28 de junho de 2018

As lições de Simon Yates e Fabio Aru

(Fotografia: Giro d'Italia)
Antes das atenções se centrarem quase exclusivamente na Volta a França, temos um regresso ao Giro devido ao reaparecimento de dois ciclistas que estiveram em destaque por razões bem diferentes. Simon Yates e Fabio Aru tem estado a recuperar da grande volta e o italiano até decidiu nem ir aos Campeonatos Nacionais defender o título, para concentrar-se em melhorar e preparar a Vuelta. Yates parecia estar a caminho de uma vitória no Giro, quando numa só etapa viu o sonho terminar. Já Aru foi um descalabro durante toda a corrida. Quando apareceu bem no contra-relógio, afinal tinha aproveitado o cone de vento para ganhar tempo e acabou sancionado.

Um mês depois do final da corrida, Simon Yates admitiu que um pouco mais de paciência poderia ter feito toda a diferença. Com apenas três etapas por disputar e a última era de consagração, o britânico viu o trabalho de mais de duas semanas (além de todo o realizado para chegar em boa forma a Itália), ir por água abaixo na tirada de Bardonecchia, que incluiu o Colle delle Finestre e a épica fuga solitária de 80 quilómetros de Chris Froome (Sky). "Se calhar um pouco mais de paciência [teria ajudado]... Não tinha de estar sempre lá em todos os momentos... Não sei... Há muitas pequenas coisas que poderia mudar. Talvez até antes da corrida poderia ter chegado um pouco mais fresco, para assim sobreviver um pouco melhor", explicou ao Cycling News.

Naquela etapa 19, Yates contou que se sentia bem de manhã, apesar de algum cansaço, normal para quem está na recta final de uma corrida de três semanas. No entanto, acabou o dia a perder quase 40 minutos e a dizer adeus à vitória e nem no top dez ficou. O britânico confessou que só pensava em pedir desculpa à equipa, mas nem os responsáveis, nem os companheiros da Mitchelton-Scott quiseram ouvir tal coisa.

"Eles disseram para me calar, que fariam tudo outra vez [para o apoiar]. Estavam desiludidos por mim, mas não era algo de 'lixaste isto tudo'. Penso que como equipa, chegámos à frente quando tivemos a camisola. Acho que dominámos a corrida", afirmou o britânico de 25 anos. E esta união poderá continuar. Yates está nos últimos meses de contrato, assim como o seu irmão gémeo, Adam, que estará no Tour.

Apesar de admitir a abordagem de várias equipas, de ter duas propostas concretas em mãos e até com valores bem elevados, Yates salientou que o dinheiro não é tudo. "Não venho de uma família rica, por isso não faço isto por dinheiro. Quero ganhar corridas", disse, garantindo que a sua decisão foi feita por razões desportivas. Sim, a decisão já está tomada, mas Yates não a anunciou, nem quis avançar quando o fará. Certo é que houve lições que o britânico retirou do Giro. Mudando algumas coisas, está mais convicto do que nunca que pode ganhar uma grande volta.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Já Fabio Aru tem uma, a Vuelta de 2015, mas não está nada fácil conquistar a segunda. Foi para a UAE Team Emirates para mudar de ares, depois de ter ganho prestígio ao serviço da Astana. Porém, a época está a correr bastante mal. Na preparação para o Giro, Aru nunca deixou boas indicações e na grande volta esteve praticamente todas as etapas de montanha num enorme esforço para tentar manter-se com os favoritos. Contudo, cada dia que passava, Aru tornava-se cada vez menos num candidato.

"Não quero ser recordado como o ciclista que todos viram no Giro", lamentou Aru à Gazzetta dello Sport. O italiano (27 anos) ainda pensou em estar no Tour, mas para garantir que recupera a sua forma, preferiu apontar à Volta a Espanha. "A época ainda não acabou. Há a Vuelta, os Mundiais, as clássicas italianas e a Il Lombardia. Ainda há tempo para mostrar quem eu sou", salientou.

Mas afinal o que aconteceu no Giro? Aru aponta duas possíveis razões. A primeira foi o tempo que passou em altitude. Para o ciclista terá sido demasiado, o que acabou por levar o corpo além dos limites. Agora, está a planear competir mais e não passar tanto tempo nesse tipo de estágios. A outra razão é uma intolerância ao glúten e lactose, descoberta há três anos, mas que admitiu que "nunca foi aprofundada". O ciclista explicou que agora está a limitar o ingestão de massas e hidratos de carbono e eliminou o consumo de lacticínios. "Sinto-me mais leve e melhor na bicicleta", confessou. Aru quer voltar a sorrir e para isso quer ser aquele corredor entusiasmante, que dá luta e discute grandes vitórias. O que aconteceu em Itália não será para esquecer, será para aprender.

"Nas etapas finais do Giro sentia-me vazio, inchado e sem energia. Estava a reter líquidos e nunca me senti bem. Raramente desisto das corridas. Sei sofrer e esperar que as coisas melhorem. Desta vez as coisas pioraram e o meu Giro transformou-se num pesadelo", recordou. Aru abandonou na etapa de Bardonecchia, numa altura em que estava a afunda-ser na classificação.

Tendo sido uma contratação dispendiosa para a UAE Team Emirates, a pressão aumenta para que Fabio Aru apresente resultados na última fase da temporada e tanto ele como Yates terão aprendido valiosas lições para colocarem em prática durante uma Vuelta que se vendo o lote de candidatos a começar a compor-se.

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