24 de fevereiro de 2019

A vitória de Pogacar é tão importante para a Volta ao Algarve como a de Thomas

Ambiente incrível no Malhão, na última etapa da Algarvia
(Fotografia: © João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo)
Se há algo a que está habituado é a ganhar. Sabe bem o que é subir ao pódio, ser o melhor e em corridas importantes, como o Tour de l'Avenir em sub-23 e o Giro della Lunigiana em juniores. Porém, nesta nova dimensão na carreira, no World Tour, é tudo novo. De sorrisos tímidos, talvez o pensar que seria uma Volta ao Algarve em que passasse despercebido, fez com que nem assimilasse bem o que lhe estava a acontecer. Mas Tadej Pocagar, um daqueles nomes que irá estar brevemente entre os que mais se quererá ver nas grandes voltas, venceu mesmo, no seu ano de estreia na UAE Team Emirates e é um triunfo tão importante para ele como para a corrida portuguesa.

Quando se olha para o historial, a Volta ao Algarve tem muito com que se orgulhar. Só em anos mais recentes viu um Alberto Contador, que sempre será recordado como um dos grandes do ciclismo, ser rei três vezes do Malhão e vencer duas edições. Geraint Thomas confirmou por cá toda a sua capacidade de triunfar e é agora um vencedor do Tour, depois de somar duas Algarvias. Tony Martin, um dos melhores de sempre no contra-relógio, venceu também ele duas vezes. Michal Kwiatkowski é também um campeão do mundo como Martin, mas de fundo. Outras duas vitórias. Temos ainda um Richie Porte e um Primoz Roglic que estão entre os principais nomes nas grandes voltas, com o esloveno a conquistar definitivamente esse estatuto há um ano, no Tour.

Se agora Pogacar é um "miúdo" de 20 anos, ainda desconhecido para alguns, caso confirme as elevadas expectativas que recaem nele, não demorar-se-á muito a ser mais um grande nome que venceu a Volta ao Algarve, ajudando a validar ainda mais esta aposta em elevar a corrida a 2.HC (segunda categoria, apenas atrás das provas World Tour) - foi o terceiro ano neste escalão - e que demonstra ser tanto para uns ciclistas mais experientes ganharem, como uma porta para os mais novos se mostrarem.

Este esloveno, compatriota de Roglic, está a receber uma forte atenção mediática pela sua prestação na Volta ao Algarve. Autoritário na Fóia, que conquistou, defendeu-se na Volta ao Algarve frente a uma Sky que ainda tentou com David de la Cruz e Wout Poels, tal como a Deceuninck-QuickStep com Enric Mas. Porém, Pogacar segurou a liderança por 14 segundos, com Poels a ser terceiro a 21 e Mas quarto a 25. A vitória e a forma como a garantiu está em destaque um pouco por todo o mundo.

Ainda assim, há outro jovem que merece não ficar esquecido. Um dinamarquês de 24 anos que está a demonstrar ser mais um talento a crescer dentro de uma Sunweb que ameaça tornar-se num caso sério de formação de jovens ciclistas. Soren Kragh Andersen foi quem ficou a 14 segundos, tendo sido o mais audaz entre os rivais de Pogacar. Foi quem atacou de longe e ao perceber que não teria ajuda, também não se coibiu de continuar tentar. Não tinha nada a perder. O segundo lugar até terá sabido a pouco, pois talvez a etapa lhe tivesse ficado bem.

Stybar entrou na fuga e conquistou o Malhão
Foi Zdenek Stybar (Deuceninck-QuickStep) quem ficou com o lugar de topo num Malhão que voltou a ser palco de um bom espectáculo de ciclismo (173,5 quilómetros, com partida em Faro). São também estas etapas que engrandecem uma Volta ao Algarve que sofre uma forte concorrência no calendário nesta altura do ano, mas mais uma vez teve um pelotão com grandes nomes actuais e alguns daqueles que num futuro muito breve muito se falará. Além de Pogacar, houve o vencedor da primeira etapa, o sprinter Fabio Jakobsen (Deuceninck-QuickStep), também ele a ameaçar ter um carreira de valor.

Quando Pogacar chegar ao nível que a UAE Team Emirates tem a certeza que o espera, terá uma Volta ao Algarve gravada nas suas memórias. Foi pelas estradas algarvias - que nem era suposto estar, pois foi chamado à última hora - que se começou a habituar a vestir camisolas amarelas, a ser requisitado para as fotografias e talvez a partir de agora não se esqueça que, como líder tem de partir na frente do pelotão nas etapas. Sim, Pogacar tentou em Albufeira partir, discreto, mais atrás. Esqueceu-se do pormenor da amarela!

A UAE Team Emirates tremeu um pouco na defesa da camisola amarela. Pogacar não. As exibições valorizam e muito esta vitória. Quase dá para esquecer que na equipa estava um Fabio Aru, um dos cabeças de cartaz desta Algarvia. Mal se viu, não ajudando a queda do primeiro dia. Ainda assim, fez pouco. Pogacar fez muito e é um dos jovens contratados pela equipa que cedo começam a demonstrar, tal como Jasper Philipsen e como também se acredita que os gémeos Oliveira o venham a fazer.

Desta feita não ganhou a Sky, mas a Volta ao Algarve está a ser muito falada, pois viu nascer uma estrela. Para o ano há mais!

A tristeza de Amaro

Nem todos saem feliz. Amaro Antunes era um ciclista desiludido por não ter conseguido vencer novamente no Malhão. Desde que a subida iniciava, que o nome do algarvio estava pintado na estrada, não dando espaço para que mais ninguém tivesse direito a tal apoio. A mancha laranja tomou conta do Malhão e Amaro bem tentou. Queria dar uma vitória aos muitos adeptos e nem evitou que as lágrimas lhe tomassem conta dos olhos no final da etapa, tendo inclusivamente pedido desculpa por não ter ganho.

Amaro Antunes (CCC) foi 10º na etapa, a 34 segundos de Stybar. João Rodrigues (W52-FC Porto), outro algarvio, ficou com a distinção de melhor português, a 24. Ambos têm razão para ficar orgulhosos. Fecharam no top dez, mas aqui trocaram posições. Amaro foi oitavo, a 2:52, e João Rodrigues nono, a 3:27. Que potencial está a demonstrar cada vez mais este ciclista de 24 anos!

Um lugar de destaque para a W52-FC Porto, no seu primeiro ano como Profissional Continental. No entanto, houve um momento menos bom, com Joaquim Silva a ser desclassificado por ter sido empurrado pelo carro de apoio.

Mais uma para a Deceuninck-QuickStep

O pódio final: Declercq, Stybar. Pogacar e Ackermann
Numa luta acesa com a Astana na luta pelo título de equipa mais ganhadora, a Deceuninck-QuickStep respondeu à conquista de Jakob Fuglsang da Ruta del Sol com a vitória no Malhão de Stybar. Neste momento está a Astana em vantagem por 11-10. No entanto, a equipa belga meteu ainda no pódio final da Algarvia Tim Declercq, com vencedor da montanha. Não era um objectivo, mas ao entrar na fuga, aproveitou a oportunidade.

Com Arnaud Démare (Groupama-FDJ) a nem partir em Faro, ficou em aberto a classificação dos pontos. Aproveitou Pascal Ackermann. O alemão da Bora-Hansgrohe não venceu qualquer etapa, mas arranjou maneira de ter o seu destaque. O melhor jovem foi Tadej Pogacar, com a Sky a ser a vencedora por equipas.

Classificações completas da 45ª edição da Volta ao Algarve neste link, via ProCyclingStats.


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