21 de fevereiro de 2019

"Já estive aqui um ano e sei o que vai acontecer se não conseguir fazer nada"

A proposta para regressar à Caja Rural surpreendeu Domingos Gonçalves. 2018 foi o melhor da sua carreira, com seis vitórias, pelo que espreitava a possibilidade de enveredar por nova aventura no estrangeiro. O caminho levou-o de volta a Espanha e agora diz que já sabe o que tem de fazer para que possa continuar lá por fora, pois acredita que pode ir ainda mais alto. O campeão nacional de fundo e contra-relógio está na Volta ao Algarve no arranque da sua temporada e esta sexta-feira é dia de mostrar-se no esforço individual.

"É uma segunda oportunidade estar na Caja Rural. Já estive aqui um ano e sei o que vai acontecer se não conseguir fazer nada", salientou ao Volta ao Ciclismo. Domingos garante que "mudou muita coisa" em si nestes dois anos em que esteve na Rádio Popular-Boavista, depois da formação espanhola não ter renovado com o ciclista de Barcelos. "Vejo que tens de fazer resultados. A trabalhar só para a equipa não vais chegar a lado nenhum, aqui [na Caja Rural] aprendi isso. Foi aqui que fiz tudo o que me tinham pedido e no final do ano mandaram-me embora. Aprendi não só a trabalhar para a equipa, mas também que tens de trabalhar para ti", afirmou.

Admitiu que se tivesse recebido propostas de outras equipas, talvez assinasse pela Caja Rural, mas sente-se motivado por este regresso, com vontade de mostrar muito mais e melhor do que em 2016. O seu papel será de trabalho, mas não só sabe que poderá ter oportunidades, como quer criá-las. "Aqui vou querer ganhar uma etapa numa prova importante ou uma clássica." E garantiu: "Sim, quero tentar ir mais alto. Vou tentar andar muito mais do que aquilo que tentei até agora. Sempre acreditei em mim, às vezes não estava bem, mas agora estou melhor."

Esta está a ser a sua terceira experiência além fronteiras, pois em 2014 esteve na La Pomme Marseille 13. Tanto nesse ano, como depois em 2016 na Caja Rural, Domingos juntou-se ao irmão gémeo, José, que já estava nessas equipas. Em 2019, José continua pela Katusha-Alpecin no World Tour. Domingos não vê qualquer questão de mérito nas suas anteriores vivências no estrangeiro: "Era igual se estivesse o Zé. Vim para aqui com mérito!"

"Aqui [em Portugal], o único problema é esse. Só se dá valor à Volta. Os outros corredores que andaram ao longo da época... nada"

2018 poderá ter sido então uma época de mudança para Domingos, uma época de relançamento da carreira. "No ano passado vi que podia melhorar", realçou. E se tivesse ficado por cá, até sabia bem o que iria apostar: "Se tivesse ficado em Portugal, este ano apontaria tudo à Volta. Aqui, o único problema é esse. Só se dá valor à Volta. Os outros corredores que andaram ao longo da época... nada. E esses ciclistas que andam na Volta a Portugal, valem muito. Iria aplicar-me mais para a Volta e fazer um lugar melhor." Até dá que pensar que Domingos Gonçalves se veria, pois no ano passado venceu uma etapa, em Boticas, e terminou num excelente e algo inesperado nono lugar.

Mas agora é tempo de pensar na Volta ao Algarve, que está a servir para Domingos recuperar alguma forma. Uma queda num estágio de início de ano resultou numa fissura no cotovelo. Parou três semans e só regressou aos treinos a 2 de Fevereiro, pelo que está na Algarvia sem grandes objectivos.

Esta sexta-feira é dia de contra-relógio e Domingos é o bicampeão nacional. "Vão ver a camisola, não sei se vão ver rápido. Mas vou tentar, claro", disse sobre a etapa de Lagoa (20,3 quilómetros). Partirá às 15:21. Ainda houve tempo para recordar a passagem pelos Mundiais, numa experiência que não o agradou. "O Mundial foi a pior coisa que eu fiz até agora. Não deveria ter ido. Não estava bem. No Mundial é tudo ao pormenor. Esses ciclistas de topo é tudo ao pormenor. Mudei de bicicleta uma semana antes e lá não estava a correr com amadores. Não foi a melhor experiência, nem opção", disse. Domingos foi o representante português no contra-relógio, juntamente com Nelson Oliveira (Movistar), que foi quinto classificado, enquanto Domingos foi 41º, a mais de seis minutos do campeão Rohan Dennis.

Quanto à Volta ao Algarve, Domingos quer ir com calma, mas ainda assim tentou testar-se na etapa da Fóia. Tem 15:04 de desvantagem para o líder Tadej Pogacar (UAE Emirates), quase 12 perdidos logo na primeira etapa ao ficar no corte provocado pela queda a sete quilómetros do fim. Ocupa a 75ª posição Se não for com o português, a Caja Rural quer mostrar-se com o russo Sergei Chernetski e o sprinter italiano Matteo Malucelli. Para a restante temporada, estar na Volta a Espanha seria algo que Domingos gostaria, já que não teve essa oportunidade em 2016, mas não vai competir obcecado a pensar na Vuelta.


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