23 de setembro de 2017

Corrida de elite com muitos candidatos e portugueses ambiciosos

Há dois anos que Sagan anda a ganhar corridas com a camisola do arco-íris
Irá continuar? (Fotografia: Velo Imagens/Bora-Hansgrohe)
Será que Peter Sagan vai tornar-se no primeiro ciclista a conquistar três títulos mundiais consecutivos? Foi expulso da Volta a França por terem considerado que teve uma conduta perigosa que originou a queda de Mark Cavendish. O eslovaco reagiu a uma injustiça e à polémica como melhor sabe: quando voltou à competição continuou a ganhar. Quatro vitórias e a última, no Grande Prémio do Quebeque, foi a centésima de uma carreira brilhante. E só tem 27 anos! Tem capacidade para ganhar num dia para sprinters, ou num dia para ciclistas mais completos, ou seja, que ultrapassem certas subidas. Em Bergen tem um circuito deste género à sua espera. Passar 12 vezes uma difícil subida vai doer a muitos, mas também beneficia muitos mais. Sagan tem sempre rivais, mas esta corrida em solo norueguês tem a particularidade de permitir a vários tipos de ciclistas aspirarem ao título mundial. Temos sprinters, homens de clássicas e até voltistas. Tom Dumoulin quer ter os Mundiais perfeitos: contra-relógio colectivo e individual já estão, falta o título de estrada.

Dumoulin pode espreitar uma oportunidade, mas sabe que na sua Holanda, Lars Boom ou Niki Terpstra são ciclistas mais adequados para o dia. No entanto, este Dumoulin está muito motivado e acredita que pode ganhar ou pelo menos levar mais uma medalha. Mas este percurso pode proporcionar muita história. Se assim não fosse, porque razão Nairo Quintana estaria de volta aos Mundiais quatro anos depois, acompanhado por Rigoberto Uran, Sebastián e Sergio Henao e Jarlinson Pantano? E esta Colômbia... Que selecção! Fernando Gaviria é o principal candidato, mas atenção a um jovem talentoso Jhonatan Restrepo.

Michal Kwiatkowski (Polónia) e Julian Alaphilippe (França) só pensam em vencer. O primeiro é um dos quatro campeões do Mundo presentes. Peter Sagan, Philippe Gilbert e Rui Costa fecham este grupo de elite, onde faltará Mark Cavendish - dos ciclistas em actividade - que ficou de fora da convocatória, depois de uma temporada marcada por uma mononucleose. 

Quando se olha para a lista de inscritos começa-se logo a somar os ciclistas que podem muito bem chegar ao título mundial. Uns mais favoritos do que os outros. Tentando não alongar em demasia, Michael Matthews é um caso sério para levar para a Austrália a camisola do arco-íris, depois de Cadel Evans o ter feito em 2009. O australiano perdeu para Peter Sagan em 2015. Gianni Moscon, Diego Ulissi e Elia Viviani - e porque não Sonny Colbrelli - (Itália); Zdenek Stybar (República Checa), Peter Kennaugh e Ian Stannard (Grã-Bretanha), Gorka Izagirre (Espanha) e, claro, a selecção da casa, com Edvald Boasson Hagen e Alexander Kristoff. São alguns dos candidatos, mas há muitos mais...

No caso específico da Noruega e a "jogar" em casa, muito se espera. Porém, teme-se que a rivalidade e não companheirismo entre as suas duas estrelas possa provocar mais estragos do que trazer sucesso. O problema já vem dos Mundiais do Qatar. Na altura, Kristoff acusou Boasson Hagen de não o ter ajudado e de ter tentado obter ele um bom resultado. Kristoff não teve um bom ano, mesmo ao conquistar o título europeu. Hagen esteve dentro do esperado, demonstrando chegar a Bergen em boa forma, como assim pretendia. Como vai estar a Noruega organizada? São nove ciclistas que se terão de entender.

E depois temos a Bélgica. Basicamente todos podem ser campeões se os analisarmos individualmente. Além de Gilbert, há Greg van Avermaet e Oliver Naesen. Os três tiveram uma grande temporada de clássicas. Tiesj Benoot, Jasper Stuyven, Tim Wellens, Dylan Teuns, Julien Vermote e Jens Keukeleire, completam o nove belga. Que luxo! Também será interessante ver como se vai organizar esta selecção. Com tantas possibilidades, ou há entendimento e respeito em vez de rivalidade, ou tanta qualidade poderá ser desperdiçada. Se há ano em que a Bélgica voltar a ter um campeão, é este. Gilbert foi o último em 2012.

Mais? Talvez o melhor seja deixar aqui o link para a lista de inscritos, ou ficaremos a falar de candidatos até ao início da corrida! Veja aqui o pelotão da prova de elite.

E agora os portugueses

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
Porque não pensar que poderemos entrar na luta? Há que ter ambição e isso existe. Rui Costa opta por um discurso mais cuidadoso. Tiago Machado alerta como a subida vai desgastar muito boa gente. O campeão nacional Ruben Guerreiro, Nelson Oliveira - quarto no contra-relógio -, José Gonçalves e Ricardo Vilela completam a equipa portuguesa. É normal que muita atenção se vá centrar em Rui Costa, o campeão de 2013, mas se não temos ninguém para disputar um sprint, temos que sobra para entrar em fugas e mexer com a corrida. E com seis ciclistas, também será possível fazer algum controlo, ainda que não seja fácil perante as grandes selecções com nove homens.

O mais provável é que seja uma corrida muito indefinida, com muitos ciclistas a tentarem evitar o sprint final e outros a trabalharem para garantir que assim seja. A experiência de Rui Costa, Tiago Machado e Nelson Oliveira poderá ser essencial. A forma de correr muito espontânea de José Gonçalves pode abrir portas. Ricardo Vilela é a maior incógnita, mas terá um papel importante na subida que poderá definir muito a corrida. O jovem Ruben Guerreiro está desejoso de se mostrar mais um pouco no ano em que chegou ao World Tour e tem características que podem beneficiá-lo neste percurso acidentado de Bergen.

"O percurso não é perfeito para a nossa equipa. Sabemos que as selecções com sprinters querem que chegue um grupo grande e não será fácil fragmentar o grupo na subida, que não é tão exigente como eu gostaria. No entanto, nas últimas voltas haverá ataques e surgirão oportunidades. É essencial que estejamos atentos a esses momentos, porque há percursos que parecem fáceis e tornam-se difíceis", disse Rui Costa, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

“Uma coisa e fazer a subida uma vez e outra é fazê-la doze vezes. Já diz o ditado que 'carga leve, ao longe pesa'. Teremos cerca 3200 metros acumulado, o que fará mossa. Acredito que será um grupo pequeno a discutir a corrida. Temos ciclistas para estar nessa luta, precisamos é de ter os olhos abertos", acrescentou Tiago Machado.

Serão 276,5 quilómetros de espectáculo para saber quem irá vestir a desejada camisola do arco-íris. Tudo começa às 9:05 (hora de Portugal Continental), com transmissão no Eurosport.


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