29 de setembro de 2017

Fechou-se mais um capítulo na luta da família por Pantani

(Fotografia: Hein Ciere-Wikiportrait)
Marco Pantani. Um nome que desperta emoções mistas. Por um lado recordamos dos grandes momentos no Giro e Tour de um trepador nato, dado para o espectáculo. Muitas horas se passou frente ao televisor a ver aquele ciclista, careca, com a alcunha de "Pirata", a subir como poucos conseguiam, a falhar quando poucos arriscariam, a ganhar onde e como muitos apenas sonhavam em fazer. Claro que por mais que se goste de recordar esses momentos, é impossível dissociar essa era do que mais tarde se veio a comprovar. O uso de doping estaria disseminado no pelotão. Há nomes que ficaram manchados como o de Lance Armstrong, mas o de Marco Pantani dividi-se entre lado negativo e o de um dos grandes ciclistas da história da modalidade. Talvez a sua prematura morte tenha ajudado a criar o mito do "Pirata". Talvez todas as teorias que foram aparecendo tenham a sua parte da responsabilidade também. Seja o que for, Pantani é um nome recordado por muitos com saudade.

Caiu em desgraça em 1999, acabando por morrer devido a uma overdose anos depois. Os pais do ciclista muito têm lutado por limpar o seu nome naquilo que se tornou uma história de mistério em redor da morte de Pantani. Houve mais um episódio desta autêntica saga e que tem levado a família a perder sempre nesta batalha com a justiça. A mãe, Tonina, e o pai, Paolo, levaram o caso até ao Supremo Tribunal, numa tentativa de provar a tese que Pantani foi obrigado a tomar a cocaína - alegadamente diluída em água - depois de ter sido agredido. Os assassinos teriam depois simulado que o ciclista tinha sofrido uma overdose. O Supremo Tribunal confirmou as duas decisões que tinham sido tomadas anteriormente, em Rimini, onde Pantani morreu.

Antes a família já tinha tentado provar que por detrás da expulsão de Marco Pantani do Giro em 1999 - quando se preparava para o vencer - estava a máfia. Alegadas apostas desportivas estariam na base desta tramóia. Pantani acusou um resultado anómalo de hematócrito e foi expulso. Faltava uma etapa para terminar a Volta a Itália, Pantani tinha vencido quatro etapas, incluindo as últimas duas. Um Giro de sonho, tornou-se num pesadelo.

Foi o início da queda de Pantani. Reapareceu em 2000, mas já não era o mesmo, apesar das duas vitórias no Tour. Passou os anos seguintes sem conseguir acabar uma grande volta. Fê-lo apenas em 2003, na que viria a ser a sua derradeira. Um Giro em que ficou na 14ª posição, a quase meia hora do vencedor Gilberto Simoni. A 14 de Fevereiro de 2014, o mundo do ciclismo ficou de luto. A depressão levou o "Pirata" a esconder-se na droga. Tinha 34 anos.

Conspiração? Ou simplesmente uma overdose? A luta dos pais de Pantani deixou em aberto o que realmente aconteceu naquele dia com as teorias que surgiram, sem que conseguissem prová-las. A justiça não lhes deu razão. Até houve condenações há uns anos. Quatro homens foram presos por terem fornecido a droga ao ciclista. Um acabou absolvido, os outros cumpriram penas entre os dez meses e quatro anos.

A família lutou para que a memória da morte de Pantani não fosse aquela que oficialmente está registada. Porém, os adeptos de ciclismo recordam o "Pirata" pelo que fez na estrada. As camisolas da Mercatone Uno são uma relíquia, as suas bicicletas são autênticas peças de museu, o uso de lenços na cabeça faz sempre recordar o estilo deste italiano rebelde que há-de continuar a ser lembrado provavelmente por muito tempo. Todos os anos se fala dele, pois continua a ser o último ciclista a vencer o Giro e Tour no mesmo ano (1998).

Escreveram-se livros, fez-se um filme, ergueram-se memoriais, criou-se uma corrida com o seu nome. Marco Pantani é uma lenda, principalmente em Itália, mas um pouco por todo o mundo com tradição no ciclismo continua a ser admirado. Terminou este capítulo da luta judicial, ficam todos aqueles que criou em vida numa bicicleta.

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