13 de fevereiro de 2018

Ruta del Sol na sombra de Chris Froome

Equipa da Sky para a Ruta del Sol (Imagem: Team Sky)
Por Espanha, e não só, bem se tenta centrar a maior atenção no facto de Mikel Landa ir fazer a sua estreia pela Movistar, com o bónus de o fazer frente a Chris Froome, antigo companheiro na Sky. No plano puramente desportivo, estar-se-ia a dizer que eis o primeiro frente-a-frente do espanhol e do britânico, depois de uma Volta a França em que Landa desafiou a hierarquia quase ditatorial da Sky e, de uma vez por todas, disse que queria ser líder e só líder. Será o primeiro encontro de uma rivalidade que promete. Ou pelo menos, assim se esperaria. Mas não, não se conseguirá falar apenas desse lado tão esperado do ciclismo. A Ruta del Sol (ou Volta à Andaluzia) ficará marcada pela questão: deveria Chris Froome estar a competir?

Se nos focámos nos factos, os regulamentos permitem que o britânico possa estar nas corridas enquanto decorre o processo para esclarecer os níveis elevados de salbutamol (substância encontrada no medicamento para a asma) detectados na sétima etapa da Volta a Espanha. Froome tinha o dobro do permitido no seu organismo. Porém, os regulamentos - a Sky terá sempre do seu lado os regulamentos - determinam que esta é uma substância permitida, com limites, não estando na lista entre as que dão suspensão provisória imediata, caso um corredor exceda o permitido.

Depois há a situação de fuga de informação. Este é um processo que já estava a decorrer quando em Dezembro foi divulgado pelo The Guardian e o Le Monde. Dave Brailsford, o director da equipa, continua a bater na tecla que o caso nunca deveria ter sido tornado público. Por mais razão que possa ter, desgastar essa tecla apenas reforça a imagem que parece haver algo a esconder. E esse é um fantasma que rodeia há algum tempo a Sky, principalmente depois da mal explicada situação conhecida como o "pacote suspeito" que foi entregue a Bradley Wiggins, quando este era o líder da formação britânica. Nada foi provado e o processo foi arquivado.

Depois "rebentou" a polémica em redor de Froome. Este é o ciclista que, quando ganhou o primeiro Tour, disse que seria uma vitória que perduraria no tempo, em alusão ainda ao escândalo Armstrong e a todos os casos de doping ou de suspeita que marcaram a modalidade nas últimas duas décadas. Froome sempre quis passar a mensagem de um ciclismo limpo, mesmo quando foram lançadas dúvidas sobre os chamados ganhos marginais da Sky e que provocaram uma ira desmedida de certos adeptos, que chegaram a agredir, a cuspir e a ofender os corredores da equipa.

O regulamento está do lado de Froome e da Sky. Contudo, são muitas as vozes que apelaram a uma auto-suspensão. Se a Sky não o faz, que fizesse Froome, sugeriu-se. Ciclista e equipa mantém-se serenos e sem responder a tais apelos, dizendo apenas que querem que o processo decorra rapidamente. Porém, poderá demorar meses.

Talvez mais do que os regulamentos, aquilo que se pede nesta altura é bom senso. Se Froome tanto defende um ciclismo limpo, não deveria ser o primeiro a ficar de fora até esclarecer o caso? Afinal se não conseguir provar que não ingeriu aquela quantidade excessiva de salbutamol, será suspenso e verá eliminados todos os resultados desde a Volta a Espanha. O que mais se teme é que imagem está o britânico a passar da modalidade. Só se irá realmente perceber quando o ciclista estiver na estrada e, principalmente, quando o processo for concluído.

Não podem existir dúvidas que se quer ver Froome em prova. Que se quer ver Froome a tentar ganhar o Giro e depois atacar um quinto Tour. Que se quer ver Froome enfrentar Mikel Landa, Tom Dumoulin, Nairo Quintana, Romain Bardet... Mas estando a competir, vamos estar a ver Froome e a pensar se o que estamos a ver ficará registado nas classificações. Não será esquecida aquela Volta a Itália em que Alberto Contador ganhou tão brilhantemente, mas que depois, numa situação idêntica à de Froome, lhe foi retirada. Aquelas exibições valeram então o quê? Bons momentos de ciclismo, certamente, mas que afinal... não valeram nada desportivamente.

Os regulamentos permitem que Froome compita, por isso, resta-nos fazer um esforço e pensar na Ruta del Sol e nas corridas que se seguirão com o britânico até o processo estar concluído, como provas de preparação do ciclista para os seus objectivos de uma temporada que quer que seja auspiciosa. Mas lá está, pode acabar marcada por uma suspensão. Não será fácil pensar apenas no aspecto desportivo.

Que Mikel Landa, Froome, Steven Kruijswijk, Jakob Fuglsang, entre outros, dêem espectáculo. E não se vai esconder que muito se quer ver Landa vs Froome. Os portugueses terão um interesse extra: Amaro Antunes e José Mendes. Agora na Burgos-BH, Mendes tem cumprido o calendário espanhol. Quanto a Amaro Antunes viu a sua nova equipa, a CCC Sprandi Polkowice, ficar de fora dos convites para a Volta ao Algarve, pelo que ao mesmo tempo que decorre a corrida na "sua casa", estará na Ruta del Sol. Esteve muito bem na Volta à Comunidade Valenciana, terminando na décima posição e não se espera outra coisa que não seja mais uma demonstração de qualidade deste ciclista, que não quer desperdiçar oportunidades de se mostrar ao lado dos melhores já no arranque de temporada.

A corrida espanhola terá transmissão no Eurosport 2, não esquecendo que logo a seguir será possível assistir à Volta ao Algarve, neste caso numa transmissão partilhada com a TVI24.

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