Equipa em acção no contra-relógio colectivo, na sexta-feira (Fotografia: © João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo) |
A Efapel fez uma corrida que não irá esquecer. O Sporting-Tavira viu o seu líder Joni Brandão demonstrar que está cada vez mais preparado para discutir a Volta a Portugal e os problemas de saúde de há um ano fazem definitivamente parte do passado. Porém, no final, ganhou a W52-FC Porto. A equipa de Nuno Ribeiro tem estado em crescendo e se César Fonte tem-se destacado um pouco mais, agora junta-se António Carvalho, que no Grande Prémio Jornal de Notícias fez um feito histórico que fica na família. O ciclista tem sido perseguido por alguns azares, mas bem disse que confiava que a sorte mudaria e aí está um António Carvalho que, perante a lesão de Raúl Alarcón, vai assumindo um papel de maior protagonismo rumo à Volta a Portugal.
O Grande Prémio Jornal de Notícias foi uma corrida muito disputada. Trocas de líderes todos os dias, com a Efapel endiabrada. Rafael Silva e Daniel Mestre ganharam duas etapas cada um, das sete da corrida (uma teve dois sectores, um de manhã e outro à tarde). Mestre entrou no último dia a sonhar com algo mais, com Joni Brandão então de amarelo. Se estas duas equipas saem desta competição com razões para estarem satisfeitas (o Sporting-Tavira venceu uma etapa com Alexander Grigoryev e o contra-relógio colectivo), a verdade é que a grande mensagem vem da W52-FC Porto.
Em 2017, Amaro Antunes contribuiu para um arranque de ano fortíssimo, com destaque para a vitória no Alto do Malhão, na Volta ao Algarve. A senda vitoriosa continuou, com Raúl Alarcón a também ir somando triunfos. Em 2018, a W52-FC Porto tem feito uma época em que os seus ciclistas vão subindo de forma, sem dúvida a pensar em atingir o pico na Volta a Portugal. Não significa que a equipa não tenha lutado por vitórias, que já são seis, além das classificações secundárias. A colectiva, por exemplo, tem sido quase normal conquistá-la.
O reforço César Fonte tem sido o homem que mais se vê na frente das corridas e João Rodrigues reapareceu depois de ter sido um dos ciclistas que esteve mais forte no arranque da temporada. Chegou mesmo a vestir a camisola da montanha na Volta ao Algarve, após a primeira etapa, num momento sempre especial, principalmente sendo algarvio. Alarcón estava a preparar-se para estar novamente em força no périplo por Espanha, mas uma queda atirou-o para fora das corridas, há mais de um mês.
Gustavo Veloso é o eterno líder e até já conta com uma vitória de etapa, na Volta ao Alentejo. Contudo, aos 38 anos, não é surpreendente ver outros ciclistas irem ocupando a sua posição, ainda que não é boa ideia considerar que Veloso já não tem algo de muito bom para dar. Continua a ser respeitado como o número um. Ainda assim, é inevitável olhar cada vez mais para António Carvalho (28 anos).
(Fotografia: © João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo) |
Andava muito discreto, com alguns azares a estragarem-lhe corridas, mas, como o próprio admitiu ao Volta ao Ciclismo numa entrevista (pode ler aqui), a preparação para 2018 foi pensada para aparecer melhor mais tarde. Em 2017 foi sexto na Volta a Portugal e talvez não tenha ido mais longe porque, sempre leal à equipa, ficou com Gustavo Veloso quando o espanhol fraquejou na Serra da Estrela. Quando teve ordem para seguir o seu caminho, já Amaro Antunes e Raúl Alarcón estavam na frente, a caminho de decidir a corrida.
Carvalho coloca sempre a equipa em primeiro lugar, mas também não se faz rogado em dizer que se for chamado a uma responsabilidade maior, como tentar ganhar a Volta, está preparado. Senão, pelo menos quer tentar ganhar uma etapa. Antes do grande objectivo do ano, desejava atacar o Grande Prémio Jornal de Notícias. E foi o sucesso total. A W52-FC Porto esteve a ver o que ia acontecendo durante seis dias. Carvalho bem tinha dito que não podiam estar a controlar desde o princípio, pois corriam o risco de pagar caro no final. Houve frieza e paciência. Carvalho foi estando sempre a poucos segundos e nem o contra-relógio o deixou muito longe da frente. É difícil imaginar que há um ano ponderava deixar o ciclismo!
