(Fotografia: © João Calado/Federação Portuguesa de Ciclismo) |
Local escolhido, data definida e um ciclista determinado em tirar o recorde da hora a Bradley Wiggins. Faltava garantir o financiamento (e não era pouco), que também já está tratado. Victor Campenaerts tem tudo preparado para enfrentar o primeiro de três grandes objectivos da carreira. O bicampeão europeu de contra-relógio, quer ainda juntar um título mundial e a medalha de ouro olímpica nesta especialidade.
Mas uma coisa de cada vez. Primeiro o recorde da hora. A tentativa de bater a marca de Wiggins irá realizar-se a 16 ou 17 de Abril, num velódromo que tem sido a escolha de vários ciclistas, o de Aguascalientes, no México. A marca está nos 54,526 quilómetros e foi estabelecida a 7 de Junho de 2015, em Londres. Wiggins fez muito melhor do que o seu compatriota, que um mês antes tinha fechado os 60 minutos com 52,937 quilómetros. O britânico Alex Dowsett nunca se conformou com a perda do recorde, alegando que Wiggins tinha violado as regras ao ter um guiador feito à sua medida, quando é suposto utilizar material que possa ser adquirido por qualquer pessoa.
A marca de Bradley Wiggins é a que vale, enquanto Dowsett de vez em quando lá fala em tentar de novo. Porém, foi o dinamarquês Martin Toft Madsen (53,630 quilómetros em Julho do ano passado) e o holandês Dion Beukeboom (52,757, um mês depois) que avançaram. Ambos estiveram precisamente no México, mas nenhum conseguiu fazer melhor do que Wiggins. Já a italiana Vittoria Bussi aproveitou bem a viagem àquele país e estabeleceu a marca das senhoras em 48,007 quilómetros, em Setembro de 2018.
"Eu respeito muito o Bradley e não considero que seja um atleta melhor do que o antigo vencedor da Volta a França e cinco vezes campeão olímpico. No entanto, ao progredir e tendo em conta todos os pormenores possíveis, espero ter uma hipótese de ficar com o recorde da hora", afirmou Campenaerts, num comunicado divulgado pela UCI.
Esta vontade de dedicar-se ao recorde da hora cresceu após os Mundiais de Innsbruck. Campenearts foi terceiro, com a camisola arco-íris a ficar para Rohan Dennis, mas o belga não perdeu tempo e foi testar-se no recorde da hora. "Pedalei a uma média de 54,8 quilómetros por hora e nas últimas quatro voltas cheguei aos 60 quilómetros por hora para ver o que sobrava de energia", explicou então ao Het Nieuwsblad. Pormenor importante foi este teste ter durado meia hora, o suficiente para motivar ainda mais o ciclista. "Sei que 30 minutos a este ritmo é muito diferente de 60 e muito terá de ser feito para de facto bater o recorde da hora", disse na altura. Os primeiros testes foram realizados no velódromo de Grenchen, na Suíça, com Campenaerts e passar mais tarde dois meses na Namíbia, para treinos de altitude.
Agora já teve muito tempo para mais testes, até porque não compete desde os Mundiais. Contudo, irá estar na estrada pela Lotto Soudal no Tirreno-Adriatico (de 13 a 19 de Março) e percebe-se a escolha: tem um contra-relógio colectivo a abrir e um individual a fechar. Depois viajará para o México, três semanas antes da tentativa.
A meio deste mês, o belga, de 27 anos, já tinha garantido que o recorde da hora era mesmo um objectivo, mas faltava o necessário financiamento. Em entrevista ao HLN.be, Campenaerts explicou que precisaria de pelo menos 100 mil euros. "O preço inclui o equipamento, a viagem ao México, a estadia, o uso de uma tenda de altitude, os custos com o staff, o salário do meu treinador, o aluguer da pista e muito mais", referiu. Acrescentou que a sua equipa estava a trabalhar para garantir um patrocínio, que chegou de uma empresa que organiza eventos, a Golazo.
Com a alteração das regras, foram vários os ciclistas que se interessaram pelo recorde da hora, depois de ter caído praticamente no esquecimento. Jens Voigt foi o primeiro, num adeus em grande na carreira. Fez 51,110 quilómetros, a 18 de Setembro de 2014. Em menos de um ano houve mais sete tentativas, quatro resultaram em recordes. No entanto, a fantástica marca de Wiggins acabou por voltar a resfriar o interesse.
Além de Dowsett, também Dennis não esconde que um dia gostaria de tentar deter novamente o recorde, mas tão cedo o australiano não irá dedicar-se a este objectivo. Se Campenaerts tiver sucesso ou ficar muito perto, poderá ajudar a recuperar o interesse no recorde da hora, pois, para já, os 54,526 quilómetros de Wiggins estão a ser vistos como muito, mas mesmo muito, difíceis de bater.
Estes foram os ciclistas que tentaram estabelecer o recorde da hora desde a aplicação das novas regras. A negrito estão os que detiveram a marca.
- Dion Beukeboom (Holanda), 52,757 quilómetros - Aguascalientes (México), 22 de Agosto de 2018
- Martin Toft Madsen (Dinamarca), 53,630 quilómetros - Aguascalientes (México), 26 de Julho de 2018
- Bradley Wiggins (GB), 54.526 quilómetros - Londres (Inglaterra), 7 de Junho de 2015
- Alex Dowsett (GB), 52.937 - Manchester (Inglaterra), 2 de Maio de 2015
- Gustav Larsson (Suécia), 50,015 quilómetros - Manchester (Inglaterra), 14 de Março de 2015
- Thomas Dekker (Hol), 52,221 - Aguascalientes (México), 25 de Maio de 2015
- Rohan Dennis (Aus), 52.491, Grenchen (Suíça), 8 de Fevereiro de 2015
- Jack Bobridge (Aus), 51,300 - Melbourne (Austrália), 31 de Janeiro de 2015
- Matthias Brändle (Aut), 51.852 - Aigle (Suíça), 30 de Outubro de 2014
- Jens Voigt (Ale) 51.115 - Grenchen (Suíça), 18 de Setembro de 2014
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