23 de fevereiro de 2019

Momento para UAE Team Emirates ser equipa. Sky pode repetir táctica de sucesso

(Fotografia: © João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo)
A dupla subida ao Malhão tornou-se um final tradicional na Volta ao Algarve e é uma boa escolha. Tem havido espectáculo, a corrida entra praticamente sempre em aberto para na última etapa, muito porque, mesmo com diferenças simpáticas na geral, o Malhão é uma daquelas subidas curtas, mas que pode fazer mossa. Por isso mesmo, Tadej Pogacar não terá um dia nada fácil. Meio minuto de distância para a concorrência não lhe garante nada, mas irá assegurar a quem assistir à corrida mais um bom momento de ciclismo nas estradas algarvias.

Três quilómetros, com pendentes a rondar os 10%, mas que depois ainda aumentam um pouco. Na curta recta da meta da meta até se atreveria dizer que é mais fácil, não fosse o facto de depois de tanto esforço, os últimos metros também doerem e muito. Será um grande teste para Pogacar, que neste sábado, em Tavira, não evitou um corte de sete segundos no pelotão que fez com que a sua desvantagem fosse agora de 29 segundos para o segundo classificado. Mas principalmente será um teste para a UAE Team Emirates. O jovem esloveno já fez muito mais do que esperado. Com apenas 20 anos, na sua época de estreia no World Tour já venceu no Alto da Fóia. Numa equipa em que Fabio Aru estava no Algarve com responsabilidade acrescida depois de um 2018 demasiado mau para o ciclista do seu estatuto, o italiano foi mais do mesmo. Entre a queda da primeira etapa e a Fóia disse adeus à geral. Pogacar assumiu e muito bem a responsabilidade.

Aru ajudar Pogacar seria uma surpresa, pelo que Valerio Conti, Kristijan Durasak e, numa primeira fase do Malhão, talvez Simone Petilli, sejam os companheiros que mais podem ajudar o inesperado líder no Malhão. E vai precisar que esta equipa comece a funcionar como tal. Seria um bom exemplo para a restante temporada. A Sky procura a sua sexta vitória na Algarvia em oito anos e Wout Poels não quer desperdiçar outra oportunidade de ganhar. Já o fez na Volta à Comunidade Valenciana e no monumento Liège-Bastogne-Liège. Foi em 2016 e foi quando começou a falar em querer mais oportunidades e de querer liderar numa grande volta.

Entre quedas e o facto de na Sky o papel de líder estar completamente tapado para Poels, é aqui, na Volta ao Algarve que Poels pode fazer aquilo que se sabe que tem capacidade, mas que numa equipa como a britânica, as oportunidades para os gregários só surgem de quando em vez. A Sky poderá tentar repetir a táctica de 2018. Com Geraint Thomas na liderança e Michal Kwiatkowski a 19 segundos, o polaco foi para a frente, baralhando os adversários. A perseguição surgiu tarde e Kwiatkowski venceu no Malhão e a geral.

Agora é o cenário é diferente, pois é Pogacar o camisola amarela. Porém, Poels está a 30 segundos (recuperou sete) e David de la Cruz a 57. Se o espanhol for para a frente, vai obrigar a UAE Team Emirates a defender-se, mas também se pode dar o caso da Sky simplesmente impor aquele seu ritmo infernal e tentar eliminar um a um os seus adversários.

Porém, aqui poderá ficar exposta a ataques de um ciclista que tão bem os faz. As comparações entre Enric Mas (Deceuninck-QuickStep) e Alberto Contador tem razão de ser. Sabe mexer com as corridas e pode sozinho meter em dificuldades os próprios homens da Sky. E se De la Cruz tentar escapar, Mas poderá ter um "aliado" espanhol para mexer na corrida. São 31 segundos que tem para recuperar e pode perguntar a Contador como se ganha no Malhão, pois El Pistolero venceu naquele Alto em 2010, 2014 e 2016. Zdenek Stybar, que há um ano mostrou-se no Malhão, tem 2:12 de desvantagem, o que lhe poderá valer liberdade de mexer na etapa e talvez ser muito útil ao companheiro Enric Mas.

