Em 2014 Joaquim Silva ainda não era profissional, mas foi quando percebeu que poderia ter capacidade de chegar a uma equipa de grande nível internacional. É o próprio quem o admite. No entanto, passaria por momentos difíceis que acabaram por o ajudar a evoluir como ciclista e depois de dois anos como um dos homens mais importantes da W52-FC Porto, considerou que tinha chegado a altura certa para dar um passo em frente na carreira, agarrando a oportunidade de representar a Caja Rural. Na Volta ao Algarve aparece com liberdade para lutar por um bom resultado e aponta já ao segundo dia, na subida ao Alto da Fóia e também a domingo, quando a corrida terminar no Malhão.
"Neste último ano consegui muitos bons resultados a nível internacional e também alguns a nível nacional. Acho que foram essas boas referências que me levaram a dar esse passo. É um sonho tornado realidade", confessou ao Volta ao Ciclismo. No périplo por Espanha em 2017, Joaquim Silva conseguiu quatro top 30 em clássicas, foi nono na Volta às Astúrias e oitavo na Volta a Castela e Leão. Na Volta a Portugal teve um papel importante na conquista de Raúl Alarcón, mas nas clássicas de início de temporada, Arrábida e Aldeias do Xisto, foi 11º e 23º, respectivamente. E estes são resultados de um ano, pois a consistência vem desde que era ainda sub-23. E foi essa mesma consistência ainda muito jovem que o fez perceber que poderia ter uma grande carreira. "Já tinha algumas referências, principalmente em 2014 quando fiz um ano muito bom tanto a nível internacional como nacional. Vi que se calhar poderia ter uma possibilidade de subir para uma equipa assim. Depois foi continuar a trabalhar e conseguir dar esse passo", recordou.
Respira fundo quando recorda 2015, ano em que assinou pela então W52-Quinta da Lixa. "Foi complicado quando passei a profissional. Vinha de um ano muito bom e depois, em 2015, passei ao lado. As coisas não me saíam. Andava sempre com uns valores muito baixos em termos de condição física. Treinava, mas as coisas simplesmente não saíam", desabafou. 2016 começou com uma gastroenterite na Volta ao Algarve e consequente abandono. Na semana seguinte caiu, também no sul do país, e partiu a clavícula. "Quando voltei, a partir daí, foi sempre no meu melhor. No ano passado tive uma época espectacular, sempre em muito boa condição física e acho que isso [os problemas físicos] já está ultrapassado", referiu, acrescentando de imediato: "Também nos faz crescer. Costumo dizer que 70% dos momentos no ciclismo são maus e 30% são bons e são esses que temos de aproveitar. Por agora, estou a viver nesses 30%."
"Sou novo e quero mostrar serviço e às vezes posso cometer algum erro a treinar, forçar mais, ou algo assim. E ele [Rafael Reis] vai-me dando conselhos"
Na Caja Rural, equipa Profissional Continental, Joaquim Silva não notou diferença nos métodos do treino, assegurando que em Portugal, mesmo sendo as equipas do escalão inferior, já se trabalha muito bem. Porém, há um pormenor que lhe custou um pouco: "Estamos habituados a estar poucos dias fora de casa. Estamos uma ou duas semanas no máximo. Agora estive quase um mês fora e essa parte acho que é o único inconveniente. Mas é uma questão de adaptação e isso acontecerá facilmente." E para que não restem dúvidas de como o ciclista de 25 anos está feliz com a sua escolha: "Está a ser uma experiência incrível! Espero continuar a desfrutar como tenho desfrutado até agora. É um sonho."
Subindo de escalão, abrem-se as portas de outras corridas - esteve recentemente na Argentina, na Volta a San Juan (39º) - e claro que Joaquim Silva ambiciona estar numa grande volta, sendo a Caja Rural presença habitual na Vuelta. "Este ano não sei se a farei. Sou novo na equipa e se calhar tenho de ganhar um pouco de estatuto, o meu lugar, mas trabalharei para isso, sem dúvida. E só assinei por um ano, portanto trabalharei para assinar por mais um", realçou.
A equipa espanhola tem apostado muito em ciclistas portugueses. Por lá passaram mais recentemente os gémeos Gonçalves e Ricardo Vilela, por exemplo. Há um ano foi Rafael Reis que deixou a W52-FC Porto pela Caja Rural, caminho que seguiu agora Joaquim Silva. Será que houve alguma influência? "Penso que sim. Certamente que lhe perguntaram como eu era tanto como ciclista, como a nível pessoal. Com certeza que ele falou bem de mim e isso ajudou bastante."
Estiveram juntos em 2016 na formação do Sobrado e agora Rafael Reis tem sido importante na adaptação a um nível diferente. "Sou novo e quero mostrar serviço e às vezes posso cometer algum erro a treinar, forçar mais, ou algo assim. E ele vai-me dando conselhos, para ter calma, até porque a época é muito mais longa, mais dias de corrida e um nível muito superior. Isso pode fazer mossa na parte final da temporada", contou. E Rafael Reis até é um exemplo de como apenas no primeiro ano na Caja Rural é possível ganhar a confiança dos responsáveis e ser chamado para a Volta a Espanha.
Os dois portugueses lideram uma equipa muito jovem, Rafael e Joaquim até são os mais velhos, mas o ciclista garante que toda a equipa está na Volta ao Algarve para se mostrar. "Temos uma equipa bastante jovem, mas que traz muita garra e muita ambição para esta corrida", frisou. A nível individual o desejo é: "Gostava de estar na frente, principalmente no dia de amanhã [quinta-feira] e no Malhão, pois são etapas que se adequam às minhas características. Se na geral puder fazer melhor do que no ano passado, será muito bom." Ou seja entrar no top 25. Neste primeiro dia de corrida, Joaquim Silva foi 100º, integrando o pelotão que viu Dylan Groenewegen ganhar a primeira etapa. Já Rafael Reis, perdeu 57 segundos (120º). E como referido por Joaquim Silva, o companheiro espanhol Josu Zabala, integrou a fuga do dia.
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