(Fotografia: Facebook Movistar Team) |
Depois de semanas de trocas de palavras que apenas serviram para alimentar a ideia de uma rivalidade interna a seguir com atenção, a Movistar promoveu a habitual concentração nesta altura do ano para juntar os ciclistas que em 2018 irão lutar pelos objectivos da formação espanhola. É o mesmo que dizer que Nairo Quintana e Mikel Landa estiveram pela primeira vez lado a lado como colegas de equipa. Oficialmente Landa ainda é da Sky, até 31 de Dezembro, pelo que usará o equipamento negro até essa data, mas naturalmente que já prepara a temporada com o pensamento que usará as cores da Movistar. No meio dos dois colegas/rivais aparece um Alejandro Valverde que cada vez mais parece que terá de assumir um papel de apaziguador e assim manter uma união que ameaça ser precária na equipa.
Já se tinha aqui escrito que muito se haveria de falar da Movistar até à Volta a França. E aqui está mais um capítulo, o da confraternização. Recapitulando rapidamente o que aconteceu em dias mais recentes. Nairo Quintana sentiu a necessidade de reforçar o que só se pode ver como uma marcação de território. Reiterou que todos na equipa têm o seu lugar e que o dele é de líder e será líder no Tour. Mikel Landa lançou o repto #freelanda, primeiro na gala de entrega de prémios de final de temporada, na China, mas depois tem alimentado com mensagens no Twitter. Pelo meio admitiu que esperava uma melhor recepção por parte de Quintana. Valverde dava indicações que queria evitar ser apanhado no meio desta disputa territorial, dizendo que os seus planos passavam pelo Giro, Vuelta e Mundial, além das habituais clássicas. Um encontro em Navarra e tudo muda... Pelo menos o discurso público.
"[O Mikel Landa] é uma pessoa muito agradável e extrovertida. Do lado de fora poderá ter sido visto um certo mal-estar entre nós, mas não é o caso. Ele é um companheiro", garantiu Nairo Quintana. Landa disse: "A recepção do Nairo foi muito boa." Juntam-se as mãos num sinal de união e assim se tenta passar uma imagem que tudo está bem. Eusebio Unzué tem demasiada experiência para saber que é preciso mais do que um trabalho de marketing. "É normal que o Nairo, que há cinco temporadas que sobe ao pódio nas grandes voltas, se queira impor. O mesmo se passa com o Mikel, que depois de ter demonstrado que além de qualidade tem regularidade, também quer reivindicar que pode ser líder", afirmou o director desportivo, em declarações citadas no jornal As.
E que tal três líderes para o Tour? Em Espanha já muito se fala do fantástico tridente e parece que poderá vir a acontecer. Ainda é cedo para confirmar, até porque, para já, só se conhece o percurso da Volta a França e Unzué quer saber também pelo menos o do Giro. "Para o nosso patrocinador seria muito importante o Tour, competição que ainda não conquistámos como Movistar. A ideia inicial é que Nairo, Landa e Valverde estejam na prova francesa. Veremos se algum irá antes ao Giro. Não descartamos nada", afirmou Unzué.
Como irá este tridente trabalhar? Aqui entramos no campo da especulação. Quintana já marcou o seu território e em condições normais será o líder. Não seria inédito haver um co-líder, mas a história demonstra que não é a melhor das soluções, provocando normalmente divisões na equipa. Porém, é difícil imaginar Landa aceitar ser novamente gregário. Até ao último Tour, o espanhol ia dizendo que o Giro era a volta que mais gostava e que queria muito ganhar. Só que tudo mudou quando percebeu que tinha condições para lutar na Volta a França e teve de "levantar o pé" para apoiar Chris Froome. Agora quer ganhar o Tour, ainda que essa ambição não signifique que não tente também uma Volta a Itália.
Talvez ganhando o Giro, Landa até possa aceder a estar numa segunda linha de ataque ao Tour, mas ainda assim é difícil de acreditar. Alejandro Valverde poderá ser considerado um líder, mas terá sempre um papel de ajudar, mas claro que com liberdade para ganhar uma etapa. Afinal, é Valverde e não podem reduzi-lo completamente à função de gregário. Seria um desperdício, ainda mais se recuperar a boa forma que tinha antes da queda na primeira etapa do Tour, em Dusseldorf, e que lhe acabou com a temporada. A Valverde poderá ter aberta a porta da Vuelta, mesmo que Quintana lá vá também. Se Landa for ao Giro e Tour, ficará de fora da prova espanhola. Caso Unzué aposta tudo no Tour... então irá apostar tudo na Vuelta também?
"Até há mês e meio tinha dúvidas, mas agora não tenho nenhuma que vou atingir o meu melhor nível. O meu plano era o Giro, Vuelta e Mundial, mas quando saiu o percurso do Tour, a verdade é que gostei muito. Não seria bonito irmos os três ao Tour?" Valverde tem razão, seria. Que super equipa teria a Movistar. Porém, haverá muito a gerir, pois Unzué não poderá repetir o Tour e a Vuelta de 2017. Exigem-se vitórias nestas duas corridas!
Entretanto, há um grupo de ciclistas que terá de esperar para ver como irão os líderes ficar distribuídos. Andrey Amador deve estar um pouco ansioso. Ele que tanto trabalhou para que lhe fosse dada novas oportunidades no Giro depois do quarto lugar em 2015, acabou por ser novamente gregário primeiro para Valverde em 2016 - ainda que neste ano até tenha andado de rosa, mas acabou por quebrar, terminando em oitavo - e depois para Quintana, este ano (fez 18º). O ciclista da Costa Rica poderá estar na linha da frente para assumir a liderança em Itália, caso Unzué aposte no tridente para França.
No entanto, Amador poderá enfrentar a concorrência de um renascido Carlos Betancur. Ainda não é aquele colombiano de início de carreira, mas parece que a Movistar está a conseguir tirar partido das muitas qualidades de Betancur. Também ele tem capacidade para lutar por um Giro. O jovem Marc Soler, o reforço Jaime Rosón, a esperança do Equador Richard Carapaz, o irreverente Rubén Fernández, são ciclistas que procuram uma oportunidade, depois de na última Vuelta não terem consigo mostrar-se tanto como queriam, perante uma Movistar sem um dos seus líderes. Rosón esteve ao serviço da Caja Rural.
Agora que a Movistar tentou passar uma imagem pacificadora de Quintana e Landa é altura de começar a preparar as respostas às muitas dúvidas que ter estes dois ciclistas na equipa criou.
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