3 de dezembro de 2017

Um ano em que as atenções dividiram-se entre Uran e o director da equipa

Uran venceu uma etapa no Tour, foi segundo na geral e acabou o ano a vencer
a Milano-Torino (Fotografia: Facebook Cannondale-Drapac)
É difícil escolher uma figura de destaque na Cannondale-Drapac. A dúvida é entre Rigoberto Uran, que regressou ao seu melhor, e Jonathan Vaughters, o director que lá vai conseguindo tirar uns coelhos da cartola e manter a equipa viva, mesmo depois de anunciar que já não dava mais. Se há um exemplo a tirar desta estrutura, é como viver na corda bamba e terminar o ano com um sorriso. Não só sobreviveu, como até conquistou novamente grandes vitórias. Seria perfeito dizer que pode ser o início de uma nova fase, muito mais tranquila e de sucesso, contudo, não deverá ser bem assim.

É justo começar pelo que de bom aconteceu a uma equipa que há dois anos nem uma vitória no World Tour conseguia. Apesar de ciclistas de qualidade, os resultados de destaque não apareciam, nem nas clássicas por Sep Vanmarcke, nem nas grandes voltas por Rigoberto Uran. Enquanto o belga vai ameaçando tornar-se numa expectativa nunca confirmada com vitórias (apesar de estar praticamente sempre na luta e até chegar a pódios), Uran reapareceu e reentra no grupo de ciclistas candidatos a algo mais do que um top dez numa grande volta.

O colombiano foi a grande figura na estrada. A Volta a França que realizou foi fantástica, mesmo que não se goste do facto de jogar muito à defesa. Porém, sem uma equipa para o ajudar como têm Chris Froome e Romain Bardet, Uran jogou e bem as cartas que tinha. Venceu uma etapa e terminou em segundo nos Campos Elísios. Seriam poucos e talvez fossem só na própria equipa que acreditavam que tal era possível. É este o Rigoberto Uran que esteve perto de ganhar a Volta a Itália, foi este o Uran que deixou uma Sky como claro homem de qualidade para ser líder. Aos 30 anos, o colombiano encontrou o equilíbrio no seu ciclismo e foi a nível táctico que mais se notou a diferença. Houve quem o criticasse, inclusivamente outros corredores, mas estar mais à defesa resultou, não resultou?


Ranking: 10º (5748 pontos)
Vitórias: 14 (incluindo uma etapa no Giro e outra no Tour)
Ciclista com mais triunfos: Rigoberto Uran, Pierre Rolland, Alex Howes e Ryan Mullen (2)

Uran acabou o ano a ganhar a Milano-Torino e a pensar se teria de mudar os planos com uma transferência inesperada. Andrew Talansky - que entretanto terminou a carreira precocemente e dedicou-se ao triatlo - foi quem quebrou a seca de dois anos de vitórias no World Tour da Cannondale-Drapac com um triunfo numa etapa na Volta a Califórnia, em Maio. Nem uma semana depois, Pierre Rolland fez ainda melhor e venceu no Giro. Não só a equipa suspirava de alívio, como o próprio francês retirava alguma da pressão que recaia nele, tendo em conta que a sua contratação em 2016 não estava a ser uma aposta ganha.

O problema da formação americana foi que os resultados desportivos não foram acompanhados por tranquilidade nos patrocinadores. Ao surgirem rumores que a Slipstream Sports poderia estar a reformular os seus objectivos e que ter uma equipa no World Tour estava a tornar-se demasiado caro, toda a estrutura abanou. É aqui que surge Jonathan Vaughters, um dos grandes especialistas em arranjar salvações para manter o projecto vivo.

O director da Cannondale-Drapac conseguiu garantir o apoio da Oath, empresa ligada aos meios de comunicação social, que permitiria dar segurança financeira à equipa. Os contratos começaram a ser renovados e tudo parecia tranquilo. Durante a Volta a Espanha o inesperado aconteceu: faltavam sete milhões de dólares (cerca de seis milhões de euros) para garantir a continuidade da estrutura em 2018. Os ciclistas receberam mesmo autorização para negociarem com outras formações. Os que estavam na Vuelta admitiram que até dormiam mal, apesar de a corrida até estar a correr bem, com Michael Woods a terminar no sétimo lugar na geral. Houve quem não perdesse tempo, outros, como Uran deram um prazo para que a situação se resolvesse.

Vaughters até recorreu ao crowdfunding para tentar angariar os sete milhões e o que pareceu ser um acto desesperado e condenado ao fracasso, acabou por ser a solução. A EF Education First soube da iniciativa e acabou por negociar com Vaughters, tornando-se no principal patrocinador. Foi da Suécia que veio a salvação. Mas, só para recordar que no ciclismo nunca nada está seguro, eis que a Oath acabou por retirar o patrocínio. Vaughters apressou-se a garantir que não prejudicaria os planos para 2018.

O trabalho de Vaughters nos bastidores, não foi suficiente para manter Davide Villella e Toms Skujins, por exemplo, mas o resultado de Uran no Tour tornou esta equipa mais ambiciosa, mesmo que o orçamento não permita loucuras. Matti Breschel (Astana) poderá ser mais aposta para as clássicas, mas chegam ainda Mitchell Docker (Orica-Scott), Kim Magnusson (da equipa Continental Tre Berg-Postnord), Daniel McLay (Fortuneo-Oscaro) e o jovem Logan Owen da Axeo Hagens Berman.

O sprinter Sacha Modolo (UAE Team Emirates) é o reforço mais sonante, ainda que dada a falta de resultados nos últimos tempos, haja um enorme ponto de interrogação quanto à sua contratação. Mais importante do que os que chegam, sãor as permanências de ciclistas como Hugh Carthy, Lawson Craddock, Joe Dombrowski e Michael Woods.

Um objectivo da equipa em 2018 será acabar o ano a falar-se do que se fez desportivamente e não tanto de como Jonathan Vaughters trabalhou para salvar a equipa. Mas não se avizinha um ano fácil para a EF Education First powered by Cannondale.

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