5 de setembro de 2017

Como é que Froome pode perder a Vuelta

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Chris Froome foi sensacional, mas não resolveu a Volta a Espanha como se calhar pretendia. Bateu todos no contra-relógio e só Vincenzo Nibali não está a mais de dois minutos, mas por apenas dois segundos. O italiano até parecia estar a pedalar rumo a uma catástrofe, mas afinal soube gerir bem o esforço e nos últimos quilómetros recuperou de forma a pelo menos não perder o segundo lugar para um super Wilco Kelderman, que fecha agora o pódio. As distâncias podem não ser decisivas, contudo, mais do que alguém ainda vir a ganhar a Froome, é mais o próprio britânico que poderá ser o principal responsável se perder a Vuelta. Por outro lado, a luta pelo pódio está completamente em aberto. Vão ser quatro dias de nervos.

Os 40,2 quilómetros que começaram no circuito de Navarra e acabaram em Logroños foram encarados por todos como de importância extrema. Não havia tempo para poupanças a pensar na montanha que por aí vem nos quatro competitivos de Vuelta (mais a etapa de consagração de domingo). Todos sabiam que Chris Froome tinha este contra-relógio marcado como um dia essencial para ganhar uma vantagem que pode revelar-se determinante. Froome não desiludiu, Wilco Kelderman foi excelente, Vincenzo Nibali sai um pouco cabisbaixo. Já Alberto Contador esperava mais, mas foi um dos melhores contra-relógios que fez nos últimos anos e para quem já andou fora do top dez, é agora quinto e tem o pódio na mira.

Nibali ficou a 1:58 minutos do britânico da Sky (estava a 1:01) e apesar de não deixar de olhar para a frente na tabela - apesar de estar algo pessimista -, tem mesmo de começar a olhar para trás, pois Kelderman (Sunweb) está somente a 42 segundos. E é melhor o líder da Bahrain-Merida não facilitar nem um metro, é que Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) e Alberto Contador (Trek-Segafredo) podem aproveitar uma subida mais explosiva para criar dificuldades a um Nibali que já demonstrou uma ou outra fraqueza, ainda que tenha sido o rival mais consistente de Chris Froome.

O britânico não arrumou com as decisões na Vuelta, mas ganhou uma margem que lhe vai permitir (e à Sky) controlar ainda mais a corrida, ganhando ainda uma motivação extra pela sua segunda vitória de etapa. Parece impossível controlar ainda mais, mas não é. Com a luta pelo pódio lançada e com quase dois minutos para Nibali, Froome poderá jogar um pouco mais frio, ficando na expectativa quando aparecerem os ataques. Não signifique que vá deixar alguém escapar. Não o fez até agora e com o final tão próximo, não vai deixar certamente, afinal um azar (e teve três numa só etapa - duas quedas e uma avaria) e lá se vão segundos muito rapidamente. Nem Contador irá ter ordem para fugir. Froome já afirmou mais do que uma vez que o espanhol não pode ser excluído da disputa. O britânico sabe como um ataque do líder da Trek-Segafredo pode fazer estragos difíceis de remediar.

Mais do que alguém ainda poder ganhar esta Vuelta, será preciso Froome perdê-la. Está sentado na pole-position, onde gere muito melhor a corrida do que quando tem ainda de fazer alguma jogada de ataque. O ciclista que analisa todos os seus números ao ínfimo pormenor, que raramente dá uma pedalada que não esteja prevista, Froome contará com Mikel Nieve e Wout Poels para estudar bem os adversários durante as próximas etapas. Tudo será controlado, todos os rostos, todas as pedaladas. Já se percebeu que todos irem atacando é algo que não assusta a Sky. Para derrotar o britânico, os rivais vão precisar de mais do que cada um tentar a sua sorte. Chegou o momento de algumas alianças, tentando estudar que objectivos encaixam melhor uns nos outros.

