17 de setembro de 2017

O dia em que o contra-relógio colectivo nos Mundiais entrou definitivamente nos objectivos das equipas

(Fotografia: Team Sunweb)
Quick-Step Floors (nem sempre com este nome) e BMC foram as equipas que desde que a UCI acrescentou o contra-relógio colectivo em que são as formações dos três escalões que participam e não as selecções, que abraçaram esta ideia desde o primeiro instante. Em seis edições só por uma vez não ficaram no pódio e até este domingo tinham dividido os títulos mundiais. Não é que as outras equipas não pensassem em ganhar, mas foi sempre claro que estas duas estruturas tinham o contra-relógio como um dos objectivos de temporada. Até se verificou algum decrescer de interesse por parte, por exemplo da Orica-Scott (que em 2013 perdeu por um segundo para a então Omega Pharma-Quick-Step) ou mesmo da Movistar. A equipa espanhola até apresenta conjuntos fortes, mas só levou uma medalha: o bronze em 2015. A Sunweb mudou muito provavelmente esta mentalidade com a brilhante vitória em Bergen.

(Fotografia: Team Sunweb)
Façamos justiça ao que merece desde logo ser destacado. A equipa alemã teve um dia perfeito, pois de manhã viu as suas raparigas sagrarem-se campeãs do Mundo e durante a tarde, os rapazes contrariam o favoritismo das duas crónicas candidatas e da Sky para ficar com o título. Festa a dobrar! A aposta numa equipa feminina foi mais do que ganha. São 14 vitórias este ano, seis do nível World Tour. No sector masculino foi um ano sensacional. Os tempos de Marcel Kittel e John Degenkolb não serão esquecidos, mas não há necessidade para saudosismos. A Sunweb está a tornar-se num caso sério de sucesso entre as equipas para as grandes voltas e também nas principais provas de uma semana. Já não luta apenas pelas etapas, mas pelas classificações gerais.

A demonstração no contra-relógio de Bergen, na Noruega, é um sinal do que se poderá esperar para o ano, numa altura em que muito se fala que o Tour poderá incluir esta vertente. E claro, cresce a ansiedade para ver um embate entre Chris Froome e um Tom Dumoulin cada vez mais adulto como ciclista. Mas ainda teremos de esperar uns bons meses. Até lá, haverá uma disputa no contra-relógio individual destes Mundiais, na terça-feira.

O deste domingo demonstrou como tanto a Sunweb como a Sky quiseram entrar numa luta que era quase sempre a dois. A vitória da formação alemã abre perspectivas que a forma de encarar esta competição mude. É difícil perceber como uma Movistar, por exemplo, tem tantos especialistas - Alex Dowsett e Jonathan Castroviejo, para numerar dois - e fica a 1:19 minutos da equipa vencedora. Da Lotto-Jumbo esperava-se mais, mas pior estiveram a Katusha-Alpecin de Tony Martin (que contou com Tiago Machado), a Bora-Hansgrohe, a Astana e a Trek-Segafredo, que ficaram inclusivamente atrás da única equipa do escalão Profissional Continental, a polaca CCC Sprandi Polkowice. Foram 11 das 18 equipas do World Tour que estiveram presentes.

A Sunweb quebrou uma hegemonia, mas mais do que isso irá aguçar outras equipas a tentarem um título que pode não dar uma camisola do arco-íris, mas que dá prestígio principalmente às marcas patrocinadoras, com principal incidência nas bicicletas. A Giant tem agora uma forma mais de explorar a nível de marketing. A competição pode ainda ser jovem (antes chegou a existir de selecções, até que em 2012 foi recuperada mas na versão com as equipas) e que aos poucos poderá tornar-se muito disputada.

Foi o que aconteceu em Bergen. Apesar das distâncias finais serem grandes, a verdade é que Lotto-Jumbo, Movistar e Orica-Scott até procuraram um resultado positivo. Medalha talvez, mas não pareçam acreditar que tal era possível. Talvez devessem tê-lo feito. A Sky e a Sunweb apareceram fortíssimas. O arranque da formação britânica foi impressionante, mas Owain Doull ficou pelo caminho e na subida mais difícil do dia Geraint Thomas surpreendeu pela negativa. Apenas com os quatro ciclistas necessários para completar o contra-relógio, o desgaste foi notório da Sky, comparando com uma Sunweb que foi quase até final com os seis corredores com que partiu. A BMC ainda pareceu que ia estender a hegemonia, mas de facto aquela ponta final da Sunweb foi incrível e foram oito segundos que separaram primeira e segunda. A Sky conquistou a sua segunda medalha de bronze (a 22 segundos), enquanto a campeã em título, Quick-Step Floors sofreu do mesmo mal da equipa britânica e só com quatro ciclistas logo na mesma subida, não foi além da quarta posição (a 35 segundos).

As equipas campeãs: Lucinda Brand, Leah Kirchmann, Floortje Mackaij, Coryn Rivera, Sabrina Stultiens e Ellen van Dijk / Tom Dumoulin, Lennard Kämna, Wilco Kelderman, Soren Kragh Andersen, Michael Matthews e Sam Oomen.

Os Mundiais começaram com espectáculo, num percurso exigente. A este nível, é o que se irá repetir nos próximos dias. Bergen e arredores de plano tem pouco! Bergen é mesmo conhecida como a cidade das sete montanhas e é mesmo retratada em sites de viagens, principalmente, como a cidade das sete colinas...

Esta segunda-feira saem para a estrada logo de manhã as juniores (9:35, hora de Portugal Continental, mais uma em Bergen), seguindo-se às 12:05 os sub-23, com Ivo Oliveira a ser o primeiro representante da selecção nacional a competir, partindo às 14:44. Tiago Machado, que representou a "sua" Katusha-Alpecin, vai agora mudar de cores e no próximo domingo estará na prova de estrada, ao lado de Rui Costa, Nelson Oliveira, José Gonçalves, Ricardo Vilela e Ruben Guerreiro a representar Portugal.


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