Aproxima-se o 30º aniversário e Tejay van Garderen não esconde que aquele número está a mexer com ele. O contrato com a BMC termina no final de 2018. Sobe um pouco mais a pressão! Em 2017, Van Garderen viu-se fora da Volta a França que tanto gosta e admitiu que lhe custou, ainda que tenha ido ao Giro mostrar um pouco daquele ciclista que não há muito tempo se esperava vir a ser. Ou seja, uma referência, o americano que traria de volta àquele país a credibilidade de um vencedor numa grande volta. Não o foi. Ainda poderá ser? Chegou a época do tudo ou nada. Van Garderen sabe disso. A BMC não perdeu a crença no seu ciclista, mas é difícil afastar alguma desconfiança que ainda possa render o que lhe é esperado. O que lhe é obrigado.
Van Garderen não tem problemas em dizer que não soube lidar da melhor forma com as tremendas expectativas que foram criadas depois de dois quintos lugares na Volta a França, em 2012 e 2014, além de outras exibições animadoras ainda muito jovem. Em 2015 Cadel Evans terminou a carreira e tinha chegado o momento de Van Garderen assumir um estatuto para o qual havia sido preparado durante quatro anos. Com as expectativas, veio um contrato muito, muito simpático. O americano sentiu a responsabilidade e quebrou em momentos chaves mais psicologicamente, do que fisicamente. Não ajudaram algumas quedas e problemas de saúde.
Entretanto, Romain Bardet e Nairo Quintana, por exemplo, comprovaram as expectativas que partilhavam com Van Garderen. A concorrência singrou, o americano eclipsou-se. A chegada de Richie Porte não tinha como intenção relegar Van Garderen para segundo plano, mas o australiano, mais experiente e claramente mais forte mentalmente, soube agarrar uma liderança que Van Garderen mostrou receio em assumir. "Passei por um período em que quase... Eu perdi um pouco da paixão. Mas está de volta. Tive um dos melhores Invernos. É difícil, mas não podemos ser um ciclista de topo sem isso [trabalho intenso]. Há muito sacrifício. É um desporto muito difícil", desabafou o ciclista da BMC ao Velonews.
Algo, senão muito, tem de mudar e Tejay van Garderen começou por uma alteração de morada. Deixou Aspen, no Colorado (EUA), com a ideia a ser da sua mulher, Jessica Philips, antiga ciclista. O casal até leiloou parte dos seus bens e doou o dinheiro a algumas organizações ligadas ao ciclismo. Agora residem com as duas filhas, de quatro e um ano, em Girona, na Catalunha. "Há uma boa comunidade de ciclista lá. Pessoas que já conhecemos. O tempo é bom e há boas estradas", salientou ao Aspen Times. Um dos objectivos passa por dar alguma estabilidade familiar. Cerca de oito meses do ano são passados a competir na Europa e viver em Girona permite reduzir o tempo de viagem e evitar ter a mulher e as filhas a estarem constantemente a fazerem as malas e atravessar o Atlântico para estar com Van Garderen. Por outras palavras, o ciclista estabiliza um lado da sua vida e tal poderá ter consequências positivas no lado desportivo.
No ano passado ganhou uma etapa no Giro, a primeira numa grande volta, num momento que o fez respirar de alívio. Foi depois à Vuelta fazer 10º na geral. Recusa falar na sua melhor temporada de sempre e recusa também falar em planos concretos para a época. "Não sei. Só quero ir a todas as corridas e estar lá para as ganhar. Estou contente com o que alcancei na minha carreira, mas sou certamente capaz de fazer mais."
Gostou do Giro, mas é o Tour que quer e a BMC vai novamente levá-lo a França depois de um ano de interregno. Desta fez não haverá liderança partilhada como em 2016. Richie Porte será, em condições normais, o número um indiscutível. Van Garderen não se quer colocar na posição de "apenas" um gregário e quer aproveitar o Tour para mostrar o potencial que teima em esconder nas quedas, nas doenças... na mentalidade de um ciclista que precisou de mais tempo do que se esperava para crescer. Estará no ponto? "O Tejay terá o seu maior papel de sempre no ciclismo. Acredito no Tejay. Teve uns anos menos bons, mas com algumas mudanças, vamos ver um Tejay muito melhor em 2018. Ele está mais motivado, mais relaxado, mais focado", afirmou o director da equipa Jim Ochowicz, que garantiu que o ciclista terá as suas oportunidades ao longo da temporada.
O facto de não ter a pressão de outrora no Tour, estando essa do lado de Richie Porte, poderá ser libertador para Van Garderen. Talvez seja o desbloqueio mental que o americano precise. Claro que a pressão continua a ser muita, como já se explicou. Não há grande margem para falhar, mas sendo outra a responsabilidade, pode o americano conquistar um segundo fôlego na equipa, talvez mesmo renovar. Basta imaginar: se Porte vencer o Tour (ou se pelo menos fizer pódio) e Van Garderen for um braço direito de luxo, a confiança regressa tanto na direcção da BMC, como no ciclista.
"Neste momento não estou numa situação que possa dizer à equipa para construir uma à minha volta, especialmente quando temos um ciclista como o Richie Porte. Percebo isso e estou bem com essa situação. Acho que posso dar a volta e perceber como agir para fazer o que já fiz no passado." É mesmo o ano do tudo ou nada para Van Garderen na BMC que a 12 de Agosto fará 30 anos, aquele número que o está fazer com que veja a carreira com outros olhos. E que bom seria ver o americano finalmente libertar todo o seu potencial, pois quando esteve bem, deu grandes espectáculos de ciclismo.
Poderemos ver Van Garderen na Volta ao Algarve ao lado de Richie Porte, a partir da próxima quarta-feira e até domingo. A BMC é mesmo das equipas que traz dos conjuntos mais fortes. Simon Gerrans, Stefan Kung, Jurgen Roelandts, Dylan Teuns e Loïc Vliegen completam o sete americano.
Até se pode dizer que Van Garderen é um veterano na Algarvia: em 2008 foi 16º com a equipa Continental da Rabobank; no ano seguinte terminou na 52º lugar; já na HTC-High Road foi nono em 2010, a 1:33 de Alberto Contador; seguiu-se um segundo lugar, com 32 segundos a separá-lo do então companheiro de equipa Tony Martin; e em 2012, na sua primeira temporada na BMC, terminou na sétima posição, a 1:13 de... Richie Porte (Sky).
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