23 de fevereiro de 2019

"Vou deixar tudo na estrada e se possível ganhar [no Malhão]"

Desde os primeiros instantes da Volta ao Algarve que não é fácil encontrar Amaro Antunes sozinho. Entre adeptos, jornalistas e, claro, amigos, o algarvio tem sido um foco de atenção neste seu regresso à Algarvia, dois anos depois de ter vencido no Malhão. Contingências de ser um corredor da "casa", mas também por ser um ciclista do World Tour. Aos 28 anos chegou ao mais alto nível do ciclismo mundial e está em contagem decrescente para a sua primeira grande volta: o Giro. Porém, quer concentrar-se no presente, pois não atira a toalha ao chão na geral e quer retribuir todo o carinho que está a receber com uma vitória.

"Quero salientar o grande apoio que tenho sentido aqui no Algarve. Tem sido incrível. Deixam-me sem palavras. Muitas vezes o cansaço é extremo, mas o não querer desiludir e querer demonstrar o reconhecimento às pessoas por virem à estrada, fazem-me tentar algo mais. Acho que são essas coisas que são gratificantes. São coisas que me fazem querer dar um pouco de espectáculo e retribuir com uma vitória", salientou ao Volta ao Ciclismo. Foi também por essa razão que, na etapa da Fóia, Amaro Antunes atacou a cerca de 40 quilómetros da meta para tentar recuperar o prejuízo do dia anterior. Aquela queda tão perto de Lagos é algo que nem sequer tenta esconder o quanto o deixou desiludido. "Trabalhei muito no Inverno a pensar nesta corrida, um Inverno rigoroso, com chuva... Preocupei-me em ir estudar todas as etapas. Conheço o percurso de olhos fechados e depois ver cair por terra por uma coisa uma simples, banal... é complicado, mas pronto, faz parte."

Um desabafo a que se segue um discurso bem mais animador: "Não vou atirar a toalha ao chão na geral. Vou tentar fazer uma boa etapa no Malhão." E volta a falar do intenso apoio que está a receber e que tanto está a fazer a diferença na sua atitude. "Irei ter uma multidão na estrada. Tenho muitos colegas que irão lá estar. Tenho recebido muitas mensagens de pessoas que irão lá torcer por mim. É óbvio que é uma responsabilidade, uma pressão e eu sei que a tenho. Sem dúvida que vou deixar tudo na estrada e se possível ganhar."


"Irei com responsabilidade, não vou esconder isso, mas vai ser a minha primeira grande volta e irei um pouco na expectativa, para ver como é que o corpo irá responder"

Foi assim em 2017, então com a camisola da W52-FC Porto. Um triunfo marcante, naquele que era o primeiro ano em que a Algarvia tinha a segunda categoria internacional, 2.HC, a mais alta entre as provas portuguesas. Então foi o arranque para uma temporada sensacional, com triunfos na Clássica da Arrábida, Troféu Joaquim Agostinho e uma Volta a Portugal ganha por Raúl Alarcón, mas com Amaro a ter uma enorme influência. Venceu na Serra da Estrela, onde "puxou" o seu líder para longe de todos os rivais na Serra da Estrela Foi segundo na geral e ainda o rei da montanha.

Seguiu-se o mais do que esperado passo internacional. Escolheu a polaca CCC Sprandi Polkowice, do escalão Profissional Continental. Foi uma época de altos e baixos, marcada por uma queda na Ruta del Sol que o deixou muito mal tratado. Não esteve na Algarvia por falta de convite para a sua equipa, mas agora a CCC não precisa de ser convidada. É do World Tour e esse estatuto abre de todas as corridas. A CCC aproveitou a estrutura da BMC, que deixou o patrocínio a uma das equipas mais fortes do pelotão.

Abriram-se as portas do World Tour e Amaro Antunes foi chamado a dar o salto. Tudo mudou. "O ambiente, a logística, a organização é totalmente diferente. Temos outro tipo de visão. Aqui preocupam-se muito com os pormenores mínimos e creio que se começa a ver as diferenças e os resultados", explicou. A CCC já soma três vitórias das 20 que o director, Jim Ochowicz, colocou como objectivo: duas de Patrick Bevin e uma de Greg van Avermaet.

E vem aí a Volta a Itália. Será a primeira grande volta de Amaro Antunes. "Sem dúvida que é algo que me motiva muito. É algo que me deixa bastante feliz." Não utilizou a palavra líder, mas afirmou: "Irei com responsabilidade, não vou esconder isso, mas vai ser a minha primeira grande volta e irei um pouco na expectativa, para ver como é que o corpo irá responder. Não me vou colocar muita pressão. É uma corrida que será nova para mim. É tudo novo. Será ir dia a dia."

Rapidamente reiterou que é na Volta ao Algarve que está concentrado. O contra-relógio não é uma vertente que lhe seja favorável, mas estando agora no World Tour, mais do que nunca há que trabalhar para aperfeiçoar. "Trabalhámos bastante a posição, melhorei bastante esse aspecto", referiu. Perdeu 1:17 minutos para Stefan Küng (Groupama-FDJ), um especialista, e 1:01 para a jovem revelação Tadej Pogacar (UAE Team Emirates), o camisola amarela. Este sábado recuperou sete segundos, o que significa que são 2:36 para recuperar. Difícil, mas a dupla subida ao Malhão já quebrou muitos e bons trepadores. E já se sabe, no Malhão, manda o Amaro!


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