E atenção a Soren Kragh Andersen. O ciclista da Sunweb era um outsider e meteu-se na luta depois da Fóia e principalmente do contra-relógio. Subiu agora para segundo, beneficiando dos cortes na chegada a Tavira O dinamarquês está a 29 segundos e também esta equipa poderá jogar outro ciclista na frente. Sam Oomen tem 1:28 minutos e não pode ser menosprezado se tentar escapar ao grupo da frente.  No entanto, o holandês desperdiçou 20 segundos ao ser sancionado este sábado por ter ficado demasiado tempo atrás do carro, para recuperar o lugar no pelotão. No top dez está ainda Marc Hirschi, o campeão mundial de sub-23, a 2:35, e mais um para a Sunweb poder jogar tacticamente.

Ou seja, a UAE Team Emirates ver-se-á na contingência de ter de ou responder a todos os ataques, ou ter de escolher as suas lutas e esperar que mais alguém ajude. Uma etapa muito táctica à espera dos ciclistas.

Todos os restantes corredores estão a mais de dois minutos, difíceis de recuperar, mas no Malhão nada é impossível. Haverá quem vá à procura da vitória de etapa. O destaque irá para Amaro Antunes (CCC). O homem da casa terá uma mancha laranja a apoiá-lo na subida que conquistou em 2017. Tem 2:36 para recuperar. O algarvio esteve envolvido na queda na primeira etapa e perdeu mais tempo no contra-relógio, recuperando em Tavira nove segundos. Talvez a geral seja pedir de mais, ainda que não seja de atirar a toalha ao chão. Mas estará lá para tentar ser o rei do Malhão, um top dez e a camisola da montanha (é segundo com menos dois pontos que Pogacar).

Há outros portugueses que conhecem todos os centímetros do Malhão. João Rodrigues é outro algarvio em destaque. Está a 3:21, na 17ª posição, é o melhor da W52-FC Porto naquele que poderá ser o ano da sua afirmação com um papel de maior destaque dentro da equipa Profissional Continental. Se ver o João Rodrigues tentar estar na frente não será uma surpresa, ver Tiago Machado a dar o tudo por tudo é mais do que esperado. Entre a queda e falta de pernas, o ciclista do Sporting-Tavira rapidamente claudicou qualquer hipótese de um bom resultado na geral. É 32º, a 6:57. Porém, o famalicense adoptou o Algarve como um dos seus locais de treino de eleição, pelo que o Malhão também não tem segredos para ele.

Não escondeu alguma frustração por não estar a conseguir realizar uma corrida como desejaria, pelo que sobra-lhe o Malhão para tentar ganhar pela primeira vez pela nova equipa, neste seu regresso a Portugal.

Quinta e última etapa: Faro – Malhão, 173,5 quilómetros



Groenewegen segue guião quase à risca

Depois de uma etapa ao sprint em que uma queda marcou desde logo a Volta ao Algarve, a sete quilómetros de Lagos, desta feita o guião foi seguido à risca. Houve uma fuga, com mais uma vez as equipas portuguesas a aproveitarem para se destacar - Efapel e LA Alumínios-LA Sport têm andado particularmente activas -, o pelotão apanhou os ciclistas da frente, mais um ou outro tentou escapar e tudo terminou ao sprint, com todos os candidatos presentes. Dylan Groenewegen ainda se desviou do guião ao ter um problema mecânico que o obrigou a uma recuperação, mas nada que lhe tirasse a força para triunfar novamente em Tavira.

O holandês da Jumbo-Visma foi o mais forte após 198,3 quilómetros que começaram em Albufeira. Foi a sua segunda vitória do ano em duas corridas e a terceira na Volta ao Algarve. Há um ano tinha também ganho em Lagos. Groenewegen cumpriu o que se esperava, já Arnaud Démare somou outro segundo lugar, depois de ter perdido para Fabio Jakobsen (Deceuninck-Quick-Step) em Lagos. Ainda assim, o francês da Groupama-FDJ subiu ao pódio para vestir a camisola vermelha dos pontos.

O melhor português da quarta etapa da 45ª edição da Volta ao Algarve foi Samuel Caldeira, o sprinter da W52-FC Porto, que terminou no 15º lugar.

Classificações após a quarta etapa, via ProCyclingStats.

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