Conhece-se bem a capacidade desta equipa em controlar as competições. Assim o tem feito na Volta a Portugal. No entanto, esta forma de correr durante a última semana é também um reconhecimento que, por exemplo, o Sporting-Tavira está mais forte este ano, pois deixou a formação algarvia estar mais no controlo, a par da Efapel. A W52-FC Porto escolheu esperar pelo momento certo para dar uma machada final. E que machada foi!
Na última etapa, na subida para Santo Adrião, endureceu o ritmo, partiu o pelotão, ficando apenas cerca de 20 ciclistas e depois António Carvalho e César Fonte escaparam, levando com eles Luís Mendonça e Márcio Barbosa da Aviludo-Louletano-Uli e Edgar Pinto (Vito-Feirense-BlackJack). Conquistaram quatro minutos de vantagem e, sem ajuda, o Sporting-Tavira não teve capacidade de perseguição. Com Edgar Pinto - recente vencedor da Volta à Comunidade de Madrid - a ser o mais perigoso na luta pela geral, os dois portistas acabaram por fazer o jogo perfeito. César Fonte ganhou a etapa, Carvalho a corrida.
Foi, então, uma versão um pouco diferente da W52-FC Porto, mas que claramente continua a ter um poderio que não é fácil de contrariar. Não há nenhum equipa em Portugal que tenha tantos ciclistas com capacidade para ganhar. Pode haver um número um, mas não significa que não seja outro a vencer e sempre na formação do Sobrado. E ninguém hesita em trabalhar quando assim é necessário. Mesmo se forem o líder.
É impossível esquecer como custou a Gustavo Veloso perder a Volta a Portugal para Rui Vinhas, há dois anos. Porém, corrida após corrida, a W52-FC Porto faz do colectivo a sua fortaleza. Como a derrubar, continua a ser a questão que todas as restantes equipas procuram uma resposta.
Ainda assim, a postura do Sporting-Tavira (reforçada com o regresso do melhor Joni Brandão e com o russo Grigoryev a demonstrar muita qualidade), a sede de vitórias da Efapel, a ambição da Aviludo-Louletano-Uli e a renovada motivação de Edgar Pinto que contagia a Vito-Feirense-BlackJack têm tornado esta temporada bem animada. A Rádio Popular-Boavista contratou Daniel Silva, terminada a suspensão por doping do ciclista, mas é Domingos Gonçalves que continua a ser a figura. O gémeo foi sétimo, a 4:53 minutos de Carvalho, e tem sido de uma regularidade tremenda em 2018. Além de Silva, a equipa conta com João Benta, mas será interessante perceber que papel poderá ter Gonçalves na Volta a Portugal, tendo em conta que está a mostrar-se bem em todos os terrenos.
(Fotografia: © João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo) |
Para concluir, António Carvalho tornou-se no segundo ciclista a vencer por duas vezes o Grande Prémio Jornal de Notícias, que teve a sua 28ª edição. Quem foi o outro? Fernando Carvalho, o seu tio! Além desta conquista (Edgar Pinto foi segundo a 53 segundos e Joni Brandão terceiro, a 4:16 minutos) e da etapa de César Fonte, João Rodrigues venceu a classificação da montanha e das metas volantes e a W52-FC Porto foi a melhor colectivamente.
Daniel Mestre quebrou a hegemonia azul e branca ao ficar com a camisola dos pontos. A camisola da juventude nesta corrida é atribuída aos ciclistas sub-23 das equipas de clube. Paulo Silva (Fortunna-Maia) foi o vencedor. De referir ainda, que a Liberty Seguros-Carglass ganhou uma etapa, na terça-feira, por intermédio Rafael Lourenço, que aos 20 anos conquistou a sua primeira vitória a este nível.
Pode ver aqui os resultados completos da última etapa que terminou em Gaia e das várias classificações.
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