1 de setembro de 2017

Enquanto os sprinters se queixam, Trentin ganha e Escartín dá ao público o que este mais gosta de ver

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Mark Cavendish e André Greipel são dois dos actuais grandes sprinters que já ganharam etapas na Volta a Espanha, mas há muito que por lá não passam. Tal como vários dos ciclistas com estas características, riscaram a Vuelta dos seus calendários, pois o percurso muito montanhoso, com poucos dias para que possam lutar por uma vitória, não é nada atractivo para quem só sobe se tiver mesmo de ser, ou seja, com a perspectiva de ainda obter um grande triunfo. É simplesmente sacrifício a mais para tão pouca compensação na Vuelta. Porém, enquanto uns criticam o percurso espanhol, outros aproveitam para ficar com um marco na carreira, como está a ser o caso de Matteo Trentin.

O italiano conquistou a sua terceira vitória na Vuelta e logo na edição em que passou a ser o centésimo ciclista a ganhar nas três grandes voltas. Dois destes triunfos foram conquistados precisamente nos dois verdadeiros sprints que esta corrida teve. Talvez o sprinter mais cotado fosse John Degenkolb (Trek-Segafredo), mas que está longe do seu melhor e até já está longe da Vuelta. Trentin aproveitou a sua oportunidade (e de que maneira), numa altura em que se despede da Quick-Step Floors, onde está desde 2011, tendo começado como estagiário.

Trentin é um dos lançadores de confiança de Marcel Kittel, que nem sequer pensa em estar na Vuelta. Para ele já chega sofrer no Tour, a sua grande volta de eleição. A sua e a de praticamente todos os principais sprinters. São muitos os que criticam o facto da Vuelta ter cada vez menos etapas para sprinters. Este ano podem-se considerar quatro e mesmo assim, nem sempre com as condições que homens como Kittel ou Cavendish gostam (tinham umas subidas mais íngremes para os seus gostos). Trentin não é o maior dos especialistas, mas a qualidade está lá e a Orica-Scott deve estar bem satisfeita por já ter garantido o ciclista de 28 anos para 2018. A equipa australiana até o terá contratado a pensar nas clássicas, mas esta exibição pode abrir outras portas a Trentin.

Os sprinters são uma espécie em vias de extinção na Vuelta e o da Cannondale-Drapac, Tom Van Asbroeck, é bem frontal na sua opinião: "É uma treta!" Bom, a palavra talvez fosse um pouco mais agressiva, mas dá para perceber o que pensa! Fernando Escartín, director da corrida e um ciclista que muita acção oferecia nas montanhas no seu tempo, responde de forma peremptória a este tipo de críticas: "[Muita montanha] é o que o público gosta." E provavelmente tem razão.

Sim, é sempre bonito ver um bom sprint, com os melhores do mundo. Porém, são etapas em que por vezes é difícil manter os olhos abertos. São normalmente longas e no Tour bem nos lembramos de ver 200 quilómetros sem se passar nada até àqueles 10 finais em que os comboios começam a tentar organizar o sprint. Faz parte do ciclismo, mas sim, são as etapas de montanha que acabam por atrair mais, mesmo quando os corredores esperam pela última subida para mexer com a corrida. É que ainda assim, a emoção dura sempre mais tempo do que os breves segundos de um sprint e as tiradas têm mais importância a nível da geral, claro.

O sucesso que a Vuelta tem cada vez mais junto do público, com as audiências também a serem melhores, dá razão a Escartín. Já não é nada estranho ouvir alguém dizer que a Volta a Espanha é a sua preferida das três grandes. O Tour há muito que perdeu esse estatuto. Pode ser visto como o mais importante mais por tradição, contudo, os grandes embates dia após dia são cada vez mais frequentes em Espanha e não em França.

A crescente presença dos principais voltistas do pelotão na Vuelta é mais uma demonstração que Escartín tem razão. Dirk Demol, director desportivo da Trek-Segafredo, considera que para se ter os grandes sprinters numa grande volta, terão de existir sete a oito etapas só a pensar neles. Nada de parecido acontece na Vuelta. A decisão da organização está aberta às opiniões pessoais, mas com três grandes voltas por ano é assim tão importante serem todas com um formato idêntico? Isto é, as tais oito etapas para sprinters, outras para favorecer fugas e depois umas poucas de alta montanha para tentar decidir a geral, sobrando sempre um ou dois contra-relógios (um às vezes colectivo) que, dependendo da distância e tipo de percurso, irá favorecer aquele ou outro ciclista, têm de estar sempre presentes?

Se assim é no Giro, se assim é no Tour - a corrida que mais etapas completamente planas tem -, porque não há-de haver uma corrida em que se teste de forma diferente e mais intensa os chamados trepadores? Por enquanto parece que podem queixar à vontade, que Escartín não se deixa influenciar. De ano para ano a Vuelta está cada vez mais interessante e a despertar interesse nos ciclistas que podem muito bem começar a ter um novo objectivo, até agora pouco ou nada pensado. Tanto se fala na dobradinha Giro/Tour e como ninguém a consegue desde 1998 (Marco Pantani), que se Chris Froome se tornar no primeiro a fazer a de Tour/Vuelta (com o calendário no actual formato), é quase certo que mais se seguirão para tentar fazer o que começará a ser visto como um feito.

Quanto ao assunto dos sprinters, resta dizer que a Quick-Step Floors ganhou a quinta etapa na Vuelta, repetindo o número que já tinha obtido no Giro e Tour. Fantástico! Ficamos por aqui quanto a sprints, porque vêm aí as grandes montanhas.

Este fim-de-semana é daqueles em que é melhor reorganizar as idas à praia para o final da tarde, depois das etapas. Ambas são já típicas da Vuelta: curtas e a subir. No domingo temos a que é considerada a etapa rainha, mas comecemos pela deste sábado. Serão 175 quilómetros, com uma terceira e segunda categoria só para aquecer. A ascensão até à Sierra de la Pandera levará o pelotão aos 1830 metros de altitude. É uma categoria especial, ainda que a pendente média possa não assustar muito à primeira vista: 7,3%. Terá 13% de máxima. É longa, alta e já são muitos quilómetros nas pernas dos candidatos e todos eles já tiveram dias menos bons. Até o líder Chris Froome, ainda que tenha sido mais devido a duas quedas na tirada de quinta-feira. Queixou-se esta sexta-feira de algumas dores na anca. Um bluff para pensarem que não está tão bem?



A dúvida é se se irá mexer muito na corrida neste sábado ou se haverá alguma contenção a pensar no que aí vem no domingo: duas primeiras categorias e o final numa especial em 129,4 quilómetros. Sim, Fernando Escartín, o público gosta de grandes voltas bem montanhosas! Tem razão! É que se na segunda-feira é dia de descanso, ainda há muito para subir até ao Angliru no sábado da próxima semana.


Summary - Stage 13 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


Veja aqui as classificações.

»»Não lhes chamem etapas de transição. Não na Vuelta!««

»»O dia em que os rivais viram Chris Froome ficar muito (demasiado?) longe««

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