Nibali já ganhou um monumento este ano, a Milano-Sanremo.
Agora quer o seu segundo Tour (Fotografia: Facebook Milano-Sanremo) |
Nas últimas semanas tem sido tudo feito a pensar no Tour. De tal forma que Nibali é dos poucos chefes-de-fila que escolheu o Critérium du Dauphiné e não a Volta à Suíça como a prova para testar a sua forma e ambientar-se ao que o espera em Julho. Com o Tour a começar uma semana mais tarde do que o habitual, para assim não cruzar em demasia com o Campeonato do Mundo de Futebol, a presença na Suíça foi vista como preferível por muitos, por ter uma distância menor para o arranque do Tour. Realiza-se de 9 a 17 deste mês. O Critérium du Dauphiné começa já este domingo e acaba a 10.
"A Volta à Suíça é uma semana mais tarde, mas no Dauphiné entras no ambiente do Tour. É muito importante", referiu o ciclista da Bahrain-Merida à Gazzetta dello Sport. Nibali também aproveitará para conhecer melhor certos locais que estarão no Tour. Como o organizador é o mesmo, a parecença entre as algumas etapas é absolutamente propositada.
Nibali está a realizar uma excelente temporada e o plano de atacar o Tour como principal corrida de três semanas até já vem do ano passado. Na estreia da Bahrain-Merida, o italiano fez pódio no Giro e Vuelta. Fica a faltar a corrida francesa, que venceu em 2014, mas cuja vitória continua a ser mais recordada por ter sido na edição em que Alberto Contador e Chris Froome abandonaram, do que propriamente pelo mérito de Nibali. Apesar de ter no seu currículo as três grandes, não parece ser suficiente para o colocar aos olhos de muitos como um dos grandes ciclistas. Falta ganhar o Tour frente aos principais rivais. Contador já se retirou e Froome pode até nem estar presente, mas só a equipa da Movistar quase que é suficiente para "validar" uma vitória em França. Só ali estão três dos grandes nomes da actualidade: Nairo Quintana, Alejandro Valverde e Mikel Landa. Mas claro que haverá mais fortes candidatos, como Romain Bardet e Richie Porte, por exemplo, que diga-se, ainda não ganharam uma grande volta.
O líder da Bahrain-Merida estará mesmo convencido que poderá estar perante uma última oportunidade para ganhar pela segunda vez a Volta a França. Foi Mauro Vegni quem o disse. O director do Giro contou à Gazzetta dello Sport, durante a aquela corrida, a conversa que teve com o ciclista quando este lhe disse que não iria correr em Itália: "Tenho muita pena Mauro. O Giro tem um lugar especial no meu coração, mas este ano é talvez a minha última oportunidade para ganhar um segundo Tour. Se não tentar este ano..." Vegni disse na altura que entendeu a decisão. Com o que tem feito este ano e também já no final de 2017 (com a segunda vitória na Lombardia), Nibali parte com um favoritismo maior do que noutras edições.
Num Tour que, para já, aparenta poder ser mais aberto do que nas últimas edições dominadas pela Sky - dando assim seguimento ao que aconteceu há um ano, quando Froome e a equipa já não foram tão poderosos como outrora -, Nibali e outros candidatos olham para a próxima edição com uma esperança renovada. Mesmo que o britânico esteja presente, enfrentou um exigente Giro, enquanto quase todos os seus rivais guardaram forças para França.
Nibali surgiu diferente em 2018, muito atacante, claramente mais motivado e determinado em conquistar grande triunfos. Tem sido dos ciclistas que mais mexe nas corridas e fica a curiosidade se será uma postura que pretende manter no Tour. Sempre foi uma característica sua, mas andava um pouco "escondida". Tem contrato até 2019, mas a Bahrain-Merida estará a pensar em prolongar o vínculo. No entanto, Nibali está agora preocupado com o presente e em conquistar um objectivo que quase parece que nunca o fez. E depois também já está mais do que definido: será o ataque aos Mundiais. Já andou por Innsbruck, na Áustria a fazer o reconhecimento e talvez mais do que nunca pense na camisola do arco-íris. Na recta final da carreira (que ainda pode ter alguns pela frente), Nibali quer ser um ganhador. A mentalidade de Valverde é claramente contagiosa!
