Nelson Oliveira parte para a última etapa da Volta ao Algarve na discussão da corrida. O ciclista português está a aproveitar a liberdade que lhe foi dada, antes de regressar à sua função principal de homem de trabalho na Movistar. Este ano juntou-se Mikel Landa à equipa e muito se tem falado da convivência principalmente com Nairo Quintana. Oliveira não tem dúvidas que a equipa só tem a ganhar com a inclusão do espanhol. "Vão certamente dar-se todos bem", garantiu, dizendo que está preparado e motivado para trabalhar para três das grandes referências do ciclismo actual.
A época está no início, pelo que ainda não ficou bem claro como irá funcionar este trio nas grandes voltas. Nelson Oliveira salientou que só esteve com Landa, Quintana e Alejandro Valverde na concentração da Movistar em Outubro, já que nenhum deles esteve na Austrália, onde o ciclista da Anadia começou a temporada. "Vão dar-nos grandes alegrias", afirmou, acrescentando que o ambiente na equipa "é bom". Mas por agora, Oliveira pode pensar só nele. Depois de subir muito bem na Fóia, fez um contra-relógio ao seu nível, que o colocou na terceira posição na geral, a 32 segundos do líder Geraint Thomas.
"Não esperava estar tão bem na subida [ao Alto da Fóia]. As coisas saíram-me muito bem, melhor do que eu estava à espera", admitiu. Segue-se então a dupla passagem no Malhão no domingo, depois de na etapa deste sábado ter terminado no pelotão, com Dylan Groenewegen a conquistar a sua segunda vitória ao sprint na Algarvia. Houve um corte de três segundos, que até beneficiou Michal Kwiatkowski, segundo classificado, agora a 19 segundos. Tanto Thomas como o polaco são trepadores enorme qualidade, mas para o Malhão não se fazem previsões e Portugal poderá ter novamente um português no pódio, três anos depois de Tiago Machado ter sido terceiro. De recordar que o último vencedor foi João Cabreira em 2006.
Nelson Oliveira, que a 6 de Março celebra 29 anos, está a desfrutar de uma corrida no seu país, considerando que a Fóia e o Malhão são subidas que agradam a quem procurar aprimorar a forma. "São sempre bons testes e as equipas gostam de cá vir por isso mesmo. São etapas longas, normalmente bom tempo e com sobe e desce constante que ajuda a evoluir na forma", realçou. Uma coisa é certa, o objectivo de começar bem a temporada está a ser cumprido, depois de ter aquecido - e de que maneira - os motores no Tour Down Under. Terminou no 59º lugar, a 14:18 minutos do vencedor Daryl Impey (Mitchelton-Scott), tendo enfrentado temperaturas superiores a 40 graus. "Depois de regressar estive uma semana e meia para tentar recuperar da viagem e do jet lag. Lá estavam 40 graus e aqui estavam cinco! Foi uma semana meia bastante complicada", confessou.
"Queria ir principalmente à Flandres que é a corrida em que me enquadro melhor. Provavelmente não irei este ano ao Paris-Roubaix"
A época ainda não está bem definida para Oliveira, sabendo apenas que irá ao Tirreno-Adriatico (de 7 a 13 de Março). A fase das clássicas poderá sofrer algumas alterações: "Queria ir principalmente à Flandres que é a corrida em que me enquadro melhor. Provavelmente não irei este ano ao Paris-Roubaix, mas até lá ainda falta muita prova." Nos últimos dois anos, Roubaix não proporcionou boas memórias: duas edições, duas quedas com alguma gravidade. Outro dos objectivos para 2018 é, por isso mesmo, evitar azares que lhe estraguem parte da temporada, como lhe aconteceu em 2017 e que lhe acabou mesmo por o prejudicar quando chegou a altura de escolher a equipa da Movistar para o Tour. Ficou de fora das opções.
Nelson Oliveira teve de esperar pela Vuelta para fazer uma grande volta no ano passado. Contudo, valeu a pena. Com Quintana já a pensar em 2018 depois de ter estado no Giro e no Tour e com Valverde a recuperar da grave queda sofrida em França, a Movistar foi para a Volta a Espanha sem um líder. "É sempre bom ter uma experiência numa grande volta com liberdade e eu tentei aproveitar", contou. A certa altura da corrida, Oliveira chegou mesmo a ser o ciclista mais bem classificado da Movistar, ainda que tenha depois perdido posições. Na oitava etapa, ocupava a 11ª, terminando a Vuelta na 47ª, a mais de duas horas do vencedor, Chris Froome (Sky). "Deu para perceber que não sou um voltista! Mas gostei da experiência", frisou, considerando que a liberdade que teve para discutir as etapas também o ajudou a evoluir como homem de trabalho.
Seguiram-se os Mundiais em que a medalha de bronze escapou por sete segundos. "Faltou um bocadinho... Mas haverão mais Mundiais. É algo que quero e uma medalha é sempre uma mais valia para qualquer atleta. Mas soube bem estar naquele trono", disse, recordando o tempo que passou sentado no lugar destinado ao ciclista com o melhor tempo e onde esteve durante bastante tempo até que Tom Dumoulin, Primoz Roglic e Chris Froome fecharam o pódio final.
"[Nuno Bico] ainda tem um pouco que aprender, mas já demonstrou que é um grande ciclista"
E se os Mundiais farão sempre parte do programa de Oliveira, já o regresso aos Nacionais não é uma certeza. Na última edição, o ciclista não sabia que o horário de partida tinha sido alterado, pelo que acabou por não participar. Estamos a falar de um tetracampeão nacional, mas o quinto título poderá não ser para já. "Ainda estou a pensar no assunto [de participar os Nacionais] e também depende dos objectivos da equipa", afirmou. Mais provável será ver Nelson Oliveira a procurar mostrar-se nos contra-relógios que for encontrando nas corridas por etapas em que participar. "A equipa sabe bem que sou um contra-relogista e que tenho a possibilidade de fazer alguma coisa."
Perto de Nelson Oliveira estava um Nuno Bico que tinha sofrido no contra-relógio mais uma queda neste arranque de temporada, ele que no Tour Down Under até foi nomeado o ciclista mais combativo numa etapa em que ficou bem marcado após cair, mas continuou até final. É a segunda temporada do jovem de 23 anos na Movistar e no World Tour e Bico pode ter a certeza que conta com o apoio de Nelson Oliveira. "Vou-lhe dando alguns conselhos. Ainda tem um pouco que aprender, mas já demonstrou que é um grande ciclista. Tem que evoluir, mas tem potencial para estar a este nível", assegurou.
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