10 de fevereiro de 2018

Elia Viviani e um antídoto chamado Quick-Step Floors

(Fotografia: Twitter Volta ao Dubai)
Questionou-se a escolha da Quick-Step Floors, mas Patrick Levefere recuperou mais um vencedor. Recuperou e parece que o está a elevar a outro nível. Quando Elia Viviani anunciou que iria quebrar contrato com a Sky para se mudar para a equipa belga, a notícia causou alguma surpresa tendo em conta que era a vaga de Marcel Kittel que iria preencher. O italiano - depois de uma telenovela de sai, não sai e afinal sai - estava desesperado por encontrar uma local onde pudesse ser mais do que um sprinter para as corridas que não contariam com Chris Froome, Geraint Thomas ou qualquer outro líder para as grandes voltas e não só da Sky. Ficar de fora do Giro100 será uma mágoa que permanecerá com o ciclista. Porém, em 2017 não houve também nem Tour, nem Vuelta.

Viviani respondeu a este estatuto secundário como pôde. Das oito vitórias individuais, sete foram na segunda metade da temporada, com destaque para a Clássica de Hamburgo e a Bretagne Classic-Ouest-France. O italiano nunca se virou contra a Sky. Nem sempre escondeu a desilusão por não ser uma opção para competições mais importantes, mas chegou mesmo a dizer que pensava que quando chegou à estrutura britânica em 2015, seria uma equipa para a vida. Nesse ano foi o sprinter perfeito para a Sky. Não precisava de comboios, sabia perfeitamente encontrar os caminhos das vitórias ao sprint sozinho. Para uma equipa concentrada nas grandes voltas e aos poucos a apostar nas clássicas, Viviani era o ciclista com o perfil desejado. No entanto, ficar de fora das três grandes foi o ponto final de uma relação que sempre pareceu algo distante. Viviani acreditava na Sky, a Sky acreditava que ali estava alguém para quando precisasse. Não é exactamente a condição mais confortável para quem tem capacidade para alcançar bons resultados.

Lefevere não teve problemas em convencer Viviani. Marcel Kittel saiu para não ter de disputar um lugar na Volta a França com Fernando Gaviria, que já não é a estrela em ascensão, é a estrela que ameaça roubar a ribalta às actuais referências no sprint.  Em 2016 foi o alemão que quebrou contrato com a então Giant-Alpecin, para reencontrar-se com o seu melhor na equipa belga. Agora é Viviani quem encontrou um antídoto para recuperar a carreira numa estrutura que tem como palavras de ordem vencer, vencer, vencer. Lefevere dará o Giro a Viviani e ainda mais corridas onde será o italiano o líder. Se não havia espaço para Gaviria e Kittel coexistirem, sobra bastante para Viviani e Gaviria. Sim, numa herarquia de sprinters é o segundo, mas, ao contrário do que acontecia na Sky,  Viviani está inserido numa hierarquia.

Talvez tenha sido agora, aos 29 anos, que Viviani tenha encontrado a equipa de uma vida. E que grande resposta deu à confiança que lhe foi dada por Patrick Lefevere. Ganhou uma etapa no Tour Down Under, foi segundo na Cadel Evans Great Ocean´s Race e depois viajou até ao Dubai. Na volta dos sprinters, ganhou duas etapas, a geral e a classificação por pontos. Talvez nunca venha a conseguir ser colocado ao nível de um Kittel, Cavendish ou Greipel, mas não é isso que se lhe pede. O que se lhe pediu foi para agarrar as oportunidades que lhe fossem dadas. Três corridas e não pára de subir ao pódio.

Além da confiança que lhe foi transmitida pelo director da Quick-Step Floors, Viviani conta com ciclistas para o apoiarem. Mesmo quando for para o Giro, em que deverá haver um homem para a geral, Viviani não estará sozinho. O italiano sentir-se-á novamente parte de uma equipa. Ou mais correcto, parte importante de uma equipa. Será agora interessante perceber como irá estar ao lado de Fernando Gaviria na Milano-Sanremo. O colombiano quer começar a escrever a sua história em monumentos, mas Viviani poderá muito bem ser mais do que uma simples ajuda. Poderá ser um plano B se mantiver este nível de forma até 17 de Março. E com Gaviria certamente a ser alvo de marcação cerrada, Viviani tornou-se, de repente, num ciclista em que se conta de facto com ele para ganhar qualquer corrida em que participe. Lá está, os dois podem coexistir até em algumas corridas.

Início de época brutal da Quick-Step Floors... outra vez

Ainda nem se chegou a meio de Fevereiro e a equipa belga já soma 10 vitórias! Um registo exactamente igual ao do ano passado, ainda que com protagonistas diferentes. Viviani substituiu Marcel Kittel, que por esta altura em 2017 estava a celebrar a conquista da Volta ao Dubai, tal como em 2016. Patrick Lefevere bem pode sorrir. Aposta mais do que ganha em Viviani e o ano está só a começar. Pelo menos, o italiano promete que está à altura para cumprir o que é esperado dele, enquanto o sprinter alemão ainda está a tentar encontrar o melhor entendimento com os novos companheiros na Katusha-Alpecin. 

Kittel arrancou a temporada no Dubai e ficou a zero, situação um pouco frustrante tendo em conta que na volta dos sprinters, Mark Cavendish (Dimension Data) ganhou, Dylan Groenewegen (Lotto-Jumbo) ganhou e até Sonny Colbrelli (Bahrain-Merida) mostrou que não o devem menosprezar. Marcel Kittel não está sozinho no campo dos que falharam a desejada etapa nesta corrida. Nacer Bouhanni (Cofidis) e Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) também ficaram sem vitórias. John Degenkolb descansou um pouco a Trek-Segafredo ao ganhar no Trofeo Campos, Porreres, Felanitx, Ses Salines e no Trofeo Palma, provas do Challenge de Maiorca (estava há praticamente um ano sem ganhar). Porém, quando teve de enfrentar uma concorrência bem mais forte, revelou que ainda há trabalho a fazer.

A época está só nas primeiras semanas. Contudo, se um Kittel ou Bouhanni não estarão demasiados preocupados por não terem ainda ganho, já para Viviani era muito importante  vencer rapidamente para recuperar a sensação que pode ser um sprinter de classe A. Alexander Kristoff, por exemplo, bem precisa de um arranque de temporada mais forte do que apenas estar na discussão nos sprints.


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