5 de dezembro de 2017

Azares, erros tácticos, a polémica do ano e Sagan e Majka a precisar de melhor apoio

(Fotografia: VeloImages/Bora-Hansgrohe)
A Bora-Hansgrohe foi uma das boas notícias para o pelotão de 2017. Com o fechar de portas da Tinkoff e da IAM, a formação alemã veio preencher uma dessas vagas, permitindo que o World Tour não ficasse mais curto. Este foi um projecto que se foi consolidando nos últimos anos, começando como Continental, passando rapidamente para o segundo escalão e nesta temporada não só veio para o nível máximo, como o quis fazer com estrondo. Peter Sagan era garantia de que a equipa seria falada praticamente o ano inteiro, mas foi ainda feita a aposta em Rafal Majka para as grandes voltas. Para Portugal também foi uma equipa importante, afinal tinha o então campeão nacional José Mendes, ciclista já com quatro anos de permanência naquela estrutura.

Apesar de ter ciclistas de qualidade, como Jan Bárta, Maciej Bodnar, Leopold König, Emanuel Buchmann e Jay McCarthy, entre outros, rapidamente se percebeu que Sagan poderia enfrentar um problema que não era exactamente novo na sua carreira: falta de acompanhamento dos colegas em alturas cruciais das corridas. Com um bicampeão do mundo - que acabou o ano como tri - e especialista de clássicas, a Bora-Hansgrohe acabou por ter uma primeira fase da temporada abaixo das expectativas. Entre azares e erros tácticos, Peter Sagan apenas venceu a Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Perder o sprint para Michal Kwiatkowski na Milano-Sanremo foi certamente de difícil digestão, cair na Volta a Flandres e furar no Paris-Roubaix foram duas enormes frustrações. Há épocas assim...

Ainda assim há de realçar que Sagan demonstrou em certos momentos que está a começar a saber aguentar um pouco um ímpeto de tentar ser ele a fazer tudo - atacar, contra-atacar, perseguir -, principalmente quando percebe que apenas está a "arrastar" outros ciclistas com ele e no final, paga o esforço com uma derrota. O que aconteceu com Kwiatkowski foi um pouco isso, ainda que naquela corrida, se Sagan não tivesse arriscado, teria chegada à meta com mais concorrência. Há que saber quando arriscar e umas vezes vai resultar, outras não, mas Sagan percebeu que não pode ser sempre ele a trabalhar.

Rafal Majka padeceu do mesmo mal, a nível de azar e falta de um melhor apoio em momentos cruciais. Muito discreto grande parte da temporada, na preparação da Volta a França, uma queda deixou-o muito mal tratado. Abandonou, a recuperação foi longa e na Vuelta a geral não esteve em discussão, mas foi vencer uma etapa. E é neste aspecto que a Bora-Hansgrohe soube destacar-se: venceu nas três grandes voltas. No Giro foi um início perfeito e de loucos. Lukas Pöstlberger ganhou distância nos metros finais quando preparava o sprint e acabou por ganhar surpreendentemente. A Bora-Hansgrohe ficou ainda com todas as camisolas em disputa na sua posse. Por um dia, é certo, mas para quem fazia a estreia em grandes voltas como equipa do World Tour, a fase menos boas das clássicas começava a ficar para trás.


Ranking: 8º (6516 pontos)
Vitórias: 33 (incluindo uma no Giro, duas no Tour e uma na Vuelta)
Ciclista com mais triunfos: Peter Sagan (11 mais o título mundial)

No Tour, foram mais duas vitórias e muita (mas mesmo muita) polémica. Peter Sagan ia atrás de mais uma camisola dos pontos - igualaria Erik Zabel -, mas acabou expulso da corrida depois do incidente com Mark Cavendish. No sprint, o britânico tentou forçar passagem e o eslovaco levantou o cotovelo, provocando a queda aparatosa de Cavendish. Inicialmente o castigo foi a desclassificação na etapa e a retirada de pontos para a respectiva classificação. Parecia ter ficado por aí, mas a organização foi mais longe. Rude golpe que Sagan não esquecerá, mas que ultrapassou ao regressar mais tarde a fazer o que faz melhor: vencer. 

A equipa recorreu de imediato ao Tribunal Arbitral do Desporto para tentar que o eslovaco fosse reintegrado no Tour, mas sem sucesso. No entanto, o caso prosseguiu, mas no dia em que deveria ser avaliado novamente,esta terça-feira, foi anunciado que a Bora-Hansgrohe e a UCI que não se iriam prosseguir legalmente com o caso. "Ambos os lados concordaram que 'a queda foi um incidente infeliz e sem intenção e os comissários da UCI formularam a sua decisão baseada no melhor julgamento dadas as circunstâncias'", lê-se no comunicado.

Entretanto, o presidente da UCI, David Lappartient, anunciou que haverá um comissário extra nas grandes corridas, naquele que é considerado um dos passos que o organismo deve dar, pois o caso de Sagan está a ser visto como um exemplo que é preciso evoluir também neste tipo de avaliações e decisões.

Regressando à temporada da Bora-Hansgrohe, Maciej Bodnar foi ainda vencer o contra-relógio no Tour, mas a equipa acabaria o ano a vangloriar-se pela confirmação de um sprinter. O irlandês Sam Bennett está inevitavelmente na sombra de Sagan - poucos são os que não estão -, mas soube aproveitar as oportunidades que lhe foram dadas. O eslovaco soma 11 vitórias, mais o título mundial em Bergen. Bennett venceu por dez vezes, com o primeiro triunfo a ser de destaque, pois aconteceu no Paris-Nice. Cinco das vitórias aconteceram na Volta à Turquia, onde foi completamente dominador nos sprints. Perante o rendimento, em 2018 poderemos ver mais deste irlandês de 27 anos e perceber como será no frente-a-frente regular com os grandes nomes do sprint... Se Sagan deixar!

Quanto a José Mendes, o português manteve a regularidade habitual, sendo sempre um ciclista de confiança. No Giro teve espaço para se mostrar, pois a Bora-Hansgrohe perdeu König pouco antes da corrida por lesão e não tinha um líder assumido. O então campeão nacional (quarto na corrida de Gondomar, no seu melhor resultado do ano) foi 48º a mais de duas horas do vencedor, Tom Dumoulin. Ainda assim, objectivo cumprido, pois era o sonho de José Mendes estar em Itália e pode agora dizer que fez as três grandes voltas. E terminou-as sempre. Infelizmente a passagem pelo World Tour acabou por ser curta para o ciclista português, que irá agora representar a Burgos-BH, formação que irá subir a Profissional Continental.

A Bora-Hansgrohe está claramente a querer tornar-se numa das equipas mais fortes do pelotão e aposta em nomes como Peter Kennaugh (Sky), Davide Formolo (Cannondale-Drapac) e Daniel Oss (BMC) para a próxima temporada. Ter ciclistas de elevado nível em redor dos líderes e que também sejam opção para lutar por vitórias é um claro objectivo. A Bora-Hansgrohe será uma equipa a seguir com atenção em 2018 e não só por ter Peter Sagan, pois se aprender com os erros que cometeu e os seus ciclistas não serem perseguidos por quedas e outros azares poderá alcançar mais do que as 33 vitórias deste ano ou, pelo menos, ter algumas ainda mais relevantes.

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