3 de setembro de 2017

López ameaça tirar ribalta a Quintana

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Jovem, irreverente, com uma daquelas vontade de ganhar que tanto resulta num grande espectáculo e em vitórias ou numa enorme frustração. É um trepador nato como na Colômbia tanto aparecem, mas com a vontade de trabalhar e evoluir a acompanhar esse talento, se não de nada lhe serviria. Miguel Ángel López é a próxima grande estrela do país. Pelo menos, tem tudo para o ser.

Perdeu quase uma temporada por causa de uma queda num treino, na qual fracturou a perna. Mas aí está ele. Não foi na Vuelta de 2016 que vimos o que poderia fazer numa corrida de três semanas (também caiu e abandonou), é agora em 2017. Não é tarde. Longe disso. Este López está mais do que a tempo de entrar naquela elite que discute triunfos nas classificações gerais, está mais do que a tempo de tirar da ribalta um Quintana que todos sabem que é bom, mas os anos vai passando e o colombiano continua ofuscado atrás da sombra de Chris Froome naquele que é o seu grande objectivo: a Volta a França.

Como as responsabilidades são ainda bem diferentes, comparativamente com as de Quintana, López está quanto muito ainda um pouco escondido na sua própria sombra. Ganhou pela segunda vez na Vuelta - e logo na etapa rainha, na Serra Nevada - e confirma as expectativas que se tinha criado sobre ele quando em 2016 conquistou a Volta à Suíça. No desporto já se sabe: confirmam-se umas expectativas, criam-se novas.

A Astana "apanhou" López em 2015 depois de no ano antes ter ganho a Volta a França do Futuro. O colombiano fez logo um sétimo lugar na Volta a Suíça e um quarto na Volta a Burgos, corrida de diferente categoria, mas ainda assim um resultado relevante. No ano seguinte, a Astana começou a apostar mais no jovem ciclista. Foi quarto no Tour de San Luis, venceu uma Volta a Suíça vista como uma das corridas de preparação para o Tour, mas antes tinha sido 20º no País Basco. A Vuelta foi uma desilusão pela queda que sofreu e estragou o que desejava ser a confirmação definitiva. O final de temporada foi estranho. Em sete clássicas italianas, desistiu em seis, mas foi ganhar a prestigiada Milano-Torino!

Em 2017 só em Junho começou a competir por causa de uma fractura na perna, mas estas duas etapas na Vuelta colocam-no como uma das grandes estrelas da corrida, sendo já sexto na geral, tendo ultrapassado o seu líder, Fabio Aru. Isto é López a aproveitar a oportunidade. Tudo indica que o italiano está de saída da Astana, deixando a equipa orfã de um grande líder para as três semanas (com todo o respeito por Jakob Fuglsang). López sabe que está ali uma porta aberta e uma boa Vuelta poderá colocá-lo numa posição de liderança, mesmo tendo apenas 23 anos.

Tem parecenças com Quintana, quando o ciclista da Movistar tinha a sua idade. Gosta de atacar, mexer na corrida e procurar a vitória, mesmo que seja uma missão de contornos difíceis. Gosta de desafios. Não é muito de testar os adversários. Prefere testar-se a si próprio, sabendo que estando bem é um corredor muito complicado de bater e principalmente de perceber quando irá dar o seu golpe. É o Super-Homem do ciclismo, a alcunha que já pegou! Quintana perdeu um pouco dessa espontaneidade. A experiência tornou-o mais cauteloso, ainda que seja quando mostra aquele Quintana de outros tempos (até parece que foi há muito... mas tem apenas 27 anos) que tende a conquistar grandes vitórias.

López pode aprender com o seu compatriota. Naturalmente que não pode correr sempre a pensar tanto em si, sem tentar ler bem os seus adversários. Terá de o fazer quando começar a pensar em ganhar uma grande volta. Diz que não é para já, mas não irá demorar muito a estar nessa posição. É um talento que está ali prontinho a "explodir". Com um dos ciclistas que mais espectáculo dá no ciclismo a preparar-se para terminar a carreira, Alberto Contador, pode-se dizer que seria tão bom se López evoluísse de forma a ser o enorme ciclista que pode ser, mas sem perder este estilo irreverente quando a maturidade desportiva começar a impor-se.

Froome repete a receita

Dois dias, duas etapas de montanha com quase todos os rivais a atacarem Chris Froome. Duas etapas em que o britânico deixou-os ir, apenas para os ir apanhando um a um e no final até ganhou tempo! Impressionante! Alberto Contador tentou repetir a dose de há um ano nesta etapa curta e montanhosa, atacando de longe. Levou consigo aquele que seria o eventual vencedor da etapa, tal como aconteceu em 2016 em Formigal, mas desta vez não resistiu na Serra Nevada, acabou mesmo por ceder até para Froome. Não se arrepende. Fará tudo para ganhar uma etapa. Em final de carreira, nada tem a perder.

Já Vicenzo Nibali tem uma Vuelta a perder. Tanto se esforçou para ganhar segundos nos últimos dias, para agora perder seis por ficar num corte já perto da meta, depois de um ataque que mais uma vez em nada resultou. O discurso que o italiano da Bahrain-Merida tem e que é partilhado por Johan Esteban Chaves (Orica-Scott), por exemplo, talvez comece a pesar na pensamento de todos: Froome está simplesmente muito forte e os seus adversários admitem-no e até admiram.

A Vuelta não está no bolso, mas já vão faltando ideias para bater Froome e os fiéis escudeiros, Wout Poels e Mikel Nieve. Os rivais não podem só estar à espera que o britânico volte a ter duas quedas num dia - e não o têm feito -, mas depois de tanto ataque, Froome não cedeu um milímetro. Exibição notável deste grande ciclista e que vai provocando um desgaste mental e uma frustração miudinha que vai crescendo quando a Vuelta se aproxima do final. Froome aprendeu com os erros do passado e está na forma que no passado lhe valeu um domínio incontestável no Tour.

Esta segunda-feira descansa-se e planifica-se uma última semana de assalto à liderança, enquanto na Sky se vai planear como proteger ainda mais o forte, ou seja, a camisola vermelha.


Summary - Stage 15 - La Vuelta 2017 por la_vuelta



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