7 de setembro de 2017

Aguenta coração!

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Depois desta etapa foi a primeira expressão que ocorreu. Aguenta coração! É uma conhecida expressão dita por uma das vozes de rádio mais conhecida nos relatos de futebol, Nuno Matos, mas que aqui, no ciclismo, assenta perfeitamente com tudo o que está a acontecer nesta Volta a Espanha. Não há sossego, não há momentos mortos. É para lutar até ao fim. Uns dias ganham-se segundos, noutros perde-se e no dia seguinte lá se vai novamente para a batalha. Para aqueles que estão a questionar-se se esta é uma das melhores Vueltas dos últimos anos, aqui fica uma opinião: sim, sem dúvida! Talvez até se possa ir um pouco mais longe: é uma das melhores corridas de três semanas dos últimos anos.

A competição está de tal forma intensa e indefinida, que com duas etapas para terminar (mais a de consagração em Madrid), começam a faltar palavras para descrever, de analisar sem que cair na repetição de palavras como emocionante, excelente, brilhante... Já só dá vontade de pedir que o tempo passe rápido e que chegue a próxima etapa e a do Angliru no sábado. Nesta altura é difícil delinear possíveis tácticas, criar expectativas sobre determinados ciclistas, se vão atacar, se vão quebrar... É de tirar o fôlego até para quem está num sofá a ver a corrida!

Um dia depois de Chris Froome não ter estado tão bem, depois de ter feito um grande contra-relógio, eis que o britânico surpreendeu (um pouco) ao forçar o andamento na última rampa do dia. Era uma subida de terceira categoria, mas como é normal na Vuelta, são autênticas rampas que em poucos metros estragam corridas. E que o diga Vincenzo Nibali. Está bem num dia, mas está mal noutro. Se fosse um pouco mais consistente, se calhar estaria mesmo a pisar os calcanhares a Froome. Como não consegue, hoje perdeu 21 segundos e está 1:37 minutos. Nada que possa deixar o britânico a respirar mais aliviado. Longe disso.

Já aqui se tinha falado das alianças poderem ser a forma de construir uma frente mais forte contra Chris Froome. Ora a aliança aconteceu, mas não bem aquela mais esperada. Alberto Contador (que etapa realizou, outra vez!) que muito mexeu na corrida e sufocou toda a gente, aproveitou a aceleração de Froome para se colar ao britânico. Deixou o líder da Sky sofrer um pouco, contudo, lá deu uma ajuda com mais um autêntico safanão que obrigou Froome a pedalar rápido. Os dois uniram-se para deixar Nibali, Kelderman e Zakarin para trás, enquanto Michael Woods (Cannondale-Drapac) aguentou-se como pôde na roda dos dois homens fortes deste final de Vuelta.

Para Froome foi perfeito ganhar mais uns segundos a Nibali. Da maneira como está a ser esta Vuelta, a estratégia de ganhar todos os segundos possíveis está claramente a resultar. Para Contador é o pódio que fica um pouco mais perto. E não, o espanhol não desistiu de ainda fazer derradeira surpresa. É um objectivo de cada vez. Chegar ao pódio depois de ter estado abaixo do top 30, seria fenomenal por si só. Contador vai fazer tudo para esse objectivo e para ganhar uma etapa - não pode é continuar a deixar as fugas ganharem tanto tempo, mas para isso precisava de uma Trek-Segafredo mais forte em seu redor -, estando sempre à espreita de ver quando Froome possa fraquejar um pouco. Já se percebeu que Contador está endiabrado. É um final de carreira para recordar, seja qual for o resultado!

Wilco Kelderman (Sunweb) e Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) uniram-se primeiro para não deixar fugir em demasia Froome e Contador e depois para ganhar tempo a Nibali. No primeiro caso estiveram bem, pois perderam apenas quatro segundos. No segundo, ganharam 17. Pode não parecer muito, mas dá sempre um alento extra que nestas situações tão indefinidas pode ter o seu papel. É certo que para o russo é mais viável tentar tirar Kelderman do terceiro lugar, mas dadas as circunstâncias de corrida, não desaproveitou a aliança momentânea, não vá Nibali ter mais alguma falha nas duas etapas que faltam e Kelderman não. O italiano, por seu lado, não teve ninguém! Chegou sozinho e cabisbaixo.

O compatriota Fabio Aru, também andou em solitário, mas por escolha própria. O ciclista da Astana pouco conseguiu: ultrapassou Wout Poels na classificação (é agora oitavo) e está empatado com Michael Woods. Porém, conseguiu lançar a discussão que na Astana ninguém se estará a entender com quem tem "prioridade": Miguel Ángel Lopez (duas vitórias de etapa, sexto, a 5:16 e que bem precisou de uma ajuda que não teve nesta etapa), ou Aru (a 6:33), o líder da equipa no arranque da Vuelta, mas que dificilmente conseguirá mais do que ultrapassar Woods e o mesmo o colega López?

Não vale a pena prolongar a escrita. O que se quer mesmo é ver as etapas que faltam e conhecer quem ganha esta super Volta a Espanha.


Esta sexta-feira é mais uma etapa curta (149,7 quilómetros), com a maior dificuldade logo no início. Ou seja, pode ser atacada nos primeiros quilómetros. Ou não... Da maneira como estes ciclistas estão a lutar, tem tudo para ser mais um grande dia, mesmo com o Angliru ali tão perto (sábado). Aguenta coração!

E lá está o vencedor da tirada a ficar para segundo plano! A Lotto Soudal pode não estar a ter aquele protagonismo mais mediático que André Greipel, por exemplo, costuma dar, mas depois de um Tour nada produtivo, na Vuelta a equipa belga somou a terceira vitória. Depois das duas de Tomasz Marczynski, foi Sander Armée que se isolou na última subida e conquistou a sua primeira etapa numa grande volta aos 31 anos.


Summary - Stage 18 - La Vuelta 2017 por la_vuelta



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