital Curry Cabral, e muitas outras pessoas que sempre me ajudaram, mas agora numa perspectiva um bocadinho diferente."

Será o único ciclista português, mas terá a companhia de compatriotas que vão representar o país noutras modalidades nos jogos que começam amanhã e que se realizam até domingo, dia 24. António Rodrigues fará a primeira prova na terça-feira, um contra-relógio de cinco quilómetros. 24 horas depois terá a corrida de fundo, de 20 quilómetros. "É um percurso muito acessível. Não vai muito de encontro às minhas características", admitiu. Acrescentou que prefere "andar muito num determinado ritmo" e que nos Europeus "é andar pouco no ritmo máximo".

"Tenho uma grande equipa, da transplantação do Hospital Curry Cabral, e muitas outras pessoas que sempre me ajudaram"

Os transplantes exigem cuidados especiais na preparação. "Tenho de cumprir umas medidas rigorosas a nível de treino e esforço. Para fazer bem, não devo ultrapassar uma frequência cardíaca máxima de 150. Quando o meu limite é mais 50, mas eu não posso ultrapassar. O importante é divertir-me e o meu espírito é chegar lá [às corridas que tem feito] e terminar", referiu. Em Itália pensará um pouco mais no resultado, ainda que sem colocar a fasquia alta, pois quer é fazer o melhor possível. "Vai correr bem", afirmou, confiante. Quanto aos treinos, fez mais quilómetros, experimentou novas técnicas e tentou obter informação detalhada "sobre nutrição e prática desportiva no pós-transplante", de forma a conseguir aumentar o seu rendimento.

E depois há aquele pormenor que dá uma motivação extra e reforça o orgulho. "Vestir a camisola de Portugal é o melhor que me pode acontecer depois de tudo o que a vida me proporcionou. Há, sem dúvida, um sentimento especial", salientou. Quando veio a Lisboa para receber a camisola que irá vestir em Cagliari, António Rodrigues aproveitou para ir a Fátima, com um amigo, onde espera regressar quando o desafio dos Europeus terminar. No entanto, o principal agradecimento vai sempre para as pessoas que o tem ajudado nos últimos anos, não hesitando em dizer que o têm possibilitado em "concretizar estes sonhos".

A paixão pela modalidade não só veio para ficar, como continua a ganhar força. Formado em marketing e publicidade, quer, no entanto, dedicar-se ainda mais ao ciclismo, aumentando o seu conhecimento das bicicletas e não só, já a pensar no Mundial do próximo ano. "Sim, tomei-lhe o gosto! É uma paixão e um prazer desfrutar daquilo que gosto."

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