13 de junho de 2018

Contador diz que o Tour será dos mais abertos dos últimos anos

Contador vê as corridas de fora e até tem tempo para tirar fotografias
para mais tarde recordar. Noutros tempos estaria à espera de ver o seu
nome gravado nos troféus (Fotografia: Giro d'Italia)
Alberto Contador não tem parado. Entre homenagens que continua a receber, a sua fundação e as equipas de ciclismo de jovens, o espanhol não tem tido mãos a medir. E depois, ainda há Contador, o comentador. O Eurosport contratou-o, mas seja onde for, seja que entrevista dê, o ex-ciclista é sempre convidado a falar sobre o que está a acontecer esta temporada. Com a aproximação da Volta a França, desta feita a questão foi sobre a grande volta que se aproxima.

Para Contador não há dúvidas: "Vai ser [dos Tours] mais abertos dos últimos anos porque há um grupo amplo de corredores que podem chegar como vencedores aos Campos Elísios." As curtas declarações foram feitas à agência Efe, citadas pelo site Esciclismo, quando recebeu mais um prémio. Chris Froome, Richie Porte, Nairo Quintana, Romain Bardet, Mikel Landa são alguns dos principais nomes. Todos estiveram na corrida em 2017, mas as circunstâncias mudaram. E muito. Contador não estará na estrada, mas será certamente um comentador que receberá muita atenção, como aconteceu durante o Giro.

A opinião do espanhol não é uma surpresa. Desde precisamente o Tour de 2017 que se percebeu que se estava a entrar numa nova fase. Numa em que a Sky e Chris Froome já não são o "bicho papão" que parecia incutir medo em quer quisesse desafiar o poderio que marcou (e ainda marca, mas um pouco menos) o ciclismo.

As diferenças começam precisamente no britânico. Na edição passada Froome ganhou, mas não foi aquele ciclista que parecia que ao vestir a camisola amarela ninguém mais tinha capacidade para ameaçar a sua liderança. Ou, pelo menos, as ameaças eram ténues e, normalmente neutralizadas, pela Sky. Froome até se estreou a perder a amarela, para Fabio Aru, ainda que a tenha recuperado. Mas não era o mesmo Froome. Também a Sky viu outras equipas a começarem a tentar desfazer mais cedo aquele comboio. E não esquecer: Froome fez a Volta a Itália. Uma das primeiras curiosidades é perceber se irá estar bem melhor do que Contador e Quintana, os últimos que tentaram a "dobradinha". Quanto ao caso do salbutamol, o maior problema poderá estar na recepção que terá por parte de adeptos que já foram muito pouco simpáticos para ele no passado. Tudo o resto, são palavras e se não ficar resolvido até ao Tour, há que pensar apenas na corrida, como fez no Giro.

Landa tentou ir contra a mentalidade de "todos pelo líder" na Sky. Não se deu bem e rapidamente recebeu a mensagem que tinha de ajudar Froome. Ficou à porta do pódio (por um segundo!) e decidiu procurar a liberdade que não teve na Astana e que não teria na Sky tão cedo, principalmente no Tour. Agora é um Landa na Movistar, líder, não indiscutível, mas espera-se um espanhol como grande candidato a lutar pela vitória. Só falta perceber como irá funcionar a relação com Nairo Quintana, o outro líder.

O colombiano deverá aparecer bem melhor do que em 2017. É difícil recordar um momento de Quintana nesse Tour. A razão é simples: não houve. Depois de fazer o Giro, surgiu em França com muitas dificuldades físicas. Este ano concentrou-se novamente em exclusivo no Tour e a Movistar até poderá aparecer com uma equipa potencialmente mais forte do que a Sky. Só esta razão bastaria para dizer que a corrida será mais aberta. Andrey Amador, Marc Soler e o "nosso" Nelson Oliveira estão na pré-lista, assim como o super Alejandro Valverde. Quando se fala de gregário de luxo, o espanhol será o expoente máximo no Tour! E claro, uma carta a jogar se for necessário.

Depois temos Romain Bardet, o ciclista que achava que não precisava de trabalhar mais o contra-relógio, apesar de ser fraco nesse aspecto. Aquele segundo que quase o atirou para fora do pódio terá ajudado a mudar um pouco a sua postura. Bardet é dos principais responsáveis pela perda de receio pelo domínio da Sky. Sem medo de atacar, além da questão do contra-relógio, faltava uma AG2R mais forte para o apoiar. Essa poderá aparecer em 2018. Pierre Latour está a tornar-se num ciclista de referência, Alexis Vuillermoz e Alexandre Geniez dão cada vez mais maiores garantias. A contratação de Tony Galopin veio reforçar o bloco em redor de Bardet, ainda que este ciclista possa tentar procurar uma vitória de etapa.

Quanto a Richie Porte (BMC), só se pode desejar que desta feita não sofra nenhum azar. Há um ano estava numa super forma e a queda acabou com toda uma época. O australiano quer assumir-se como o grande rival de Froome e ter aquele frente-a-frente que ambicionava em 2017. E é melhor não excluir Rigoberto Uran. Há um ano terão sido poucos os que viram o colombiano como candidato a um pódio. Foi segundo! O líder da EF Education First-Drapac vai novamente à luta, mas desta vez não terá o efeito surpresa do seu lado. Não é que não se conhecesse a sua qualidade, mas há muito que Uran não andava àquele nível. Ganhou novo fôlego na carreira.

Tom Dumoulin vai este ano ao Tour e abre o leque de candidatos. Se no Giro apareceu como um dos principais favoritos, em França talvez fique atrás de alguns dos nomes aqui referidos. O próprio diz que vai ao Tour para saber como reagirá o corpo a fazer duas grandes voltas consecutivas "a fundo". O líder da Sunweb é mais um que poderá animar este Tour, tal como Vincenzo Nibali. O italiano da Bahrain-Merida não foi ao Giro, pois acredita que as oportunidades para ganhar outra vez o Tour podem escassear ou mesmo desaparecer. Se conseguir repetir a forma da primeira fase da época é mais um que ajuda a criar maior indefinição quanto ao vencedor. Também Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) aposta este ano só na Volta a França. Para top dez é certamente candidato e para animar etapas.

Portanto, Contador tem toda a razão em dizer que o Tour será dos mais abertos dos últimos anos e tudo porque o domínio da Sky já não é o que era, ainda que se mantenha como uma equipa fortíssima. Praticamente todos os principais voltistas apostaram só na corrida francesa e todos estão preparados para fazer fazer suar e bem Froome e a Sky. Para ajudar um pouco, temos um percurso com uma etapa de pavé e com uma de apenas 65 quilómetros. Dois pormenores que fazem esperar que talvez este ano o Tour tenha um pouco mais de espectáculo do que em edições recentes. A contagem decrescente continua até 7 de Julho.

»»Etapa mais curta do Tour terá grelha de partida««

»»Aumenta a pressão sobre Chris Froome««

Sem comentários:

Enviar um comentário