Exemplo: Nibali ataca com Contador. O italiano aponta ainda à camisola vermelha, o espanhol sabe que é muito difícil, mas poderá ficar com a vitória de etapa e ainda chegar ao pódio. E claro, as alianças são momentâneas e Contador pode sempre noutro dia tentar algo mais... Ainda no campo das suposições, Zakarin e Kelderman querem ambos o pódio e podem aliar-se para tirar de lá Nibali e ainda tentar aproximarem-se de Froome... Isto para falar apenas dos cinco primeiros.

O britânico da Sky só perderá esta Vuelta se os adversários o conseguirem enervar. Não é impossível. Se recuarmos à etapa em que caiu duas vezes, a segunda queda aconteceu porque o britânico deixou-se apoderar por algum nervosismo depois da primeira queda e da avaria que o fizeram perder tempo. É um ciclista experiente, mas a ansiedade nestas fases decisivas das corridas, ainda mais quando Froome poderá fazer um pouco de história, pode influenciar até o mais controlado dos ciclistas a nível emocional.

É preciso testar Froome fisicamente, claro, mas a nível psicológico pode estar algo a explorar. Contador e Nibali sabem como o fazer. Já Zakarin e Kelderman ainda estão a aprender este lado do ciclismo. O importante é não deixar Froome ficar confortável nas etapas de montanha. O britânico só tem de resistir mais quatro dias. Quanto mais tempo passar e o vantagem não diminuir, mesmo sendo um ciclista que já demonstrou algumas dificuldades na última semana no passado, Froome irá manter sem problemas de maior a camisola vermelha.

Alianças e algum risco. Vai ser preciso assumir algo diferente e esta quarta-feira isso certamente que irá acontecer. Machucos é uma subida considerada pelo pelotão como brutal e não é para menos (imagem ao lado). Só no início estão rampas de 26% e 25%. Baixa depois um pouco, mas anda quase sempre acima dos 10%. A média de 8,7% é enganadora, pois é influenciada pelas curtas zonas de descanso. Curtas, mas que podem ser importantes para recuperar um pouco de fôlego. Não há ciclista do topo da tabela que não considere que Machucos poderá ser muito importante na decisão desta Vuelta.

E é Froome quem o diz: tudo pode mudar rapidamente nesta Volta a Espanha...


Os portugueses

Em dia de contra-relógio e com dois especialistas portugueses em prova, nem Nelson Oliveira, nem Rafael Reis conseguiram mostrar-se. O quatro vezes campeão nacional foi 24º a 2:47 de Froome, talvez acusando um pouco o esforço de uma Vuelta dura para a Movistar e na qual se tem visto Oliveira a tentar um bom resultado para a equipa espanhola. É de recordar que já chegou a estar à porta do top 10. O vice-campeão nacional ficou a 4:00 de Froome, sendo que Rafael Reis vai continuando a acumular experiência naquela que está a ser a sua primeira grande volta, ao serviço da Caja Rural.

Rui Costa (UAE Team Emirates) ficou a 4:31 e Ricardo Vilela (Manzana Postobón) a 4:47. Não está fácil, mas Rui Costa tem o objectivo de ainda tentar uma vitória de etapa na sua estreia na Vuelta. Já integrou fugas, mas não tem sido sucesso. Tem resistido aos ferimentos nas costas provocados por uma queda e é de esperar uma última tentativa do campeão do mundo de 2013 de ter o seu momento na Vuelta.

AG2R manda para casa dois dos seus ciclistas

O vídeo surgiu ontem na internet, mas as imagens eram pouco nítidas. Nelas viam-se ciclistas agarrados a um carro da AG2R numa subida durante a etapa de domingo. Não se conseguia perceber quem eram, mas a equipa francesa identificou-os e mandou-os para casa. Alexandre Geniez e Nico Denz "apanharam uma boleia" e perante as imagens a equipa nem quis esperar por uma sanção da organização, até porque é a credibilidade da formação que está em causa.

No Paris-Nice, Romain Bardet também fez o mesmo ainda que por razões diferentes, pois o seu objectivo era não perder tempo para a frente da corrida. Foi expulso. A AG2R pediu desculpa pela acção de Geniez e Denz.


Summary - Stage 16 - La Vuelta 2017 por la_vuelta



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