21 de fevereiro de 2018

Conselho de Wiggins: "Não vás para a Sky no futuro. Eles vão arruinar-te"

(Fotografia: Team Wiggins)
Bradley Wiggins quer transformar a sua equipa numa de referência na formação de jovens ciclistas que acabem por rumar ao World Tour. É o próprio que admite querer seguir o exemplo da Hagens Berman Axeon de Axel Merckx. Na apresentação da Team Wiggins para 2018 houve dois destaques: a inclusão de Thomas Pidcock, um dos ciclistas que mais expectativa está a criar já muito além da Grã-Bretanha, e a declaração de Wiggins sobre a possibilidade da jovem estrela, ou outro dos seus corredores, assinar um dia pela Sky: "Não vás para a Sky no futuro, vai para outro lado. Eles vão arruinar-te."

Como se pode calcular, a frase está a ter eco em vários meios de comunicação social. Afinal estamos a falar do ciclista que foi o líder indiscutível quando a Sky surgiu, que venceu a Volta a França e até se poderia pensar que a Team Wiggins poderia servir de certa forma como um trampolim de futuros talentos para a toda poderosa equipa de Dave Brailsford. O site Cyclist salienta que a declaração foi feita em tom de brincadeira, mas, a brincar a brincar... É ainda referido que ficou claro que foi também um recado muito sério.

Wiggins foi o símbolo inicial da Sky, mas a vitória na Volta a França em 2012, o principal objectivo quando a equipa foi criada, acabou por marcar a queda de estatuto do ciclista. Chris Froome mostrou várias vezes que estava mais forte que o seu líder e deixou claro que tinha de ser o número um, rapidamente. A Sky prometeu-lhe a liderança logo para o ano seguinte, com Wiggins a tentar planos alternativos, como o Giro. Porém, a vitória na Volta a Califórnia em 2014 soube a pouco, mas o título mundial de contra-relógio nesse mesmo ano soube certamente bem melhor, até porque meses depois acabou por deixar a Sky.

Claro que se volta sempre ao famoso caso do pacote entregue ao ciclista durante uma corrida, quando estava na Sky. O caso foi arquivado, mas ajudou, e de que maneira, a aumentar as suspeitas em redor de uma equipa que colocou no léxico ciclístico a expressão "ganhos marginais".

Owain Doull e Jonathan Dibben são dois ciclistas que foram para a Sky após uma passagem na Team Wiggins. Já se fala de Pidcock poder ser o próximo. É um autêntico prodígio de 18 anos, que soma camisolas de campeão nacional, europeu e mundial no ciclocrosse, mas também já tem títulos na estrada, sendo o campeão do mundo de juniores em contra-relógio. Já foi visto a treinar uma vez com a Sky, ainda que o jovem tenha dito que foi uma coincidência.

É difícil não ver a frase de Wiggins como um recado, ou mesmo um aviso, bem explícito. Porém, o antigo ciclista, que chegou a competir pela sua equipa até terminar a carreira em 2016 - agora está a dedicar-se ao remo - não compareceu na conferência de imprensa marcada para após a apresentação dos 17 jovens da Team Wiggins. Ficaram umas questões por fazer...

Além da frase sobre a Sky e dos elogios ao trabalho de Axel Merckx - Wiggins espera que a sua formação possa também começar a colocar muitos ciclistas no World Tour -, o antigo corredor, agora com 37 anos, afirmou que quer recuperar uma identidade do ciclismo: a proximidade com os fãs. Wiggins não quer os ciclistas "escondidos" em autocarros, quer que sejam vistos pelas pessoas, que estas possam conversar com eles. E lá saiu mais um recado em que não é preciso muito para perceber a quem se referia: "Vejam a maior equipa do mundo neste momento. Não é muito popular."

Wiggins realçou: "É tudo sobre os medidores de potência e os fatos. Quero regressar ao tempo em que encontravas o Bernard Hinault a vestir-se na parte de trás do carro. Longe vão os dias em que o patrocinador mete seis milhões de libras [cerca de 6,8 milhões de euros] só para aparecer na televisão!"

De recordar que a Team Wiggins tem presença prevista para a Clássica da Arrábida, no dia 11 de Março.


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