14 de fevereiro de 2019

"São jovens ciclistas que tenho esperança que possam chegar à elite"

(Fotografia: © João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo)
Fernando Vieira não escondia algum nervosismo quando se aproximava a estreia da sua jovem equipa. A Crédito Agrícola-Jorbi-Almodôvar é uma das novas formações de sub-23 e correu pela primeira vez na estrada na Prova de Abertura Região de Aveiro, depois de ter marcado presença na pista. O director desportivo é o mais velho do pelotão, mas aos 71 anos continua apaixonado pela modalidade e determinado em ajudar a levar o maior número possível de corredores até à elite. Neste primeiro dia, o objectivo era que tudo decorresse sem problemas e daqui a um mês, ou talvez um pouco mais, na próxima corrida, então o responsável já terá melhor percepção da condição da equipa e do que poderá exigir.

"É um projecto arrojado, mas arriscámos. Seriam jovens que ficariam sem correr", salientou ao Volta ao Ciclismo. Fernando Vieira explicou que inicialmente a ideia era formar uma equipa de juniores, mas com a dificuldade em juntar um grupo de ciclistas desse escalão, o director desportivo explicou que "com incentivo do presidente da federação deu para se tentar fazer uma equipa sub-23". Filipe Quintas, presidente da Escola de Ciclismo de Almodôvar lançou o desafio a Fernando Vieira, alguém que bem conhece. "Ele foi meu ciclista, há muitos anos, no tempo do Sérgio Paulinho", recordou.

Na hora de escolher os ciclistas para integrarem o novo projecto, Fernando Vieira optou muito por corredores que subiram a sub-23 ou que tinham um ano neste escalão. Raul Ribeiro é o mais velho, estando já na sua última temporada na categoria. Um dos nomes que sobressai acaba por ser o de Ash Coning. É o único estrangeiro na formação. A mãe veio para Portugal para dar aulas de inglês e o filho, ciclista de 19 anos, vai continuar a sua formação desportiva também por cá. "É super profissional na preparação. A escola que tem é diferente. Ele trabalha à profissional. Não signifique que ande mais do que os outros, mas a preparação que tem é importante, mesmo para os outros os colegas."

"Este ano não tenho ideia de correr muito com a elite. O objectivo é fazê-los crescer nas provas de sub-23"

Além de Coning e Raul Ribeiro, a equipa é formada por: Francisco Duarte (ex-FGP-Cube-Bombarral), Gonçalo Afonso, Luís Gonçalves  e João Guerreiro (ex-Sporting-Tavira-Formação Engenheiro Brito da Mana), João Campos e Francisco Marques (ex-ACD Milharado), Rodrigo Barão e Pedro Costa (ex-SCAV).

"São jovens ciclistas que tenho esperança que possam chegar à elite", realçou Fernando Vieira, que conta na equipa técnica com o director Pedro Barão e o mecânico João Carvalho. Antigo ciclista e com muita experiência no trabalho com juniores, tendo formado equipas em Alcobaça e passado pelos Matos Cheirinhos e também orientou no Bombarral, o director desportivo lamenta que o ciclismo tenha evoluído tanto em Portugal, mas que a nível de sub-23 são muitos os que ficam pelo caminho dada a falta de equipas.

Fernando Vieira dá o exemplo de Espanha, que tem muitas corridas exclusivas para esse escalão, enquanto em Portugal, parte da temporada é feita a competir com a elite. "Este ano não tenho ideia de correr muito com a elite. Volta ao Alentejo, Clássica da Arrábida... O objectivo é fazê-los crescer nas provas de sub-23 para na próxima temporada estarem mais preparados", referiu. Claro que o entusiasmo de correr ao lado dos ciclistas de elite é grande entre os jovens da Crédito Agrícola-Jorbi-Almodôvar, mas Fernando Vieira tenta manter a equipa realista perante as dificuldades em alcançar resultados nesse tipo de corridas. Já nas de sub-23: "Eu tenho a minha táctica para os fazer debaterem-se com os outros."

E a nível táctico Fernando Vieira está confiante que conseguirá tirar o melhor partido dos seus jovens ciclistas. Contudo, a nível de preparação admite ter pedido ajuda, pois afinal muito se tem evoluído nessa área. "Os métodos de trabalho são muito diferentes [de quando era ciclista]. Em termos de preparação pedi ajuda para fazer esse trabalho, embora dê a minha opinião. Há coisas que não achava serem tanto necessário e estar acompanhado por outras pessoas é importante", disse.

"Só escolhem os melhores e não se dá as oportunidades a outros que têm qualidade e que podem também ser os melhores. Mas como não sobressaíram ficariam quase todos parados"

Foi ciclista do Benfica, ganhou a Porto-Lisboa e competiu ao lado de nomes como Joaquim Leitão e Fernando Mendes, além de ter conhecido Joaquim Agostinho ainda enquanto júnior. Desde que terminou a carreira de atleta que se dedicou a ajudar jovens a poderem ter também eles uma ao mais alto nível. A Crédito Agrícola-Jorbi-Almodôvar quer dar mais espaço numa categoria que tem poucas opções quando os corredores concluem o escalão de juniores. "[As equipas] só escolhem os melhores e não se dá as oportunidades a outros que têm qualidade e que podem também ser os melhores. Mas como não sobressaíram ficariam quase todos parados."

Fernando Vieira considera que o feedback dos patrocinadores é de criar uma estrutura que vá além de 2019: "Com as palavras dos patrocinadores, tudo leva a querer que sabem o que podemos fazer este ano e em 2020 compor uma equipa com mais resistência, mas sempre apostando nos jovens."

Na Prova de Abertura Região de Aveiro, no passado domingo, a estreia ficou marcada pela intensa chuva na partida, em Sever do Vouga, o que contribuiu muito para o nervosismo inicial de Fernando Vieira. Porém, a meteorologia foi melhorando e para começar 2019 e a história da nova formação, a equipa viu Gonçalo Afonso terminar na 56ª posição, a 44 segundos do vencedor Rui Oliveira (Equipa Portugal). Francisco Duarte foi 57º e Francisco Marques 60º, a 48 segundos e João Guerreiro 89º, a 7:12 minutos. Luís Gonçalves, Raul Ribeiro e Rodrigo Barão não terminaram.

É tempo de, após as emoções fortes da primeira corrida do ano, regressar aos treinos e o director desportivo destacou como todos têm trabalhado muito e bem neste início de época, mesmo os que dividem o seu tempo com os estudos. O objectivo máximo é ver o trabalho destes jovens transformar-se num contrato com uma equipa profissional no futuro. Mas é no presente que todos estão concentrados, entusiasmados e dedicados em triunfar neste novo projecto do ciclismo nacional de sub-23.


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