7 de novembro de 2017

Froome e a tentação da dobradinha Giro/Tour

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Chris Froome e a tentativa de ganhar o Giro e o Tour está a tornar-se num assunto muito falado. Para tal, ajuda um jornal como o The Times escrever que a Sky está a analisar com muita atenção o percurso do Giro, pelo menos o que se conhece, já que a apresentação total será no dia 29 deste mês. A pergunta está no ar: vai Froome tentar a dobradinha que parece impossível?

Este tema não é exactamente novo. No ano passado, depois de se conhecer em pormenor o Giro100, Froome elogiou as escolhas para as etapas e deu indicações que poderia estar tentado a ir à Volta a Itália. Entretanto, o mesmo ia acontecendo com Nairo Quintana. A incerteza do britânico durou pouco tempo. Froome queria (e quer) igualar a elite da elite com cinco vitórias no Tour. A novela da Movistar durou um pouco mais, mas Quintana optou por aceitar o repto de tentar algo que ninguém consegue desde Marco Pantani em 1998.

O colombiano foi segundo no Giro e falhou por completo no Tour. Em 2015, Alberto Contador venceu o Giro, mas fraquejou em França. Algumas lições certamente poderão ser retiradas pela própria Sky e nem se duvida que Froome estará mais tentado do que nunca a tentar esta dobradinha. Afinal é o primeiro ciclista a ganhar Tour e Vuelta no mesmo ano, desde que a corrida espanhola se encontra na actual posição do calendário. Como voltista fica a faltar-lhe a dupla Giro/Tour. Mas também ainda lhe falta uma Volta a França para igualar Bernard Hinault, Eddy Merckx, Jacques Anquetil e Miguel Indurain.

E é esse o grande objectivo da sua carreira. Falta apenas uma vitória. E o "apenas" é relativo, pois apesar de ter dominado os últimos anos no Tour – em 2017 um pouco menos, mas ganhou na mesma –, a concorrência está a subir de tom, leia-se de qualidade. Alberto Contador saiu de cena, mas está um Tom Dumoulin prontinho a surgir como o próximo grande talento nas corridas de três semanas, além de Romain Bardet e Mikel Landa, que agora passará a ser um adversário de peso. Também muito se quer ver o embate com Richie Porte, mas desta vez sem quedas para o australiano. 

Para Froome ir ao Giro será para ganhar. De nada valerá ir e perder energias se não for para vestir a maglia rosa. Ou pelo menos tentar. Em ano de Mundial de futebol, o Tour mexeu na data e haverá mais uns dias de descanso entre a prova italiana e a francesa. Ainda assim, o Giro tem sido uma prova dura por norma, com excepção da edição deste ano, que ainda assim não foi nenhum passeio.

Froome mostrou ser possível atingir dois picos de forma num curto espaço de tempo. Mas, lá está, não foi tão dominador como noutros anos. A Volta a Itália até pode ter um percurso atractivo, mas há um factor que pesará sempre na decisão: o tempo. Este ano foi invulgar ter um Giro praticamente sempre com sol, pois em Maio muito se tem variado entre temporal, em que ninguém fica seco – estradas molhadas, o trauma de Bradley Wiggins quando quis lutar pelo Giro –, ou então neve e muito, muito frio. Froome tem nacionalidade britânica, mas nasceu no Quénia e é na África do Sul que passa muito tempo. Ou seja, está no seu melhor com um tempo mais simpático e até com calor intenso.

Com tanto desejo pelo quinto Tour, fazer o Giro primeiro seria um enorme risco. Froome está com 32 anos (faz 33 em Maio) e em plena forma, mas o ciclista sabe que também este tempo joga contra ele. E se tiver uma queda grave? E se fica doente num dia típico de mau tempo em Itália naquela altura do ano?

E Geraint Thomas? Onde fica o fiel companheiro de Froome se o líder da Sky decidir ir ao Giro? Thomas foi vítima daquele incidente com a moto de polícia na edição deste ano. Acabou por abandonar. O ciclista até andou em estágio só com Froome para se preparar para o Giro. Prometeu voltar em 2018. A Sky também parece estar disponível para lhe dar nova oportunidade. Sem Mikel Landa, que vai rumar à Movistar, há caminho aberto para Thomas e Froome “tapar” o colega e amigo no seu grande objectivo, pode ter um resultado adverso no que diz respeito à ajuda que Froome irá precisar para o quinto Tour. O profissionalismo de Thomas é intocável, mas é bem melhor ter um companheiro feliz e, quem sabe, vencedor ou com um pódio no Giro, do que um colega ressentido por ter sido novamente um “simples” gregário durante as grandes voltas.

Resumindo, se Froome for ao Giro em 2018 será uma surpresa. Depois de ganhar o quinto Tour, aí sim, é possível que arrisque, a não ser que queira ser o recordista com seis vitórias... Tudo o que conseguir após eventualmente alcançar o feito em França será um bónus que servirá para aumentar ainda mais um currículo de um ciclista que, com ou sem o quinto Tour, será sempre recordado como um dos melhores.


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