Os adversários no Critérium du Dauphiné
Até pode parecer estranho, mas esta corrida sempre tão procurada por quem prepara o Tour, não terá nenhum antigo vencedor. Jakob Fuglsang (Astana) vai à Volta à Suíça, Chris Froome está a descansar do Giro, Andrew Talansky e Bradley Wiggins já se retiraram e Janez Brajkovic está agora numa equipa Continental, a Adria Mobil. Alejandro Valverde ganhou em 2008 e 2009, mas também preferiu a Suíça.
Será um Dauphiné com um pelotão um pouco diferente, contudo, Nibali irá medir forças com adversários que estarão no Tour, a começar pelos franceses, que não trocam esta corrida pela helvética. Romain Bardet (AG2R) e Warren Barguil (Fortuneo-Samsic) foram duas figuras há um ano, mas a mudança de equipa não tem feito bem a Barguil que anda basicamente desaparecido. Será uma boa oportunidade para ver como está este ciclista que saiu da Sunweb para garantir um papel de líder, mas que ou está a guardar tudo para o Tour, ou a opção pode não estar a ser a mais benéfica. É esperar para ver, pois se fizer uma boa Volta a França, aos olhos da equipa será o mesmo basicamente o mesmo que dizer que fez uma boa época.
Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) e Bob Jungels (Quick-Step Floors) também trocaram o Giro para pensar apenas no Tour e estarão no Dauphiné. Daniel Martin foi uma desilusão nas Ardenas e a UAE Team Emirates bem precisa de sinais positivos do irlandês depois de Fabio Aru ter fracassado em Itália (Rui Costa vai à Volta à Suíça, que venceu três vezes). Marc Soler poderá estar no Tour com um papel mais de apoio - talvez com alguma liberdade para tentar uma etapa -, mas depois de vencer o Paris-Nice, o espanhol ganhou estatuto na Movistar e estará no Dauphiné com intenções de continuar a afirmar-se.
A Sky pode não ter Froome - conquistou esta corrida em três ocasiões, tendo depois ganho sempre o Tour -, mas leva Geraint Thomas, que está ansioso por assumir-se como líder quer o seu companheiro esteja ou não. O galês não fez segredo que quer ser mais do que um gregário. A equipa não gosta nada que os seus ciclistas se desviem dos planos de fazerem tudo por um líder (que o diga Mikel Landa), mas tendo em conta a indefinição do futuro de Froome, Thomas tem de estar mesmo preparado para um papel de maior destaque. Egan Bernal pode ir ao Tour, pode até ter tudo para ser uma das figuras e ofuscar Thomas, mas não deixa de ter 21 anos e nunca fez uma grande volta.
Michal Kwiatkowski teve um bom arranque de temporada com vitórias no Algarve e no Tirreno-Adriatico, mas passou ao lado das clássicas. Os dois, o polaco e Thomas, surgem como candidatos e como se viu na Algarvia, a Sky pode jogar as duas armas para garantir o triunfo no Dauphiné, ainda que a importância é bem maior, pelo que se Thomas estiver de amarelo terá a tentação, por assim dizer, de querer manter a camisola até final.
Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo) e Tiago Machado (Katusha-Alpecin) serão os representantes portugueses no Dauphiné. O campeão nacional tem prevista a participação na Volta a Espanha, enquanto Machado poderá ser uma opção para o Tour. A equipa da Katusha-Alpecin está longe de estar definida para a corrida francesa. Estão quatro lugares em aberto. Além de Zakarin, Marcel Kittel, Tony Martin e Pavel Kochetkov são as opções já conhecidas.
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