(Fotografia: João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo) |
Este polaco que por cá ganhou em 2014, num ano em que viria a sagrar-se campeão do mundo, até pode ter passado por uma fase mais discreta, principalmente depois de ter assinado pela Sky, em 2016. Mas foi algo esporádico. No ano passado recuperou toda a sua confiança e como deve ter ajudado bater Peter Sagan ao sprint na Milano-Sanremo, apenas e só um dos monumentos do ciclismo... e dos sprinters, que Kwiatkowski não é. O ciclista que se viu na Fóia é aquele que já o levou a reivindicar uma oportunidade para uma grande volta à Sky. Talvez ainda tenha de esperar mais um pouco e entretanto será pelas clássicas e provas de uma semana que pode ir construindo um currículo que começa a impressionar para quem tem 27 anos. Não vence muito, mas vence em grande.
Na segunda etapa da Volta ao Algarve (Sagres-Fóia, 187,9 quilómetros) foi um recital táctico da Sky. Vasil Kiryienka, aquela máquina de impor ritmo, saltou para a frente. É raro, mas de vez em quando a equipa britânica dá um retoque na imagem habitual. Não ficou a controlar o pelotão quando a fuga do dia foi apanhada. Nela esteve um homem da casa, um algarvio, leia-se. Ricardo Mestre (W52-FC Porto) esteve acompanhado por mais dois ciclistas de equipas portuguesas Marcos Jurado (Efapel) e Oscar Pelegri (Rádio Popular-Boavista). Lukas Pöstlberger (Bora-hansgrohe), Yves Lampaert (Quick-Step Floors), Benjamin King (Team Dimension Data) e John Degenkolb (Trek-Segafredo) completaram o grupo.
Mas o dia foi da Sky. Kiryienka lá foi para a frente e obrigou as outras equipas a trabalhar. Nada de novo tacticamente no ciclismo, não se estivesse a falar de uma Sky que tanto gosta de controlar em bloco. Por momentos parecia que ia mesmo sair um coelho da cartola, mas esta subida foi longa, mais de 15 quilómetros. Este ano foi pela vertente mais extensa que se subiu à Fóia e o espectáculo foi maior e a indefinição na geral mantém-se (e de que maneira). Aposta ganha nesta escolha de percurso. Daniel Martin queria repetir o triunfo de há um ano e assim conseguir o seu primeiro com a camisola da UAE Team Emirates. Bob Jungels (Quick-Step Floors), Bauke Mollema (Trek-Segafredo), Richie Porte (BMC) e Louis Meintjes (Dimension Data) também estavam à espreita.
Kiryienka é homem de ritmo e que qualidade tão preciosa tem sido para Chris Froome no Tour, mas a Fóia pedia algo mais. Pedia um pouco de explosão. Kwiatkowski e Geraint Thomas esperaram, viram os adversários desgastarem-se e saltaram eles para ganhar a etapa e vestir a camisola amarela. O polaco ficou ainda com a dos pontos. Benjamin King tirou a da montanha ao português João Rodrigues (W52-FC Porto), enquanto Sam Oomen mantém-se na luta pela juventude. Afinal o seu joelho parece estar a aguentar e o holandês da Sunweb já tem mais de dois minutos de vantagem sobre André Carvalho (Liberty Seguros-Carglass) e José Neves, mais um ciclista da W52-FC Porto.
Vamos agora até Lagoa, para o contra-relógio de 20,3 quilómetros. Vamos com Thomas na liderança, mas com Jaime Rosón (Movistar), Michal Kwiatkowski, Daniel Martin e Bauke Mollema (Trek-Segafredo) todos com o mesmo tempo do líder. Depois são só três segundos a separar Jungels e Richie Porte (BMC), por exemplo. A seis vem mais um grupo de ciclistas, entre eles Joaquim Silva. O corredor da Caja Rural foi o melhor português na etapa (14º) e é também na classificação geral (16º).
Nelson Oliveira (Movistar) surge a 10 segundos e o contra-relógio é uma arma potente para chegar mais perto da frente da corrida. A expectativa é enorme neste momento para o ciclista de Anadia, assim como Joaquim Silva, que poderá perder algum tempo esta sexta-feira, mas no Malhão estará novamente a lutar para estar na frente da corrida. E atenção a José Neves. Não é algarvio como João Rodrigues ou Ricardo Mestre, mas também é só subir um pouco até ao Alentejo. Porém, o reforço da W52-FC Porto é bicampeão nacional de contra-relógio em sub-23 e não pode baixar os braços na classificação da juventude. Fisicamente, Oomen não é um garantia devido ao problema no joelho e Neves quer mostrar-se desde cedo a Nuno Ribeiro, director desportivo da equipa portuguesa que mais se está a mostrar na Algarvia. Aquela camisola branca pode não estar tão decidida como parece.
Não nos esqueçamos da Aviludo-Louletano-Uli. Que vontade há na formação algarvia em somar uma vitória pelas suas terras. Vicente García de Mateos está no grupo dos três segundos, é bom contra-relogista e está feito num especialista na montanha, como bem demonstrou na última Volta a Portugal, quando terminou no pódio.
Aceitam-se apostas para o contra-relógio e numa perspectiva da geral, Jungels terá uma excelente oportunidade para tirar a amarela a Thomas. O problema é o que galês também sabe bem o que é vencer no esforço individual. Fê-lo em Dusseldorf no arranque do Tour, no ano passado e não se importaria nada de conquistar a Algarvia pela terceira vez.
Vai-se olhar muito para Tony Martin, é o quatro vezes campeão do mundo, mas o percurso de Lagoa é mais técnico do que o de Sagres e logo deixa uma maior incógnita.
É um contra-relógio em circuito com o arranque marcado para as 13:55, com Damien Marques, do Miranda-Mortágua, a ser o primeiro a partir. De recordar que a Volta ao Algarve está a ter transmissão televisiva no Eurosport 2 e na TVI24, mas quem estiver por perto, que tal ver ao vivo algumas das grandes estrelas do ciclismo mundial em Lagoa? Fica o convite porque o espectáculo está mesmo a valer a pena. Neste link pode conferir como estão todas as classificações.
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