9 de setembro de 2017

Houve mesmo um último disparo. Gracias Contador

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
As imagens são sempre impressionantes. Ver uma multidão engolir a estrada e ir abrindo caminho à passagem dos ciclistas. Porém, ao se ver Alberto Contador aparecer por entre as pessoas foi difícil não sentir um arrepio. São imagens tão frequentes no ciclismo, mas pela última vez foi Contador a figura que surgiu como herói do dia. Houve mesmo um último disparo, um último grande espectáculo, uma derradeira marca para a história. Quando no domingo cortar a meta em Madrid, Contador não será mais um. Será aquele que sairá da bicicleta e começará uma nova vida dedicada aos jovens talentos que durante anos o viram pedalar nas grandes competições e ganhar as três grandes voltas. El Pistolero termina a carreira com uma última enorme vitória, numa das subidas mais difíceis. O Angliru foi o cenário do conto de fadas que até pareceu que todos os ciclistas queriam que tivesse mesmo um final feliz. Bom, quase todos, afinal a etapa foi para Contador, mas o pódio em Madrid não contará com uma das figuras máximas do ciclismo espanhol.

Falaremos de Contador durante muito tempo. Nem será difícil adivinhar quando. Sempre que houver uma etapa de montanha mais aborrecida lá iremos pensar "ah, se estivesse aqui o Contador", ou quando alguém fizer um ataque a 50 quilómetros ou mais da meta, diremos "é ao estilo Contador". Com o tempo surgirão novas referências, novos ídolos, mas há ciclistas que conseguem manter-se sempre como um atleta a ser recordado como exemplo de comparação. Contador será um deles.

Sendo ou não um fã incondicional do ciclista espanhol, quem é adepto de ciclismo tem sempre um "fraquinho" por ciclistas que tenham a capacidade de mexer com a corrida como Contador tantas vezes o vez. É triste vê-lo abandonar. Sabia-se que era algo inevitável e até já o tinha ameaçado fazê-lo no final de 2016. Tivemos mais um ano de El Pistolero e mesmo não tendo sido um ano fenomenal (o Angliru foi a sua única vitória e a única espanhola na Vuelta), não o esqueceremos, como não esqueceremos esta subida ao Angliru. Não se irá pedir para ficar mais um ano. Já se percebeu que chegou a hora de Contador e é melhor sair assim, com uma grande vitória a celebrar o enorme ciclista que é. Não ganhou a Vuelta, naquele que seria o final mais que perfeito do conto de fadas, mas ficará sempre aquele pequeno pormenor na história, quase irrelevante perante a emoção do momento, mas que será valorizado quando esta emoção passar e ficarem os números e os factos: Contador é o primeiro a ganhar duas vezes no Angliru, em sete vezes que a mítica subida vez parte do percurso da Vuelta.

Serão feitas muitas homenagens. O Volta ao Ciclismo recupera aqui aquela feita por Octávio Lousada Oliveira, um fã de Contador, que lhe escreveu uma carta aberta no início da Vuelta. Com um texto como este (link em baixo), é difícil escrever melhor. Aqui fica o convite para ler ou reler todas as emoções que Contador fez viver este incondicional adepto de El Pistolero. Resta dizer: Gracias Contador!

Carta aberta a Alberto Contador.

Fica aqui também a mensagem de agradecimento do ciclista no Twitter a todos os que o apoiaram (texto continua em baixo).


Ah, é verdade, Froome ganhou a Vuelta

É em tom de brincadeira que se escreve esta frase, naturalmente! Com Contador a ganhar na despedida, sendo um ídolo espanhol na Vuelta, quase que Froome se tornou uma actor secundário. Mas ele teve um papel bem principal. Com o Angliru a ter o potencial para tanto glorificar ainda mais o triunfo do britânico, como a poder transformar a Vuelta num autêntico pesadelo, Froome e a Sky garantiram que o momento acabasse num feito histórico. O ciclista é o primeiro a fazer a dobradinha Tour/Vuelta desde que as corridas encontram-se na actual colocação no calendário.

Depois de três segundos lugares, Froome jogou na perfeição toda uma temporada para chegar ao Angliru com um tremendo poderio. E para que ninguém tivesse dúvidas que estava mesmo a terminar muito bem fisicamente, deu um safanão que deixou todos para trás, menos Contador que até esteve na mira de Froome, que recuperou muito tempo, mas nunca sequer tentou tirar a vitória que o britânico sabia a quem deveria pertencer. Nem tentou ele, nem ninguém. Quanto muito até houve umas pequenas ajudas de alguns ciclistas para garantir que o Angliru fosse conquistado por Contador. Froome tinha a vitória que lhe mais interessava. Foi difícil, foi emocionante, foi uma Vuelta espectacular e amanhã haverá a consagração em Paris e o merecido reconhecimento que hoje está dividido com Alberto Contador.

Vincenzo Nibali caiu na descida antes do Angliru e acabou por voltar a fracassar quando precisava de um último suspiro para de facto assustar Froome. Nunca sequer demonstrou ser uma ameaça, por mais pequena que fosse. Quem se assustou foi mesmo o italiano da Bahrain-Merida que obrigou a equipa a fazer umas contas rápidas para perceber se não estaria em causa o segundo lugar. Segurou-o por 36 segundos e viu o primeiro ficar a 2:15 minutos.

Ilnur Zakarin, a aposta de José Azevedo para as grandes voltas, está finalmente a mostrar-se ao nível esperado. Subiu à terceira posição, naquele que será o seu primeiro pódio da carreira, com a Katusha-Alpecin a perceber que, faltando aprimorar alguns pormenores, principalmente tácticos e também de apoio a nível de equipa, tem um ciclista que pode começar a sonhar um pouco mais alto.

O derrotado do dia foi Wilco Kelderman. Caiu de terceiro para quinto, mas o holandês é mais uma certeza para a Sunweb para as três semanas, num ano simplesmente brilhante para a equipa alemã nas grandes voltas. E no descalabro total de Fabio Aru (Astana) - perdeu 15:07 minutos - agradeceu Tejay van Garderen que entrou no top dez, algo importante para o americano da BMC, que rapidamente está a perder crédito na equipa. Não que seja brilhante ficar a 15:36 de Froome, mas é pelo menos um resultado mais digno de nota de um ciclista que tem estatuto de líder.


Davide Villella (Cannondale-Drapac) é o rei da montanha da Vuelta. Sagrou-se ainda antes da subida ao Angliru. Froome vence a geral, mas por resolver ainda está a questão dos pontos. O britânico da Sky lidera com 153 pontos, seguido por Nibali com 128. Porém, em Madrid, Matteo Trentin (127) irá fazer um último esforço para recuperar a camisola que já vestiu e assim terminar em grande uma Vuelta memorável para o o italiano da Quick-Step Floors, que já conta com três vitórias de etapas (perfil da última etapa da Vuelta na imagem em cima). Froome não se irá importar de lhe entregar a camisola. Estará mais concentrado na sua consagração de vencedor da Vuelta. Portanto, Trentin terá a concorrência esperada no provável sprint que irá concluir uma Volta a Espanha simplesmente fenomenal.


Summary - Stage 20 - La Vuelta 2017 por la_vuelta

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