30 de novembro de 2017

Apagão de Greipel e os heróis improváveis que salvaram a época da Lotto Soudal

Um gesto que se viu tão pouco este ano por parte de Greipel
(Fotografia: Giro d'Italia)
André Greipel eclipsou-se e a Lotto Soudal tremeu. Valeu que em alturas como estas, quando uma equipa tem ciclistas de qualidade, há sempre a possibilidade de surgirem uns heróis improváveis. Que o diga Tomasz Marczynski, o polaco que foi à Vuelta vencer duas etapas e ajudar a Lotto Soudal a recompor uma temporada mais discreta, muito porque o seu sprinter teve o seu pior ano desde 2007, altura em que era lançador de Mark Cavendish na T-Mobile. Mas a formação não teve só Greipel a render menos. Tony Gallopin passou mais um ano sem confirmar as eternas expectativas e tornou-se claro que o seu tempo na equipa belga tinha chegado ao fim. Com apenas uma vitória em 2017 e com uma Volta à França muito aquém - ficou fora do top 20 - o francês vai rumar à AG2R.

Porém, o que preocupa mesmo a Lotto Soudal é Greipel. Não é equipa para lutar por uma geral do Giro, Tour ou Vuelta e, por isso, não haverá grande preocupação com a saída de Gallopin, mas aposta tudo na vitória de etapas. E o alemão tem sido a grande referência. Só somou cinco triunfos, incluindo na Volta a Itália (até vestiu a camisola rosa por um dia) e no Algarve, onde ganhou também a classificação por pontos. Pior só mesmo em 2007 quando ganhou por duas vezes e desde 2011 que não somava menos de 10 triunfos. A chama apagou-se, o próprio não escondeu o desânimo: "Perdi completamente o meu instinto na bicicleta." Crónico vencedor de etapas nas grandes voltas, ganhava pelo menos uma nas que participava desde 2008. No Tour não deu para esconder mais que não tinha capacidade para fazer frente ao super Kittel e mesmo quando o rival alemão já não estava em prova, perdeu para Dylan Groenewegen nos Campos Elísios.


Ranking: 13º (5466 pontos)
Vitórias: 25 (incluindo uma etapa no Giro, quatro na Vuelta e uma na Volta ao Algarve)
Ciclista com mais triunfos: Tim Wellens (7)

Se a estatística dissesse tudo, então dir-se-ia que a Lotto Soudal fez uma temporada dentro do normal. Porém, há mais além dos número. Para uma equipa do estatuto e orçamento da belga, são precisas vitórias importantes. Valeu Marczynski, que aos 33 anos somava triunfos em provas secundárias quando esteve nos escalões inferiores, mas estava na equipa como homem de trabalho e nada mais. Dupla vitória na Vuelta é para não mais esquecer! Thomas de Gendt - que também ganhou no Critérium du Dauphiné - deu um toque de história ao tornar-se num ciclista a vencer etapas nas três grandes, enquanto Sander Armée (31) também apareceu para garantir então quatro vitórias para a Lotto Soudal na Vuelta. Mais um ciclista a conquistar a vitória mais importante da carreira, a única diga-se, de forma inesperada. Sim, é caso para dizer que a temporada ficou salva na Volta a Espanha.

Apesar dos 35 anos, a equipa não irá desistir de Greipel em 2018 e não seria descabido tentar que o alemão até apostasse um pouco mais nas clássicas. Porém, os responsáveis irão exigir mais de ciclistas que está na altura de elevarem o seu ciclismo a outro nível. Caso de Tim Wellens. Aparece aqui e ali, soma uma ou outra vitória - como no Giro no ano passado -, mas este belga de 26 anos pode e deve fazer mais. Ganhou sete vezes em 2017, mas demora a afirmar-se nas grandes corridas. Terá de assumir outra responsabilidade na equipa e não passar tanto tempo despercebido. Tem qualidade para muito mais.

A carreira de Tiesj Benoot tem sido gerida com muito cuidado e com razão. Eis um jovem de grande potencial e há que não precipitar. No entanto, já demonstrou que pode lutar por vitórias em corridas importantes, tanto em clássicas, ou mesmo em algumas por etapas. Mas é nas de um dia que a Lotto Soudal poderá tentar tirar mais partido no imediato do belga de 23 anos, que em 2017 deixou indicações que está pronto para assumir outra relevância na equipa. A chegada de Jens Keukeleire (Orica-Scott) vem reforçar o bloco de clássicas e em boa hora.

2017 foi um ano que soube a pouco para uma Lotto Soudal habituada a estar na ribalta. Será o fim de um ciclo com Greipel? Independentemente do que o ciclista faça em 2018, a equipa terá de preparar o futuro pós-Greipel e assim continuar a ser uma das mais fortes do pelotão, no que diz respeito a conquistas de etapas nos grandes palcos da modalidade.

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