20 de junho de 2018

Geraint Thomas garante que será um dos líderes da Sky no Tour

(Fotografia: Facebook Critérium du Dauphiné)
Em Fevereiro, Geraint Thomas foi peremptório sobre como estava a encarar a temporada. O objectivo seria a Volta a França, já que Chris Froome tinha decidido ir ao Giro, mas o galês não queria (e não quer) estar sempre dependente das escolhas do seu companheiro. "Decidimos que vou tratar [da preparação] como se fosse o líder", disse então Thomas. O plural significa que não foi o ciclista que se rebelou, mas que os responsáveis da Sky decidiram ter um plano B muito viável dado o futuro incerto de Froome, num processo do salbutamol que continua a arrastar-se. Agora, na recta final dos preparativos para a grande volta francesa, Thomas surgiu forte e recusa ser visto como segunda opção. Assume-se como líder, a par de Froome.

"É provavelmente a primeira vez que vamos para o Tour com dois líderes", disse durante o Critérium du Dauphiné. E é mesmo. O primeiro foi Bradley Wiggins que depois teve mesmo de afastar-se para deixar passar Chris Froome. Richie Porte nunca conseguiu tal estatuto no Tour e saiu. Thomas diz que o terá.

A política da Sky na Volta a França tem sido clara: todos por um líder. Ninguém está autorizado a desafiá-la. Froome vê-lo em 2012, mas apenas com uma demonstração de que estava mais forte que Wiggins. Contudo, nunca abandonou o chefe-de-fila. Já Mikel Landa, no ano passado, desafiou e deixou Froome sozinho no final de uma subida. Terá ficado com as orelhas a arder. Partilhas de liderança, houve no Giro de 2017. Não correu bem, mas foi por causa de uma moto da polícia que parou no pior sítio, provocando a queda a vários ciclistas, incluindo Thomas e Landa. O primeiro abandonaria mais tarde, o segundo prosseguiu e ainda ganhou uma etapa e a camisola da montanha.

A Sky foi criada com o objectivo bem definido de se tornar rainha no Tour. Conseguiu. Cinco vitórias em seis anos. Apesar do seu domínio estar aos poucos a ser enfrentado pelos rivais e de a equipa também ter começado a procurar triunfos nas outras grandes voltas e clássicas, é a Volta a França que continua a ser o plano principal. Chris Froome é o líder indiscutível. Porém, ter Thomas preparado para se "chegar à frente", por assim dizer, é, no mínimo, prudente. Caso do salbutamol à parte - as regras permitem que possa competir, portanto, nada mais a dizer enquanto o processo não ficar concluído -, a Sky pensa também no possível desgaste de ter feito o Giro. Os exemplos de Alberto Contador e Nairo Quintana estão bem presentes. O espanhol ganhou em Itália, em 2015, o colombiano fez segundo no ano passado, mas ambos estiveram depois discretos no Tour.

A dúvida continua a ser se Thomas tem capacidade para estar ao nível necessário de lutar por uma grande volta. Como gregário foi exímio, como líder, teve o tal azar da moto da polícia. Ficámos sem saber. É um especialista em corridas de uma semana, como demonstrou no Dauphiné, que venceu com autoridade (conta com duas Voltas ao Algarve no currículo). Houve um ou outro sinal de fraqueza, mas soube reagir muito bem. O galês mostra estar forte física e mentalmente. Plano B? Age como plano A. Antes do Tour é uma atitude positiva, mas se Froome estiver bem, Thomas será relegado novamente a gregário. Preparou-se para ser líder. Estará preparado para permanecer no papel habitual?

Thomas completou 32 anos em Maio. A oportunidade para lutar pelo Tour pode começar a escassear. Na Sky, um Giro ou uma Vuelta serão sempre mais prováveis. Porém, além de Froome, tem outro "problema": Egan Bernal. O jovem colombiano está a conquistar rapidamente estatuto e será ele o sucessor de Froome. Não Thomas. A porta de saída da Sky está, assim, entreaberta. A equipa quer ficar com o galês, que é uma enorme mais valia, mas o ciclista quer ter outro papel e, por isso, a renovação de contrato ainda não aconteceu.

É um dos muitos ilustres que estão com o vínculo contratual a terminar, como Porte e os irmãos Yates. Todos voltistas. Thomas tem pretendentes e não lhe terá faltado propostas para mudar de ares. No entanto, sempre preferiu a continuidade na equipa onde fez praticamente toda a sua carreira. Quer resolver o futuro antes do Tour, mas mantém o suspense. Contudo, parece inevitável que para ser líder indiscutível, principalmente na Volta a França, seguir o exemplo de Richie Porte é inevitável.

Mesmo que Froome resolvesse sair agora, a nova geração da Sky está já aí. Além de Bernal, há um fabuloso Tao Geoghegan Hart, para já, a fazer um fantástico trabalho para os líderes, mas aos 23 anos, tem claramente qualidade para muito mais. E claro, Michal Kwiatkowski, cada vez mais a trabalhar para também ele vir a ser um líder para as corridas de três semanas muito em breve.

Thomas terá de decidir entre o conforto de uma estrutura que conhece bem, ou arriscar um novo rumo que, pelo menos, o coloque como número um para a corrida que não esconde que mais quer ganhar. O galês quer o Tour e, para já, é na Sky que o quer ganhar... se Froome "permitir".


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