25 de novembro de 2017

Uma Dimension Data a precisar de mudanças

(Fotografia: Stiehl Photography/Dimension Data)
Tão rapidamente a Dimension Data pensou que tiraria todo o partido de um espectacular regresso de Mark Cavendish às muitas e grandes vitórias, como um ano depois tudo se tornou num pesadelo. Menos mal que a vontade da UCI de criar um sistema de subidas e descidas de escalão não está em vigor, pois a formação sul-africana teria tido uma enorme desilusão. Fiel às origens de uma equipa que quer ser a montra do ciclismo africano, ao subir para o World Tour precisou de algo mais para dar nas vistas. Esse "algo" foi Cavendish. Porém, em 2017 ficou claro como é um risco apostar em demasia num ciclista. A época da Dimension Data ficou marcada pela mononucleose do sprinter britânico e da queda que sofreu no Tour, no incidente com Peter Sagan.

Cavendish venceu uma etapa a abrir o ano em Abu Dhabi. Em 2016 foram nove, mais a geral Qatar, destacando-se, naturalmente, as quatro etapas na Volta a França. Perante os fracos resultados e exibições desta temporada - a doença não só limitou o ciclista, como obrigou-o a uma paragem -, Cavendish só teve uma forma de descrever o seu 2017: "Foi uma merda!" Não há muito a dizer depois disto.

A responsabilidade de uma temporada abaixo do desejado não pode ser só de Cavendish. A Dimension Data tem um plantel de qualidade, a começar precisamente pelo contingente africano. No entanto, se no escalão Profissional Continental o dar nas vistas era suficiente, ao que se juntava aqui e ali uma conquista mais relevante, como equipa do World Tour o nível de exigência é outro e falta maior e melhor consistência nos resultados pode tornar-se num problema a curto/médio prazo. Por mais que o projecto esteja ligado à ajuda em entregar bicicletas a crianças e jovens do continente africano, estamos a falar de ciclismo profissional e os patrocinadores querem ser falados e não ser apenas notas de rodapé nas corridas.


Ranking: 18º (2575 pontos)
Vitórias: 25 (incluindo uma etapa no Tour e no Giro)
Ciclista com mais triunfos: Edvald Boasson Hagen (10)


Foram 25 vitórias em 2017, mas somente três em corridas do World Tour. Ainda assim, quando se ganha no Giro e no Tour, pelo menos cumpre-se o objectivo de mostrar a equipa nas grandes voltas. Perante a temporada mais fraca, estes triunfos valem ouro. E nada como recorrer a dois ciclistas que tendem a dar sempre alguma alegria: Omar Fraile e Edvald Boasson Hagen para assegurar as duas importantes vitórias. Dias antes o noruguês tinha tido o dissabor de perder para Marcel Kittel (Quick-Step Floors) por apenas seis milímetros! Boasson Hagen foi o ciclista mais ganhador da equipa: 10 triunfos, a maioria pelas suas terras. Desta feita Stephen Cummings não picou o ponto nas grandes voltas, mas sagrou-se campeão britânico de estrada e contra-relógio. No entanto, a equipa sentiu a falta daquele britânico que numa fuga lança o pânico no pelotão. Ainda tentou, só que este ano não conseguiu.

Voltando aos africanos, Daniel Teklehaimanot e Natnael Berhane são ciclistas de reconhecida qualidade, mas, e como por vezes se diz, falta o clique. Porém, falta principalmente uma voz de comando para as grandes voltas e a Dimension Data vai colmatar essa vaga com o regresso de Louis Meintjes. Com um objectivo de colocar o sul-africano a lutar por pódios e em três anos estar mesmo na luta para ganhar o Tour, fica claro que a formação prepara-se para uma mudança de paradigma e que permitirá tirar mais partido dos bons trepadores que tem.

Merhawi Kudus, por exemplo, tem apenas 23 anos e um potencial tremendo. É provável que comece a ser aposta mais forte. Foi segundo na quinta etapa da Vuelta, mas infelizmente abandonou dois dias depois devido a uma queda. Aliás, a Dimension Data teve uma Vuelta para esquecer, com apenas três ciclistas a chegarem ao fim. Kudus e Meintjes podem liderar uma nova era na Dimension Data pós-Cavendish. Mas o britânico ainda terá o seu espaço para perseguir o recorde de Eddy Merckx no Tour, pelo menos durante mais um ano: "só" faltam quatro vitórias de etapas para igualar o belga.

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