17 de junho de 2018

Bardet, AG2R e os contra-relógios

(Fotografia: © AG2R La Mondiale)
Dois pódios (um segundo e um terceiro lugar), três etapas, muita atitude e garra e talento não lhe falta. Romain Bardet tornou-se a esperança francesa de ver um seu ciclista ganhar o Tour, eclipsada que vai parecendo estar a esperança anterior, Thibaut Pinot. Ao contrário do seu compatriota que teve uma ascensão meteórica e se viu rodeado de uma pressão mediática que talvez não tivesse preparado para lidar, Bardet foi conquistando o seu estatuto e soube sempre ir afastando a inevitável pressão que surge quando há um francês de qualidade que aparece. Afinal são mais de 30 anos sem um francês ganhar em casa, depois de Bernard Hinault. Mas a atitude que o torna mentalmente forte, também o ameaça trair.

A postura de achar que não é preciso trabalhar mais os contra-relógios quase lhe custou o pódio há um ano. Segurou por um segundo. Curiosamente, as bonificações que conquistou noutras etapas acabaram por ser decisivas, sendo que Bardet é contra esse sistema. O ciclista pode achar que consegue ganhar o Tour só nas montanhas, a AG2R é que não concorda. O contra-relógio tem cada vez mais conquistada relevância na decisão destas provas (e não só). Não é preciso ser um especialistas, mas ou Bardet se defende, ou fica a ver os adversários passarem-lhe à frente. Bardet é fraco nesta vertente e com o Tour deste ano a recuperar o contra-relógio colectivo, a equipa não hesitou. O treino intensificou-se e o resultado já esteve à vista.

No Critérium du Dauphiné, a AG2R perdeu 1:30 para a vencedora, a Sky, em 35 quilómetros, a mesma distância que está prevista na Volta a França, na terceira etapa. Para a AG2R foi algo extremamente positivo. Soube quase a vitória! É uma equipa de bons trepadores, que dão cada vez mais garantias de um apoio sólido a Bardet. Mas se no contra-relógio as perdas não forem minimizadas, então de pouco servirá quando enfrentar uma Sky, Movistar, Sunweb e BMC, fortíssimas neste aspecto.

"Desde Dezembro que temos trabalhado o contra-relógio por equipas. Fizemos testes no túnel de vento, testámos equipamentos e
 trabalhámos em diferentes elementos. As melhores não são enormes, mas tirámos vários segundos e as corridas decidem-se assim", explicou o director da equipa, Vincent Lavenu.

Romain Bardet tem feito uma época até um pouco surpreendente. Apareceu muito forte nas clássicas, tendo sido segundo no sterrato da Strade Bianche - só foi batido por Tiesj Benoot -  e antes até tinha ganho em França na Faun Environnement-Classic de l'Ardèche Rhône Crussol. Andou mais discreto no Tirreno-Adriatico e na Volta ao País Basco (foi 13º nas duas), reapareceu nas Ardenas, sendo terceiro na Liège-Bastogne-Liège e já complemente concentrado no Tour, fechou na mesma posição no Dauphiné.

Nos contra-relógios individuais que fez, foi igual a si próprio. Isto é, fraco. Porém, o trabalho que foi feito em equipa poderá dar frutos individualmente no Tour. A postura com que irá enfrentar o contra-relógio na Volta a França será bem diferente do que no Tirreno-Adriatico ou no País Basco e até mesmo no prólogo do Dauphiné. Com a excepção desta última corrida, Bardet não correu para ganhar. Já o Tour é para conquistar. Mesmo que continue sem muita vontade de trabalhar sozinho o contra-relógio, tem sido obrigado a fazê-lo com a equipa e se não ganha tanto como se se aplicasse mais, ainda assim, a AG2R terá encontrado a forma de garantir que Bardet possa defender-se melhor.

Este ano, é difícil afastar a ideia que, mais do que nunca, é possível bater Chris Froome e a Sky. Romain Bardet é um dos responsáveis por essa mudança de mentalidade, pois nos dois últimos anos tem sido dos que mais enfrenta a estrutura britânica. A AG2R não quer desperdiçar uma oportunidade de ouro de ver um seu ciclista a quebrar o longo enguiço, só por causa do contra-relógio. O individual terá 31 quilómetros e aparecerá na 20ª etapa. Ou seja, não haverá tempo para corrigir qualquer deslize. E Bardet sabe bem: por um segundo se ganha, por um segundo se perde.

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