18 de fevereiro de 2019

Colombianos mandam em casa e ameaçam mandar fora dela

(Fotografia: Volta à Colômbia)
Com um lote invejável de jovens talentos e de ciclistas que há muito se afirmaram ao mais alto nível, seria uma pequena surpresa não ver um atleta da casa conquistar a segunda edição da Volta à Colômbia. Julian Alaphilippe tentou intrometer-se, como o tinha feito em 2018, mas, mais uma vez, foi um colombiano a triunfar. Foi um que ganhou e foi acompanhado por muitos mais que dominaram o top 15, tanto na última etapa, como na geral. Miguel Ángel López sucedeu a Egan Bernal, num pódio preenchido por ciclistas de enorme futuro, mas que já começam a dar garantias no presente.

Numa corrida que cativa tudo e todos devido ao intenso ambiente proporcionado pelos adeptos - Nairo Quintana chegou a apelar para que o muito entusiasmo não colocasse em perigo os ciclistas - e também por um percurso que atraiu inclusivamente Chris Froome (Sky), os colombianos impuseram-se em condições que não são fáceis para os menos habituados ao calor e, principalmente, à altitude. Os corredores colombianos são autênticos heróis, como que ficou bem patente na apresentação da prova, com um estádio de futebol repleto de adeptos para receber os melhores das bicicletas.

Froome foi quem mais se equiparou, a nível de apoio, aos colombianos. E percebe-se este entusiasmo colombiano pelo ciclismo. Nairo Quintana (Movistar) continua a ser a grande referência. Mesmo estando tantas vezes no centro de críticas, é o colombiano que tem duas grandes voltas ganhas (Giro e Vuelta) e aquele que continua a aparecer no topo de candidatos do seu país para ganhar o Tour. Quintana venceu a derradeira etapa, mas, no geral, não foi a melhor das corridas. Rigoberto Uran (EF Education First) é outro dos veteranos, foi líder por um dia, contudo, a corrida pertenceu à nova geração.

Miguel Ángel López perdeu a nível táctico na derradeira etapa para Quintana, mas como numa prova por etapas interessa o todo, o ciclista da Astana levou o prémio máximo. Um primeiro sinal do "Superhomem" do ciclismo que aposta forte na Volta à Itália. Seguiu-se, na classificação geral, aquele que se poderá tornar no menino de ouro, parte dois. Iván Ramiro Sosa ficou a oito segundos de repetir a "graça" do colega da Sky, Egan Bernal, o menino de ouro, parte um. Ao estrear-se na equipa World Tour em 2018, Bernal venceu na Colômbia. Sosa está a demonstrar parecenças com o seu compatriota. Que dupla em perspectiva!

Daniel Martínez não tem o mediatismo de López, Bernal - que foi quarto - e Sosa, muito por estar numa equipa precisamente menos mediática. Porém, este jovem, de 22 anos, já revela ser uma certeza na EF Education First e 2019 tem tudo para ser o ano da confirmação de este talento. A seguir com muita atenção.

No top 15 da geral, só Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) quebrou a hegemonia colombiana - sétimo a 1:33 minutos - juntamente com o equatoriano Richard Carapaz (Movistar) - nono a 2:46. Na classificação da última etapa, foi Alaphilippe e outro equatoriano, Jhonatan Narváez a intrometerem-se no top 15. Narváez é mais um dos reforços da Sky.

Os colombianos mandaram em casa e cada vez mais demonstram que podem muito bem vir a mandar fora dela, depois de um ano em que foi a Grã-Bretanha a ganhar as três grandes voltas. Neste 2019 muito se poderá falar de ciclistas deste país da América do Sul.

Esta Colômbia é cada vez mais uma fonte de grandes talentos no ciclismo e não se estranha que ano após ano, as principais equipas procurem por lá reforços. Já não é o  chegou a parecer ser um segredo bem guardado de Gianni Savio, que muito tem contratado na Colômbia para a Androni Giocattoli-Sidermec. Bernal e Sosa são os dois casos de maior sucesso de Savio.

E não é um país apenas de trepadores, como até recentemente era conotado. O sprint vai revelando alguns dos melhores na especialidade, Fernando Gaviria à cabeça (ele que abandonou devido a doença), mas Álvaro Hodeg (Deceuninck-QuickStep) - Hodge de nascença - é já um seguidor de respeito, com Juan Sebastián Molano (UAE Team Emirates) a dar os primeiros passos no World Tour. Estes dois últimos ganharam uma etapa cada.

Demorou até que este país tivesse a sua corrida, mas em apenas duas edições já conquistou o seu lugar mesmo que, por agora, seja de categoria 2.1. Chamou a atenção dos melhores e tornou-se em mais um palco para revelar os talentos locais. O sucesso da corrida, dos ciclistas, da modalidade, até influenciou altas figuras do governo colombiano em equacionar a possibilidade de aproveitar a oportunidade em entrar no World Tour via Sky. O financiamento incluiria empresas como a Ecopetrol, mas o director da equipa britânica, Dave Brailsford, admitiu que vê como "muito improvável" que a Sky seja colombiana em 2020.

Efapel termina com três ciclistas

O ciclismo português esteve representado na Volta à Colômbia com a Efapel. Entre os seis eleitos estavam dois dos líderes da equipa: Joni Brandão e Sérgio Paulinho. Um abandonou na quinta etapa, o outro na terceira, respectivamente. Bruno Silva, não terminou a quinta tirada. O melhor foi Marcos Jurado. O espanhol fechou na 80ª posição a 45:12 minutos. Rafael Silva foi 125º e o reforço uruguaio Fabricio Ferrari 127º, ambos a mais de uma hora do vencedor.

A equipa de Américo Silva regressa já à competição na quarta-feira, no arranque da Volta ao Algarve.



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