6 de fevereiro de 2019

Atenção Froome: Thomas aposta na Volta a França

(Fotografia: Facebook Team Sky)
O desafio está lançado na Sky. Os dois últimos vencedores do Tour vão apostar nessa grande volta, renunciando ao Giro. Apesar de Chris Froome ter dito recentemente que o percurso da corrida italiana é perfeito para o companheiro e que o galês tinha um contas a ajustar com a prova, Thomas quer estar em França com o dorsal 1 de campeão em título, por assim dizer, e com ambição de repetir a vitória. Por mais que se vá ouvir palavras de apoio e respeito entre ambos, afinal há muito que se conhecem e que estão juntos na Sky, a rivalidade será impossível de negar. E a ver vamos até que ponto será impossível de esconder.

"Talvez corra lá [em Itália] no próximo ano, mas este sempre foi a pensar no Tour", afirmou Thomas à BBC, colocando assim um ponto final no rumor que poderia estar a ponderar ir à Volta à Itália. É o primeiro a admitir que, de facto, tem contas a ajustar com a corrida, depois de em 2017 ter caído devido a uma paragem imprudente de uma moto da polícia. Thomas abandonou. Em 2018, sempre foi dizendo que estava a preparar-se para o Tour para o disputar, até porque havia a indefinição de Froome quanto ao caso do salbutamol. Ambos acabaram por ir a França e apesar de se falar em co-liderança, Thomas confessou mais tarde que lhe disseram que o deixariam para trás se algo lhe acontecesse no contra-relógio colectivo. Froome também terá avisado que iria atacar a liderança do colega.

O companheirismo que era tão valorizado em público, era bem diferente na privacidade. Agora Thomas é um vencedor da Volta a França. Froome tem quatro e pode juntar-se ao restrito grupo de elite que detém o recorde de cinco.

Estão definitivamente lançados os dados para uma época diferente numa Sky que sempre teve como foco principal na sua forma de actuar fazer tudo por um líder. Sem divisões, sem lideranças partilhadas. Como irá a equipa funcionar com esta nova situação? Irá escolher um? Se sim, como reagirá o preterido? Uma eventual co-liderança poderá ser um ponto fraco a explorar pelos adversários? A história recente demonstra que lideranças partilhadas tendem a não resultar.

E claro, há que não esquecer que o futuro da equipa está por definir. O patrocínio da Sky cessa no final do ano e começou a procura por quem possa manter este estatuto de poderio financeiro que permite a equipa estar no topo mundial praticamente desde o início do seu historial, na última década. Sair de cena, pelo menos o patrocinador, com um ciclista entre os recordistas da Volta a França poderá fazer pender a balança para Froome. Seja por que ponto se analise, Thomas parece estar do lado mais fraco, mesmo sendo o campeão em título do Tour.

Durante muito tempo, ambos os ciclistas demonstravam uma união que acabava por se transformar em vitórias, principalmente com Thomas a ser gregário, mas também a ter as suas oportunidades em corridas de uma semana. Quando o galês recebeu a liderança do Giro, foi com Froome que fez grande parte dos estágios em altitude. Agora a relação é outra e, a confirmar-se o calendário de ambos, podem nem sequer cruzarem-se em qualquer corrida até ao Tour.

Thomas arrancou esta quarta-feira a sua temporada na Volta à Comunidade Valenciana, tendo sido 13º no conta-relógio individual, a 20 segundos de Edvald Boasson Hagen (Dimension Data). Froome inicia a época na Colômbia, na terça-feira.

2019 trará então uma nova realidade à equipa britânica. As mudanças estão mesmo a acontecer. Começa por esta rivalidade interna - mesmo quando Bradley Wiggins e Froome estavam na equipa, a questão da liderança foi rapidamente definida -, passa pela procura de um novo patrocinador - o que retira estabilidade, pois se demorar a aparecer, os ciclistas poderão "distrair-se" a procurar alternativas para o seu futuro - e termina com a nova geração que pode definitivamente mostrar este ano que está pronta para tomar conta das lideranças nas grandes corridas.

Com esta decisão de Thomas, Egan Bernal vai mesmo ser o número um da Sky no Giro. E as expectativas são enormes para este colombiano de apenas 22 anos, mas com um enorme talento.


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