5 de fevereiro de 2018

Chris Froome anuncia onde vai começar a competir em 2018. Será bem recebido?

(Fotografia: Team Sky)
Chris Froome acabou com as dúvidas. Vai mesmo competir e tem estreia marcada para a Ruta del Sol, entre 14 e 18 de Fevereiro. O britânico tem andado na África do Sul, longe de olhares indiscretos, num país que tem eleito para preparar os seus objectivos. Enquanto treinava, muitas foram as vozes a pedir uma rápida conclusão do processo que envolve Froome, enquanto outras comentaram como a Sky deveria ter suspendido o ciclista, ou o próprio deveria manter-se afastado até se conhecer se os elevados níveis de salbutamol lhe vão valer ou não uma sanção. Se ter Froome numa competição era, em condições normais, algo espectacular para qualquer organizador, agora até no Giro já ficam indicações que o melhor era não lá estar. Certo, é que Chris Froome quer arrancar a sua época e é Espanha que o receberá, depois de ter sido lá que viveu o seu último momento de glória e de ter sido também nesse país que acusou os elevados níveis do medicamento para a asma.

Recentemente foi noticiado em Itália, no Corriere della Sera, que Froome estaria disponível para chegar a acordo e assim receber uma sanção menos pesada, ou seja, afastando o cenário de dois anos se suspensão, como aconteceu com Diego Ulissi em 2015. Como causa, ficaria sem a Vuelta e a medalha de bronze dos Mundiais, no contra-relógio. Ulissi, recorde-se, cumpriu nove meses de castigo.

O jornal referia que o britânico estaria convencido que não poderia vencer o processo e assim, pelo menos poderia aspirar estar na Volta a Itália, ou pelo menos no Tour. As palavras publicadas esta segunda-feira indicam que Froome continua disposto a lutar. "Estou confiante que vamos conseguir averiguar o que aconteceu e estou a trabalhar muito com a equipa para que tal aconteça. Ninguém está mais interessado do que eu em avançar com as coisas o mais rapidamente possível", lê-se no comunicado. O ciclista realçou ainda que compreende que "a situação cria uma enorme incerteza" e que tal gera "muito interesse e especulação".

As últimas informações apontam que a defesa irá recair na hipótese de o funcionamento irregular dos rins ter provocado os elevados valores de salbutamol, detectados na sétima etapa da Vuelta, corrida que acabaria por conquistar. Teme-se que o caso poderá arrastar-se por vários meses, pois mesmo após a decisão do órgão que está a conduzir o processo na UCI, o caso poderá acabar no Tribunal Arbitral do Desporto..

Mauro Vegni, director do Giro, tem sido activo no apelo para que haja uma rápida conclusão. O responsável da RCS Sport não quer uma repetição da edição de 2011, ganha por Alberto Contador, que também esperava a conclusão de um processo que acabaria com a sua suspensão e a retirada de todos os resultados desde o Tour do ano anterior, quando houve a análise positiva por clembuterol. O antigo ciclista espanhol tem sido um dos que tem pedido para que a decisão seja rápida, pois sabe bem o que é competir na incerteza.

Se Chris Froome for sancionado, todos os resultados que alcançar até ao anúncio da conclusão do processo, a começar com a vitória na Vuelta, ser-lhe-ão retirados.

Que ambiente irá encontrar Froome?

O britânico acusou o dobro do permitido de salbutamol, mas sendo uma substância que não dá uma suspensão provisória imediata, Froome pode competir. As suspeitas de doping na Sky têm acompanhado a equipa nos últimos anos. Inclusivamente, os ciclistas da equipa já sofreram na pele a ira de adeptos que lhes cuspiram e até agrediram durante uma Volta a França, quando nos jornais se especulava sobre o que se estaria a passar na Sky. Não ajuda o famoso "pacote suspeito" que envolve Bradley Wiggins, quando este era o líder da formação britânica, que assombrou a equipa no último ano.

Com alguns ciclistas do pelotão a serem da opinião que Froome deveria ter sido suspenso pela Sky, ou então ter-se auto suspendido, como defendeu Romain Bardet (AG2R), fica a dúvida: que ambiente irá Froome encontrar em prova, tanto pelos corredores, como pelos adeptos. Lance Armstrong até disse algo que provavelmente terá razão. Se o britânico for ao Tour sem o processo concluído, vai ter três semanas infernais.

Talvez mais do que ciente da delicadeza da situação, o director da Ruta del Sol, ou Volta a Andaluzia, já veio dizer que irá receber Froome de braços abertos. "Será um prazer e uma honra", disse Joaquín Cuevas à agência Efe, citado pela Marca. Será a terceira presença de Froome nesta prova espanhola. Estreou-se em 2011 na 50ª posição, numa edição ganha por Markel Irizar. Regressou em 2015, já como vencedor de um Tour, e bateu na geral Alberto Contador, por dois segundos.

"Treinei duramente em Janeiro. Já passaram alguns anos desde a minha última Ruta del Sol. Foi uma corrida que gostei e por isso estou entusiasmado por regressar", admitiu o líder da Sky. O ciclista colocou os dados dos seus treinos na conhecida aplicação Strava e foram cerca de cinco mil quilómetros e muitos a ritmo bem elevado.

A Volta ao Algarve era uma hipótese já que a Sky será uma das equipas presentes. A prova portuguesa realiza-se na mesma data da espanhola. Não haverá Froome, mas estará Geraint Thomas (vencedor em 2015 e 2016) e que procura ser novamente líder numa grande volta, tendo até já avisado Froome e a Sky que quer a sua oportunidade, mesmo que tenha de estar ao lado do companheiro de equipa. Michal Kwiatkowski, outro vencedor da Algarvia, em 2014, também colocou a corrida na sua agenda. Também o polaco vai reclamando um maior estatuto.

Além de se questionar qual será o ambiente nesta estreia em competição de Froome em 2018, fica também a pergunta de como estará o ambiente dentro da própria equipa. Wout Poels quer igualmente mais do que ser gregário em grandes voltas, David de la Cruz chegou à Sky e já quer a Vuelta para ele. Como sairá a liderança de Froome deste caso? Mais uma questão, cuja resposta poderá depender muito da resolução do processo. Mas dificilmente tudo será como antes...

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